uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“O PS não tem sido uma oposição forte”

“O PS não tem sido uma oposição forte”

Joaquim Botas Castanho critica o apagamento a que o seu partido esteve sujeito e diz que falta obra feita à gestão de Moita Flores

Com a autoridade moral de quem deixou obra feita como vereador e vice-presidente do município e com a legitimidade política que lhe confere a antiga militância socialista, Botas Castanho não esquece o assalto ao poder no PS de Santarém escalabitano que levou à queda do então presidente da câmara Miguel Noras e à ascensão de Rui Barreiro. Quanto ao actual presidente da câmara, Moita Flores (PSD), diz que devia ter mais cuidado na selecção dos investimentos e que o mundo não é só festas.

Deixou a política activa no início de 2002. Não sentiu entretanto o apelo para voltar?Não. E não teve sequer a ver com aquelas coisas que se passaram internamente no PS, daquelas divisões que se estava mesmo a ver que podiam acontecer. Porque é muito fácil dentro de uma assembleia de 20 ou 30 pessoas arranjar uma dúzia ou duas de pessoas que por uma razão ou outra – uns porque lhes prometem mundos e fundos, outros porque estão descontentes – arranjar uma maioria. Isso é pacífico.Houve um assalto ao poder dentro do PS nessa altura?Pois, por essa forma fácil. Difícil é depois construir, fazer, ser capaz, mostrar serviço e capacidade para continuar. E isso infelizmente não aconteceu.O sistema tem essa fragilidade de um pequeno grupo poder tomar conta do aparelho partidário.É um problema das democracias representativas. Tudo bem se isso for para conseguir realmente chegar a um bom resultado e conseguir eleger depois pessoas com capacidade para construir algo e fazer até melhor que os que estão. Mas quando assim não é, é mau.Miguel Noras, na altura, foi injustiçado pelo PS por não lhe dar a possibilidade de se recandidatar à câmara?(pausa) Acho sinceramente que o José Miguel Noras na altura teve algumas hesitações. Porque se tem assumido frontalmente a tempo e horas que se queria recandidatar, isso não tinha acontecido. Ele teria preparado as coisas para isso não acontecer. Quando pensou em recandidatar-se digamos que o castelo já estava assaltado, já tinha as paredes derrubadas. O senhor passou ao lado dessas convulsões.Independentemente disso, já há muito tempo que tinha para mim que a política acabava, com José Miguel Noras ou sem ele. Até porque entretanto tinha a minha vida estável, os netos tinham nascido e eu queria fazer as coisas de que realmente gosto.Acha que Miguel Noras tem condições, agora, para voltar a ser candidato à Câmara de Santarém?Ele é o presidente da comissão política concelhia do PS, não é? Portanto, querendo, tem sempre condições...Abstraindo-nos dessa lógica partidária...Uma pessoa com as capacidades de trabalho que todos lhe reconhecemos, e com convicções muito fortes, querendo verdadeiramente com certeza que tem condições.Como viu o seu regresso à actividade política em Santarém?Estou a ver que o partido está a adquirir uma dinâmica que anteriormente não tinha. O PS de Santarém esteve muito paralisado nestes últimos anos e agora estou a vê-lo a aparecer, com organizações, debates, encontros.Enquanto militante de longa data, como viu esse apagamento do partido e também qual foi o seu nível de participação?O meu nível de participação a nível local foi nulo. Sou militante de base.Limita-se a pagar as quotas?A pagar as quotas e a acompanhar atentamente a situação. Em bom rigor, mais a nível nacional que a nível local, porque tomei essa decisão de não voltar a desempenhar quaisquer cargos. Sou militante e em termos ideológicos convictamente socialista, mas não tenho qualquer participação.Não move influências nos bastidores, não dá conselhos?Não, isso já passou. Tive os cargos todos no partido desde a comissão local até à concelhia e distrital. Estive no secretariado distrital muito tempo, também na comissão política nacional alguns anos, mas quando decidi sair foi para nunca mais entrar.Não lhe interessam os jogos internos de poder?Não. Acho e desejo acima de tudo que o partido encontre dirigentes activos, dedicados, que possam realmente pôr acima de tudo os interesses e a defesa do concelho e da região.O PS tem feito uma boa oposição?Acho que é notório para toda a gente que não. Tem estado muito parado, não tem sido uma oposição forte. Pode ser que as coisas agora mudem. O que tem faltado a esse nível?Faltou durante muito tempo