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Calçada portuguesa ajuda a limpar cabeços da Serra de Aire

Calçada portuguesa ajuda a limpar cabeços da Serra de Aire

Nova legislação obriga proprietários a fazer planos de recuperação paisagística
Os cabeços da Serra de Aire, onde é feita a extracção de calçada portuguesa, vão começar a ser limpos de uma forma mais regular a partir deste ano, depois da aprovação de um estudo de impacto ambiental conjunto para a actividade. “Uma pessoa anda a partir pedra durante uma série de anos, mas agora temos de limpar o que fazemos”, desabafou Manuel Calvário, sentado ao sol a cortar com o martelo os paralelos de calçada que as grandes cidades utilizam.A pedra negra, mais valiosa, sai das entranhas de Alqueidão da Serra, Porto de Mós, enquanto a branca vem da freguesia mais a sul da Mendiga, também no mesmo concelho. “Podemos fazer da pedra o que se quiser: é só apanharmos o veio”, disse outro pequeno produtor.A pedra é cortada e retirada com máquinas mas depois é o trabalho manual que dá forma aos paralelos, sejam eles de que tamanho for. “Olhamos para a pedra e vemos o que dá para fazer. Mas também é de acordo com as encomendas que temos”, explicou Manuel Calvário, que há 40 anos passa várias horas por dia sentado no chão a partir o calcário com o martelo.A nova legislação entrou em vigor este mês e para que as explorações estejam legalizadas é necessário que sejam feitos planos de recuperação paisagística dos locais onde estão instaladas. No caso da calçada portuguesa, as explorações laboram até um máximo de dez metros de profundidade e, quando as pedreiras avançam para outros locais limítrofes, parte do espaço já rasgado terá de estar requalificado. “Só podemos ampliar desde que parte da zona onde trabalhámos esteja arranjada”, explicou Francisco Santos, outro proprietário de pedreiras da zona. Esta questão irá resolver algumas “feridas” abertas na serra por pedreiras antigas e alguns proprietários já começaram a limpar os terrenos, enchendo-os de pedra e entulho de explorações vizinhas. “Há muito desperdício de pedra com esta actividade porque partimos tudo à mão. O que fica pode ser de novo colocado nos buracos”, explicou Manuel Calvário. Na sua exploração, os anos de trabalho foram feitos uma escarpa no cabeço de pedra mas acredita que a zona até vai ficar melhor. “Fica tudo plano e direito. É mais simples para o que aqui se queira fazer depois e não fica feio”, salientou.Depois, o buraco cicatrizado é coberto por terra para permitir a reutilização agrícola desses cabeços. “Já há couves plantadas em antigas pedreiras e as coisas, a pouco e pouco, fazem o seu caminho”, explicou Francisco Santos. Só na zona da Mendiga foram requalificados mais de cem hectares de pedreiras, sob a fiscalização da direcção do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros. “Quem passar por lá nem nota que aquilo já foi pedreira”, explicou Francisco Santos.A mesma opinião tem Maria do Rosário Simões, moradora da Mendiga, salientando que o sector da pedra é decisivo para a população local. “Aqui as pessoas vão para a pedra porque não temos mais nada, nem turismo nem outras indústrias”, desabafou esta trabalhadora reformada do sector. Posição semelhante tem Manuel Calvário que agradece à natureza ter colocado pedras calcárias na serra: “caso contrário, tínhamos todos de emigrar porque a agricultura não dá, só nascem calhaus da terra”.
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