“Fazer mel tem muita ciência”
O apicultor que apanha e mistura enxames para produzir o melhor mel da região
Há cinquenta anos que Joaquim Silvino mexe com colmeias e enxames. Uma ocupação que não deixa apesar da idade já avançada.
“Sei onde elas estão todas, mas sinceramente não sei bem quantas colmeias tenho ao todo”. O tema de conversa anda à volta da apicultura. Na casa dos 75 anos de idade, o apicultor Joaquim Marques Silvino é natural de Mação e um dos conhecidos produtores de mel daquela zona. Segundo o especialista, o produto “tem as suas manias e segredos” e não é qualquer um que consegue produzir o afamado mel. O processo requer muita técnica e algum risco. “Mexer com abelhas é uma tarefa pouco fácil. Leva-se com cada sova delas. Já dei por mim muitas vezes a ter de largar tudo o que estava a fazer e pôr-me a correr dali para fora antes que me picassem ainda mais”, conta com alguma descontracção e humor.Apesar de ter copiado um modelo de colmeias em madeira que viu numa das suas passagens por um concelho vizinho, diz que não há colmeia que substitua o tradicional equipamento de cortiça. “As abelhas dão menos mel nas colmeias de cortiça porque têm de fazer o trabalho todo, mas o mel é de facto muito melhor”. Conta que enquanto uma colmeia de cortiça dá em média dois litros de mel, as de madeira, em que são colocadas placas rectangulares de cera no seu interior, chegam a dar mais de 30 litros. Actualmente, sem saber ao certo o número de colmeias que tem espalhadas por diferentes sítios no meio do mato, tem a certeza que são mais de cem. A escassos metros da sua casa diz ter cinco ou quatro colmeias que visita com frequência. Ora para fazer a cura do enxame, ora para verificar se as abelhas estão a trabalhar bem. As técnicas são muitas. “A abelha-mestra põe cerca de 3 mil ovos por dia. Se a mestra morre tem de se criar outra. E para o enxame não se ir embora, quando consigo apanhar com jeito a mestra, corto-lhe as asas. Assim tenho a certeza que não vão embora daquela colmeia”. Para uma maior rentabilidade, o apicultor diz que existem uma série de detalhes que foram passando de geração em geração e que têm os seus resultados. “As colmeias têm de se colocar sempre voltadas contra o norte. As abelhas não se dão com o vento suão e também não convém colocá-las em pontos muito altos porque na hora das abelhas voltarem para a colmeia vêm carregadas com o pólen das flores e custa-lhes mais fazer o caminho”, esmiuça. O máximo que uma abelha produz de mel equipara-se a uma colher de chá. É no mês de Junho que se inicia a recolha dos favos das colmeias. Uma tarefa nem sempre fácil, afiança Joaquim Silvino. “Temos de levar fumo connosco para conseguirmos retirar o mel. As abelhas com o fumo baixam, mas temos de ter muito cuidado porque se fizermos fumo a mais pode passar o sabor para o mel”, salienta. Há quem peça ao apicultor o mel ainda em favo para chupar. “Só os favos das colmeias de cortiça são bons para chupar. As pessoas que conhecem os benefícios que o mel puro tem para a saúde pedem sempre que lhes dispense algum favo”, explica. No decurso da conversa com este apicultor são inúmeras as curiosidades sobre o mundo das abelhas. Pequenos factos do seu dia-a-dia que o mestre Joaquim gosta de contar. Desde misturar enxames, em que se polvilham as abelhas com água e açúcar e por fim farinha de trigo. Diz o apicultor que esta técnica tira o cheiro de umas das outras e só assim se mantêm juntas, caso contrário acabariam por se matar entre si. Já lá vão cinquenta anos desde que mexe com colmeias e enxames. Uma ocupação que não deixa apesar da idade já avançada. Para trás ficam recordações e momentos que lhe ensinaram a aperfeiçoar o que de melhor sabe fazer: o mel!
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