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“A carga emocional do enterro afecta-me muito”

“A carga emocional do enterro afecta-me muito”

José Brás é agente funerário em Vila Franca de Xira

As tarefas burocráticas relacionadas com os preparativos para os funerais ocupam-lhe a maior parte do tempo. “São muitos requerimentos, certificados e certidões de óbitos, contactos com a junta de freguesia, o cemitério, o padre…”, explica.

Tem 34 anos e o ar jovem não lhe denuncia a profissão. José Brás é agente funerário e não é novato: já lá vão dez anos desde que entrou no negócio e, passada uma década, está convicto de que fez a escolha certa. “Nunca pensei ser agente funerário mas, sinceramente, gosto muito do que faço”, confessa, rejeitando as ideias pré-concebidas que a maioria das pessoas tem da sua profissão. Para José Brás, ser agente funerário não é deprimente nem mórbido, mas antes uma forma de ajudar as pessoas num momento difícil das suas vidas. “Apoiamos as pessoas quando mais precisam e isso faz-nos sentir úteis”, explica.Tudo isto começou por acaso. Conhecia os donos da agência funerária Machado, em Vila Franca de Xira, e como não gostava do emprego que tinha na altura (era técnico de robótica), decidiu empregar-se na agência funerária. “Quando comecei as pessoas achavam muito estranho. Alguns ainda hoje acham”, confessa, acrescentando que a família ainda hoje não vê com muito bons olhos a sua profissão. E apesar de encarar o seu dia-a-dia profissional de forma normal, José Brás confessa ter momentos mais difíceis. “ Há coisas que me fazem muita confusão, como quando morre uma pessoa jovem ou um bebé. Para além disso, toda a carga emocional do funeral afecta-me muito. Não sou frio. Mas tento alhear-me”, frisa.Quando não está na agência funerária, tenta não pensar muito no trabalho. Pratica desporto, vai ao cinema e passa o tempo livre com os amigos e a namorada. As conversas acabam por fugir muitas vezes para a profissão de José, por ser tão pouco comum nos jovens. “Falamos do assunto muitas vezes porque os meus amigos têm muita curiosidade e fazem perguntas. Eu respondo mas nunca sou eu a puxar a conversa”, refere. Quando sai do trabalho, tenta não ir para casa deprimido ou levar consigo as emoções de um dia menos agradável. A não ser que tenha tido que lidar com a morte de algum jovem. “Nessas situações, é sempre mais complicado”, confidenciaA profissão é pouco comum mas o dia-a-dia é igual ao de muitos outros. “Faço um horário normal e organizo tudo o que diz respeito ao funeral”. Segundo José Brás, os funerais têm uma grande componente burocrática, o que acaba por absorver a maior parte do seu trabalho. “São muitos requerimentos, certificados e certidões de óbitos, contactos com a junta de freguesia, o cemitério, o padre.”, enumera. “É um trabalho bastante abrangente”.José Brás organiza cerca de quatro ou cinco funerais por semana. As contas podem variar muito. O funeral social – o mais barato – custa 556 euros. Depois pode até passar dos mil euros, consoante as escolhas que são feitas, em coisas como o tipo de madeira da urna, por exemplo, explica. De acordo com o agente funerário, no ano passado houve mais óbitos do que este ano. No entanto, o negócio está estável, sem grandes variações. “As pessoas têm é cada vez menos poder de compra e escolhem coisas mais baratas ou até muitas vezes têm dificuldade em pagar”, refere.Pode não ser a profissão de sonho da maior parte das pessoas mas José Brás garante estar feliz com a sua escolha. Se um dia tiver filhos e eles escolherem seguir-lhe as pisadas, diz que vai achar bem. “Não me vou intrometer nas suas escolhas”, assegura.
“A carga emocional do enterro afecta-me muito”

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