uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

“O Ribatejo tem potencialidade turística, só falta o investimento”

Gonçalo Cadilhe esteve em Salvaterra de Magos a falar sobre as suas viagens

O escritor Gonçalo Cadilhe - que relata nos seus livros as aventuras de viagens pelos quatro cantos do mundo - acredita que o Ribatejo tem mais interesse cultural, histórico e paisagístico que alguns destinos internacionais, como o Dubai. Potencialidade não falta à região, diz o especialista. É tudo uma questão de investimento.

É licenciado em Gestão de Empresas. Como surgiu a paixão pelo jornalismo?A licenciatura em gestão de empresas foi um erro na minha vida (risos)... No nono ano tínhamos que enveredar por uma área, eu era muito novo, não sabia o que queria e escolhi Economia. Os meus pais empurraram-me para uma área que achavam que poderia ser vantajosa para o futuro. Segui as indicações. O jornalismo surgiu como uma actividade que financia a minha paixão pelas viagens e por um modo de vida muito livre. Escreve por prazer ou apenas para alcançar conforto financeiro?Quando tenho uma boa ideia e estou entusiasmado escrevo por prazer. Quando tenho uma data a cumprir e uma responsabilidade a que não posso faltar e não tenho uma ideia boa não posso dar-me ao luxo de esperar por ela.Viajar pelo mundo à procura de uma história é uma forma diferente de ser jornalista?Questiono-me sobre se o que faço é jornalismo. Apesar de ter carteira de jornalista talvez não o seja. No jornal Público, por exemplo, há uma rubrica de que gosto imenso que é a banda desenhada do Calvin e Hobbes. O autor, Bill Watterson, publica todos os dias nos jornais uma tira dessa Banda Desenhada, mas trabalhar para um jornal não faz dele um jornalista. Também trabalho para um jornal, mas não me considero um jornalista. Apesar da minha designação ser repórter penso que a definição mais correcta seria cronista de viagens.Tem consciência de que é uma profissão invejada por muitos.Pela profissão penso que é uma patetice ser invejado, agora pelo modo de vida acho que é uma honra ser invejado. A minha forma de viver é dura, dá pouco dinheiro e é muito despojada materialmente, mas a nível espiritual é muito rica e por isso sinto-me contente.O que o levou a deixar a família e os amigos e partir à aventura?Não foi uma decisão repentina. Não foi acordar de um dia para o outro e decidir partir. Foi uma corrente na minha vida que já vinha desde miúdo. Sempre gostei do ar livre, ver horizontes abertos, acampar. Os meus pais contam que quando eu era criança compraram uma trela para me segurarem e estarem mais descansados porque sempre que apanhava uma praça ou um adro onde podia correr desaparecia imediatamente.Como é que os seus pais reagiram à sua escolha?Muito mal. Mas agora já perceberam que é isto que gosto de fazer e aceitam apesar da minha mãe ficar sempre muito preocupada quando tenho que viajar.O que conhece do Ribatejo?Conheço algumas localidades, mas não todo o Ribatejo.É uma região que deveria atrair mais turistas?Considero que o turismo é uma construção mental, um trabalho de marketing. As potencialidades estão relacionadas com o dinheiro que se investe num destino. Na minha opinião, a maior palermice como destino turístico, actualmente, que é o sítio mais concorrido é o Dubai. Aquilo não tem nada mas, no entanto, cada vez mais pessoas vão para lá porque foram condicionadas para isso devido à publicidade. Felizmente o Ribatejo tem muito mais interesse cultural, histórico, paisagístico e artístico que o Dubai. Potencialidade não lhe falta. É tudo uma questão de investimento.O que é que não dispensa em viagem?Não dispenso o bilhete de regresso porque é isso que dá sentido. O que define a viagem é o regresso. Fechar a porta, o livro, o passaporte. Terminar a viagem. Os livros de viagem são uma arte menor da literatura?Depende de quem os escreve. Não tem a ver com a viagem, mas com o autor. A maior referência da cultura ocidental é um livro de viagens, “A Odisseia” de Homero. A partir daí tudo o que existe na nossa cultura surgiu.O que mudou na sua vida depois de conhecer outras culturas?É um processo muito gradual. A primeira vez que comecei a viajar para fora de Portugal ainda nem sequer andava na universidade e nunca mais parei. Formei-me enquanto viajava por isso não posso falar de uma mudança, é tudo muito gradual. Não sei o que eu seria hoje se não tivesse passado por estas viagens. Sou completamente aquilo que fiz ao longo da vida e a viagem já vem de há tantos anos.Viajar é a sua verdadeira paixão?A minha verdadeira paixão é viver e das coisas que sei fazer melhor na vida é viajar, tocar viola, ler, escrever, fazer surf e tudo o que contribua para alimentar essa paixão que é viver a vida intensamente.Nunca sentiu vontade de ficar?Sim, sim. E fiquei todo contente com esse desejo de ficar que me obrigou a regressar passados alguns anos. Sempre regressei aos sítios em que fui feliz.Do que é que tem mais saudades quando está fora?Não tenho saudades porque isso estraga-me a vida. Ter saudades é estar a querer viver num outro lugar e num outro tempo diferente daquele em que estamos a viver, o que é uma patetice.Qual foi a viagem que mais o marcou?Tenho sempre a mesma resposta para esta pergunta. A viagem que mais me marca é sempre a próxima viagem.Porquê?Para não me esquecer que tudo o que quero fazer é o que está para a frente e não o que está para trás.Qual foi a experiência mais marcante que teve na vida?Aos oito anos ter entrado para os escuteiros e, três semanas depois, estar de mochila às costas e dormir numa tenda no meio das montanhas. Penso que ter este tipo de experiência aos oito anos deve ser muito mais marcante do que aos 35 dar uma volta ao mundo sem aviões.

Mais Notícias

    A carregar...