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De ciclista a motorista

António Lima Fernandes, nascido em 1934, germinou para o ciclismo a ver os ídolos da modalidade montado na sua bicicleta “pasteleira” que o levava às provas na região, sem medo das distâncias. Entrou em seis voltas a Portugal, tendo acabado quatro delas. Apareceu no ciclismo como rolador e especialista em contra-relógios, mas acabou por se afirmar como sprinter. Embora não fosse um trepador chegou a vestir a camisola do prémio da montanha algumas vezes. Desligou-se do ciclismo quando o seu filho morreu a competir, em 1981. O ciclismo deixou de ter a mística que tinha, a paixão esfumou-se. Agora leva uma vida pacata a cuidar da horta. Quando começa a falar do filho emociona-se. Trava a conversa para se recompor e segurar as lágrimas. Ainda guarda a bicicleta branca que o filho levava quando se sentiu mal e depois acabou por morrer no hospital. Também se emociona quando fala do homem que o levou para o ciclismo, na altura presidente de “Os Águias” e da Câmara de Alpiarça, Raul José das Neves. Para a entrevista, Lima Fernandes escolheu a esplanada do Clube Desportivo “Os Águias”. À medida que acelera pelas suas memórias vai também cumprimentando quem passa, os amigos, tratando-os pelo nome, com simplicidade. As rugas escondem sacrifícios, tristezas, mas também alegrias. Foi campeão nacional de velocidade em 1969 e 1970. Conheceu países como Espanha, França, Tunísia, Marrocos e Brasil, graças ao ciclismo. Lima Fernandes é um homem que gosta de desabafar, conversar, que preza a amizade, que não é de pensar antes de falar. Diz o que lhe vai no coração numa estocada. Foi motorista de um italiano que tinha em Lisboa uma metalúrgica. Transportou Marcelo Caetano juntamente com o patrão. Antes tinha trabalhado como motorista de pesados numa empresa de Alpiarça. Mas nessa altura não foi fácil arranjar emprego. Tinha decidido sair do ciclismo em 1969 porque as pernas já não lhe permitiam fazer melhor que os mais novos. Mas na sua terra recusavam dar-lhe emprego porque queriam era vê-lo a pedalar com a camisola de “Os Águias”. Também em Lisboa foi taxista nas horas livres. Com a morte do filho regressa a Alpiarça para trabalhar na câmara municipal, onde foi motorista dos presidentes e depois conduziu o autocarro dos transportes escolares. As crianças são a sua alegria. Diz que contactar com os mais novos é o que mais gosta porque está sempre a aprender com eles.

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