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Museu do Neo-Realismo à procura um mecenas

David Santos revela que as iniciativas de auditório vão reduzir para menos de metade
O Museu do Neo-Realismo de Vila Franca de Xira abriu portas no coração da cidade, mas não conquistou uma diversidade de público através das portas envidraçadas viradas para a rua. Há quem passe alheado ou entre apenas para um café. A programação de auditório vai reduzir para menos de metade, mas o director do museu, David Santos, não desiste do projecto. O próximo passo é encontrar um mecenas para a casa da cultura da cidade.O museu do neo-realismo abriu portas há seis meses. Que balanço para o primeiro semestre?As expectativas foram superadas atendendo à realidade de se tratar de um museu situado na periferia de Lisboa. Não estamos em Lisboa ou Porto. As instituições museológicas têm grande dificuldade em sobreviver fora das grandes cidades. Temos tido uma média de 1300 visitantes por mês, o que é positivo. Os primeiros seis meses foram de grande intensidade de programação. Está previsto algum abrandamento?Vamos abrandar porque há necessidade de adequação à resposta da população. Teremos duas ou três iniciativas de auditório por mês. Quando já tivemos uma média de 6, 7 e 8. Houve intenção de tentar perceber se haveria públicos diferentes para iniciativas diferentes. Em arquitectura e política tínhamos a esperança de ter mais arquitectos. Acabam por vir à iniciativa de arquitectura as mesmas pessoas que vão ao recital de poesia. Vila Franca não consegue dar resposta a isso. Não conseguimos chamar públicos diferentes. Não lhe chamaria abrandamento, mas correcção à resposta da população, mas o museu manterá vai aumentar as iniciativas no átrio. Muitas vezes as pessoas andam tão preocupadas com o pouco dinheiro que têm que pouco espaço há para a arte. Julgo que é importante que um projecto museológico e cultural como este aposte na persistência. É preciso fazer caminho. Naturalmente há factores que contribuem para um certo afastamento das pessoas relativamente a iniciativas de debates e espectáculos que são gratuitos – todas as iniciativas deste museu são gratuitas e mesmo assim por vezes temos algumas sessões com menos público. Há grande dependência da inanidade. De não fazer muito. As pessoas vivem mais em casa com a família e os amigos. Ou preferem a vida ao ar livre. Vila Franca não escapa a essa regra e temos poucos hábitos culturais. Nem a cafetaria ajuda a chamar mais público?Por vezes temos a cafetaria cheia e as pessoas que estão na cafetaria não se deslocam para o auditório para a sessão que está a acontecer. Preferem estar no café. Não podemos obrigá-las. Podemos convidá-las a estar presentes e em fazer do tempo livre algo que seja simultaneamente instrutivo, formador e ao mesmo tempo que não deixe de ter esse perfil de lazer. Mas chega uma altura em que há uma invasão natural dos espaços expositivos e do próprio auditório. Já reparei que há pessoas que de início frequentavam apenas a cafetaria e depois começaram a ver que podiam espreitar as exposições. As sessões de auditório vivem quase do mesmo público…Há um conjunto de pessoas que se deslocam de iniciativa cultural para iniciativa cultura e não propriamente uma diversidade de público. Há um público restrito que não é aquele que uma cidade como Vila Franca com as ofertas que já apresenta deveria ter. O que nós podemos é apostar na publicidade e na divulgação. Apostar no hábito de se saber que o museu tem iniciativas, mesmo que as pessoas não as frequentem. No dia em que não houver iniciativas as pessoas que nunca vieram ao museu vão dizer que nós abandonamos o projecto cultural. Faz parte da nossa matriz. Quando for para dizer mal haverá muita gente contra. Há sessões com pouco mais que 10 pessoas.Há iniciativas que chamam mais público. As sessões de poesia estão sempre cheias, tal como os lançamentos de alguns livros de escritores conhecidos. Na Gulbenkian ou na Culturgest também há iniciativas de grande interesse cultural que têm muitas vezes 10, 20 ou 30 pessoas. Hoje a oferta é muita. Sofremos de algum modo de uma dupla dificuldade de afirmação. Por um lado estamos muito perto de Lisboa que tem grande oferta cultural, mas não estamos suficientemente longe para dizer Vila