tomadas de posição muito claras de oposição. Faltou denunciar o que está mal, denunciar algumas opções tomadas e apontar soluções alternativas mais credíveis e que correspondam a necessidades mais prementes da população. O PS de Santarém vive uma crise de renovação de quadros?Acho que não. Creio que há bons quadros que precisarão de ser motivados e atraídos.Porque é que ficou tão “escaldado” com a política, ao ponto de dizer que nunca mais voltará?Foi uma questão de opção, muito consciente, pensada muito tranquilamente. Cada coisa tem as suas fases.Não gostava da exposição pública a que estava obrigado, da disponibilidade de agenda…Quem vai para esses cargos deve à partida saber que tem de optar. E ao optar-se por uma coisa tem de se deixar outras de parte. Quem opta por candidatar-se a um cargo político já sabe que os seus hobbies, a sua família, os seus gostos ficam sacrificados. Ninguém pode dizer depois que não vai aqui ou acolá ou que não está a tempo inteiro porque prefere estar com a família, ir ao cinema… É preciso algum espírito de sacrifício.Isso tem de ser visto anteriormente. É por isso que eu sempre quis esse percurso na política limitado no tempo. Aliás tive oportunidade de ser deputado e não quis, porque gostava do que fazia nos serviços regionais de saúde e também da minha relação familiar e dos meus hobbies. Só aceitei esse desafio para a câmara, mas sempre nessa perspectiva limitada, porque as outras coisas estavam em suspenso. Agora, enquanto estive lá tenho a consciência tranquila pois dediquei-me totalmente.O exercício do poder político não o fascina?Sinceramente não. Foi quase um acidente ter ido para a câmara e ter aceite o desafio do José Miguel Noras. E se ele lhe lançasse novo desafio?Agora não. Isso está fora de hipótese.“Falta obra feita em Santarém”O que mudou para melhor e para pior em Santarém desde que deixou a câmara?Posso referir-me a um aspecto que me tocou, porque era presidente do Círculo Cultural Scalabitano na altura. Um aspecto em que acho que o anterior executivo falhou foi nos compromissos com as associações. Há troca de serviços, no caso do Círculo com actuações do Coro, da Orquestra Típica, do Veto Teatro Oficina que tinham as contrapartidas financeiras. E o executivo deixou atrasar espectacularmente essas contrapartidas. Criaram-nos situações de angústia tremenda de rotura da tesouraria. Presumo que isso tenha acontecido com as outras associações. Essa situação melhorou substancialmente com este executivo. Isso não quer dizer que concorde com tudo o que está a ser feito.O que acha de tantas festas na cidade?Se calhar é um bocado excessiva essa carga festiva e de diversão. O mundo é muito mais do que isso. Não se vê também muita obra, mas temos de reconhecer os problemas financeiros gravíssimos da autarquia. Não se vê muitos projectos a avançar, o que é negativo. Que medida ou obra é que gostaria que já tivesse sido concretizada?Creio que o grande desafio da cidade é a requalificação do Campo Infante da Câmara. Pelos anos a que se arrasta, por ser um espaço nobre da cidade e pelos custos que tem para toda aquela zona, com pó durante o Verão e lama no Inverno, já era tempo de ser feito alguma coisa ali. Era fundamental.A visibilidade que o presidente da Câmara de Santarém tem pode constituir uma mais valia para a cidade e para o concelho?Constitui uma mais valia indiscutível para ele próprio, como possível candidato. Se daí advém algum benefício para o concelho, não estou a ver. Tem essa faceta muito mais conhecida, embora seja mais importante numa fase inicial. Agora que já é conhecido de toda a população, não sei se as idas frequentes à televisão adiantarão alguma coisa. Não sei agora é como a população encara isso em termos de tempo ocupado com essas actividades, necessariamente em detrimento das actividades como presidente da câmara. É aqui que se põe o dilema.Que expectativas é que tinha relativamente a Moita Flores como presidente da câmara? Fundamentalmente existia uma expectativa, dar um bocado o benefício da dúvida e ver para depois julgar. Há sempre um período de ponderação, de ver para crer. Nada de precipitações. Em relação ao que estava, as expectativas não tinham de ser muito negativas. E de facto algumas coisas terão melhorado, embora noutras haja algumas expectativas goradas. Esperava-se que fossem mais além e que houvesse mais cuidado na selecção dos investimentos.
“O PS não tem sido uma oposição forte”

Mais Notícias

    A carregar...