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Luís Vasconcellos e Souza

Luís Vasconcellos e Souza

53 anos, engenheiro agrónomo

Nasceu em Lisboa a 31 de Janeiro de 1955 mas trocou a capital pela vila da Golegã, onde reside há trinta anos. É presidente da Agromais, com sede em Riachos, há duas décadas. É casado e tem dois filhos. Considera-se uma pessoa feliz porque gosta muito do que faz. Diz que no campo é capaz de sorver a vida.

Sou presidente da Agromais há vinte anos. É uma união de cooperativas dos produtores agrícolas da Região do Norte do Vale do Tejo. Trabalho sobretudo na estratégia da empresa. Pensar, acordar e negociar. Sou engenheiro agrónomo de formação. Já fiz trinta anos de curso. A minha familia tinha aqui uma propriedade na Golegã e vim em 1978. Fiquei por cá. Do ponto de vista agrícola o Vale do Tejo é a melhor zona de Portugal. O campo melhora a cabeça das pessoas. Os meus filhos gostam do campo. E eu gosto que eles gostem do campo. É importante as pessoas perceberem a génese e a biologia da vida. Muitas vezes vemos urbanos a falar de natureza, que é uma coisa que eles só conhecem ao fim-de-semana e que não é o mesmo que viver no meio da natureza. Há gente a mais a falar de coisas que não vive. Costumo dizer que as pessoas se dividem em dois grupos: as que gostam de viver na Golegã e as que têm pena de não viver na Golegã. Aqui há muita qualidade de vida. É uma vila animada de campo. É pacata, genuína e está muito bem arranjadinha. Passo um ou dois dias por semana em Lisboa mas tenho a minha residência aqui. Se pudesse vinha cá dormir todos os dias. O ministro da Agricultura não percebe do sector. E não está interessado em que as pessoas do sector estejam com ele. Na prática estamos a passar por uma fase de subalternazição da agricultura. Os empresários agrícolas sentem-se maltratados. Acham que há um ministro que vai à televisão dizer mal deles e não percebem, sequer, porquê. A agricultura acabou por ser gerida por pessoas da secretaria da agricultura. Em pequeno queria ser agrónomo ou médico. Resolvi ser agrónomo. A opção foi tomada durante um passeio de fim de tarde a cavalo, aqui na Golegã. Não estou arrependido apesar de sentir que a vida que eu gostava do campo é uma vida que hoje em dia já não se faz. Portugal transformou-se num país urbano e o campo acaba por ser uma coisa subalternizada e que, mais dia menos dia, se vai reduzir a um mero passeio dos urbanos. Em Portugal há mais pensadores que executantes. Eu sou um pensador que executa. Não era capaz de ser um executante vinte e quatro horas por dia. Fazer aquilo que gosto foi essencial para o percurso da minha carreira. Acho que a felicidade é isso. No fundo, a vida é a maneira como nos direccionamos no meio dos outros. Eu sou uma pessoa feliz. O que gosto mais no campo é a ideia de que estou a fazer aquilo que gosto. No campo posso ter a capacidade de sorver a vida e aproveitá-la ao máximo. As pessoas fogem das cidades porque nas cidades acabam por ter pouca vida própria. Vivem contrariadas nas cidades. Falo por experiência. Vivi em Lisboa até aos meus 20 e poucos anos e acho que estar bem nas cidades é um privilégio que já não calha a muita gente.
Luís Vasconcellos e Souza

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