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Imigrantes gostam da festa mas não são aficionados

Imigrantes gostam da festa mas não são aficionados

Uns têm pena do touro e outros gostariam que a alegria das pessoas fosse contínua
Os imigrantes que vivem na Azambuja gostam da agitação da Feira de Maio mas não se arriscam a enfrentar os touros durante as largadas. As pessoas na rua, o folclore e a animação musical agradam os novos cidadãos da vila, mas o sentimento geral é de um afastamento das tradições taurinas.Todos os anos, antes de cada largada de touros na Feira de Maio de Azambuja, os altifalantes alertam os visitantes para terem cuidado com o touro e manterem uma distância de segurança. Para além do português de Portugal, o mesmo aviso é emitido em português do Brasil (diz que “não dá para dançar o samba no meio da rua” e em ucraniano. Ainda assim, os imigrantes que vivem na vila identificam-se pouco com a tradição. Liu Jian Jing é chinesa, tem 30 anos, e tem uma loja na Azambuja há nove. A primeira vez que viu um touro foi na Feira de Maio – “a China só tem vacas, não tem touros” - mas não gosta muito das largadas. “No primeiro ano fui ver o touro, mas depois já não quis voltar a ver”, conta a O MIRANTE. Não ficou assustada da primeira vez que assistiu a uma largada, nem foi apanhada de surpresa, porque os clientes já lhes tinham explicado o que ia acontecer. “Na China não há assim festa, vem muita gente para a rua e disso eu gosto”, confessa Jing.O tipográfico brasileiro Gilson Meira considera perigosa a imprevisibilidade dos touros. “Há muitas pessoas que começam a beber e criam coragem e se não tiverem cabeça torna-se muito perigoso”, explica. O jovem de 25 anos gosta de ver os touros e a sua maneira de agir mas não tem coragem de “ir lá para o meio”. Na Baía, região brasileira de onde é originário, não há tradições parecidas mas Gilson Meira gostava que as festas da Azambuja tivessem rodeio à americana e que recebessem alguns cantores brasileiros.Yuriy Voloshchuck é ucraniano e acha as tradições taurinas “um bocado violentas”. Tem pena do touro. Por isso mesmo nunca se colocaria à frente do animal. “É completamente estranho porque na minha terra não há nada disto. Achei estranho mas habituei-me”, afirma o jovem desempregado que está em Azambuja há oito anos. “Na Ucrânia não há este tipo de festa, a cultura é diferente. Não fazem nada disto nem nada parecido, festa é só em casa, com a família”, complementa.Há outro pormenor que Cejomário Coimbra, brasileiro de 35 anos, acha estranho na Feira da Maio. “A festa empolga as pessoas mas depois de acabar as pessoas deixam de estar alegres, como se toda a gente só se pudesse rir durante a Feira de Maio. Na minha região [Minas Gerais, Brasil] a festa é o ano inteiro, não que dure o ano inteiro, mas quando a festa acaba a alegria continua”, explica. São esses cinco dias de alegria que o fazem relacionar a festa com a alegria do Brasil. Cejomário, que trabalha num atelier de pintura com três irmãos, acha muito corajosas as pessoas que enfrentam o touro mas não gosta da “tristeza do touro”. Toda a gente está alegre e eu não sei se o touro está. Não sinto atracção por esse lado da festa. Agora as pessoas na rua, as vestimentas tradicionais, o fado… tudo isso me fascina”, assume.
Imigrantes gostam da festa mas não são aficionados

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