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A menina que foi estudar para a metrópole

É uma mulher serena de 59 anos que detém a pasta da cultura no município de Vila Franca de Xira. Conceição Santos nasceu em Trancoso, na Guarda, mas partiu para África com tenra idade. Só regressou pouco antes de completar 17 anos para se sentar nos bancos da Universidade de Coimbra. Em Benguela não existia o curso de Germânicas. “Vir para Portugal foi o meu primeiro acto de rebeldia”, confessa. Aterrou sozinha no aeroporto de Lisboa. A mentalidade portuguesa foi o primeiro choque para a jovem que estava habituada à vivência em Angola. Aos grandes espaços, à sã convivência entre famílias. Nas férias regressava a Luanda.Em 1974, quando os pais e os três irmãos, tiveram que regressar à metrópole, à semelhança de muitas outras famílias, Conceição Santos esperava-os no aeroporto. Sem que os pais soubessem trabalhou nos dois últimos anos do curso e o dinheiro que o pai enviava foi guardado numa conta. “Quando chegaram era o único dinheiro que tinham”, recorda a jovem que passou um ano a estudar em Londres para aperfeiçoar o Inglês em Cambridge. O dinheiro que poupou serviu para o irmão mais velho que é médico se instalar em Cantanhede. Tem duas filhas. Uma jurista e outra enfermeira. “Agora são elas que me apoiam a mim”, diz com orgulho a mãe que apesar de ter trabalhado sempre entre 12 a 14 horas fez questão de nunca descurar a atenção às filhas. “Tinham duas cadeirinhas e sentavam-se a conversar enquanto a mãe tomava banho e conversava com elas. Todos os momentos eram aproveitados”, ilustra. O marido é um pilar importante que ajuda nas tarefas domésticas da casa, na Póvoa de Santa Iria, para onde foi trabalhar como professora. Desde cedo dispensou a mulher-a-dias. As filhas habituaram-se a ajudar em casa. “Há uma máquina de lavar roupa que às vezes deveria estar a trabalhar a altas horas, mas por respeito a todos aqueles que vivem no edifício não o posso fazer”, diz com humor. Coordenou formação de professores, foi professora de inglês e português e mesmo como presidente do conselho executivo nunca deixou de ter a sua turma. Duas semanas na 24 de Julho a dizer que não podia aceitar um cargo daqueles não valeram para tentar convencer o director geral do ensino básico. “Venceu-me pelo cansaço”. Continua a trabalhar fora de horas como vereadora. No pouco tempo livre dedica-se a recordar a paixão por Shakespeare. Nunca deixa de voltar às obras que já conhece. “Cada livro que se relê é um novo livro”, garante.

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