Franca é a única localidade numa grande região que nos oferece programação. Como interpreta esse afastamento? É uma questão de cultural. Já não há nada a fazer em relação a essa geração que pessoas que passa aqui e não entra?Habituar o ser humano a estar perante obras de arte desde cedo é fundamental. Mesmo que não haja um envolvimento muito intelectualizado com esses objectos é o convívio com eles que tem que ser trabalhado. A educação devia ser a aposta do país. Todas as gerações podem e devem vir ao museu. Temos iniciativas que cativam mais os seniores, outras mais os jovens. Nota-se uma faixa de menor participação na fase adulta. Aquela fase de maior actividade das pessoas, entre os 30 e os 45 anos. É esse o público que não vem. Normalmente porque as pessoas andam todas muito ocupadas. Não há desilusão com a participação em menor número de algumas iniciativas porque é compensada com a qualidade da intervenção das pessoas que estão no auditório. Como é a relação do museu com a comunidade?A relação com a comunidade local é positiva, já não é negativa, como chegou a ser mas ainda falta as pessoas entrarem mais no museu. Há uma certa dificuldade em passar a mensagem. As pessoas estavam habituadas a ter em Vila Franca exposições que duravam muito tempo e perdem a oportunidade de ver certas coisas porque pensavam que ia estar muito mais meses. Há quem diga que há algum elitismo na cafetaria/museu. Não considero que haja elitismo nem na frequência do público da cafetaria nem na frequência do público do museu. Os museus - e a cafetaria não é espaço à parte - são espaços que são sempre atacados. Se são muito populares é porque são muito populares. Se não são tão populares passam logo a ser elitistas. Acho que há alguma leviandade nestes comentários. Há públicos de todas as origens sociais a visitar o museu e nenhuma intenção de elitismo. Também não há de popularismo. Se as pessoas que acabam por visitar o museu são de uma classe social mais elevada é outra coisa, mas não considero que aconteça apesar de algum requinte que possa afastar algum tipo de pessoas. Todas as pessoas entram neste museu e são bem recebidas.Alguns convidados do auditório defendem a ligação ao privado porque o Estado não estará sempre disponível para financiar a cultura.Essa é uma constatação geral. O peso do Estado na afirmação da cultura é cada vez mais diminuto. Projectos culturais desta envergadura têm tendência a ter o apoio de privados. Encontrar um mecenas para o museu é também uma necessidade deste museu. Em que fase está esse projecto?Está a ser trabalhado e muito em breve teremos resultados. O museu do neo-realismo tem vindo a desenvolver nos últimos meses contactos para que o museu dentro em breve tenha um mecenas. É um trabalho difícil.O trabalho é difícil, mas é sempre um desafio. Nós podemos interpretar essa questão com desmotivação e também sabemos da crise económica que se sente na realidade. Não é rápido nem fácil, mas temos a certeza de que o museu terá um mecenas. No meio empresarial, não só local como nacional, há possibilidade de desenvolver parcerias. Têm vindo a ser feitas para algumas exposições, mas o que nós pretendemos é encontrar o mecenas do museu com carácter mais consolidado e no apoio a alguns anos. Para suportar que percentagem das despesas do museu?Um mecenas do museu tem uma parcela considerável, mas também nunca pode ter um peso excessivo para não dominar as orientações do museu. O apoio financeiro não pode determinar uma interferência no projecto cultural. Haverá algum cuidado na escolha da empresa. Tanto o museu tem que se rever nessa instituição privada como essa instituição privada tem que se rever no museu. A imagem do mecenas é quase tão forte como a imagem do museu. É determinante para a continuidade do museu?A questão de ter um mecenas não é uma questão de vida ou morte. O município garantirá a continuidade. O museu nacional também tem o apoio do Estado e não deixa de procurar um mecenas. Todos os museus estão à procura de mecenas.E o orçamento do museu?É um orçamento que se adequa às necessidades da programação que foi definida. Mas todas as direcções dos museus procuram melhorar as condições orçamentais para fazer face às dificuldades que vamos sentindo.

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