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“Tudo o que faço na vida é para ganhar”

“Tudo o que faço na vida é para ganhar”

Duarte Alegrete, jovem cavaleiro de Almeirim, vive exclusivamente dos cavalos
Partiu uma clavícula porque estava a fingir que galopava a cavalo e caiu das escadas. O primeiro passeio que deu a cavalo no campo foi com o pai. Tinha três anos. Duarte Alegrete recorda-se de ter adormecido ao ritmo do andamento do animal. Aos 12 anos começou a participar em provas e campeonatos de hipismo. Nunca mais parou. “Vivo para os cavalos e sempre quis que o meu futuro passasse por isto”, afirma.Descendente de uma família de cavaleiros de saltos de obstáculos sucede ao seu pai, Fernando Alegrete que por sua vez tinha sucedido ao seu avô, Luís Margaride. É na Herdade da familia no Convento da Serra, Almeirim, que actualmente treina os seus cavalos. O Alme Yar, o Valentim, o Romeu, o Xico, a Violeta ou a Pétala. O primeiro cavalo que teve foi-lhe oferecido pelo seu pai, aos seis anos. Chamava-se “Bizarro”. Os cavalos e éguas nascidos na herdade de família são baptizados com nomes “menos vulgares de pessoas” e resultam de um concenso da família. Duarte Alegrete não faz questão de ser ele a escolher os nomes. “O que realmente me interessa é o bem-estar dos cavalos”, esclarece.Filho de um criador de cavalos, assume que não tem pena quando os cavalos onde treina são, um dia, vendidos. “Eu vivo dos cavalos. Por isso não posso prender-me, de maneira nenhuma, a um cavalo nem o meu desempenho pode depender disso”, responde, admitindo no entanto que há cavalos que lhe custam mais a deixar. “A minha vida passa por criar cavalos, ensiná-los ao melhor nível possível e mais tarde, por os vender. Mas não sou, de maneira nenhuma, um comerciante de cavalos”, esclarece.O jovem cavaleiro de Almeirim vive, aos 19 anos, exclusivamente do treino de cavalos de outros proprietários, com vista a melhorar a sua performance em provas. Ele gosta e os donos também ficam satisfeitos. De lado ficaram os estudos, tendo concluído o curso de técnico de Gestão Equina na Escola Profissional de Desenvolvimento Rural em Abrantes, com equivalência ao 12.º ano. Muitas vezes os amigos perguntam-lhe como é que consegue viver só dos cavalos. Nessas alturas tem a resposta na ponta da língua: “Se há tanta gente a gastar tem que haver alguém a ganhar. Porque é que não hei-de ser eu?”. Normalmente descansa à segunda-feira, depois de chegar dos concursos que acontecem em média três fins-de-semana por mês. Fica até quarta-feira em casa e à quinta-feira volta à estrada com a sua equipa de tratadores. O pai, o maior apoiante, vai ao seu encontro para assistir às provas. “Trocamos impressões e acertamos ideias”, diz o jovem. Recentemente tentou apurar-se para os jogos olimpícos mas, tal como todos os cavaleiros de obstáculos portugueses que o fizeram, não conseguiu. “É muito difícil porque estamos na cauda da Europa. Além disso, não temos apoio da Federação que a única coisa que faz, infelizmente, é aplicar multas e cobrar as licenças ao principio do ano”, critica.Apesar de ter nascido em Lisboa, considera-se como sendo de Almeirim, para onde veio viver com nove anos. “Sinto Almeirim como minha de todas as formas. Eu aqui acho que estou no paraíso”, aponta. Ao final da tarde sai da herdade e vai até à vila desanuviar. Ao fim e ao cabo acaba por passar o dia inteiro sozinho no picadeiro ou nos obstáculos. O telemóvel acaba por ser o seu refúgio e a maneira de combater a solidão.No dias de folga, Duarte Alegrete diz que “descansa, namora e está com os amigos”. Pouco tempo tem para ler, ver televisão ou ouvir música. A paixão nunca é esquecida. “Os cavalos acabam por ser um gosto e um vício ao mesmo tempo. Mesmo à segunda-feira não consigo desligar e muitas vezes vou ver cavalos ou encontro-me com amigos e acabamos a falar de cavalos”, explica. Ir a discotecas ao sábado à noite, como qualquer jovem da sua idade, é algo que para o jovem não é fácil e, por vezes, tem pena quando o telefone toca do outro lado e tem que recusar ir beber um copo porque tem prova no outro dia. Quando pode ir diz que “é o que aproveita mais”. À conta dos cavalos, Duarte Alegrete passa, por ano, dois meses em Espanha. Mas também já foi a França, Bélgica, Alemanha e ao Líbano. Vai para os concursos sempre ciente da vitória. Tem mais dois irmãos, de 24 e 7 anos mas ele foi o único que saiu a gostar de cavalos. A morte da mãe aos nove anos marcou-o de sobreforma e é talvez por isso que o seu lema passa por viver um dia de cada vez, sem fazer planos a longo prazo. “Sempre fui habituado a viver assim. Sou feliz sem pensar que tenho que poupar para ter dinheiro daqui a três meses”, refere. A este lema acrescenta tentar ser sempre o melhor. “Tudo o que faço na vida é para ganhar”, remata.
“Tudo o que faço na vida é para ganhar”

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