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“A sinistralidade em Portugal é um problema de educação dos condutores”

“A sinistralidade em Portugal é um problema de educação dos condutores”

Mário Gonzaga Ribeiro é um dos rostos da Prevenção Rodoviária Nacional

Mário Gonzaga Ribeiro, jornalista e presidente da Federação Portuguesa de Motonáutica, é um dos mais conceituados especialistas em segurança rodoviária em Portugal. O antigo piloto de automóveis e barcos considera que é bem mais perigoso conduzir nas estradas que nas pistas e adianta que a redução da sinistralidade é uma questão de educação e cidadania.

Dedicou uma vida à prevenção rodoviária em Portugal. Foi um trabalho inglório que só recentemente começou a dar frutos?Já temos resultados de um trabalho de muitos anos consecutivos. O número de vítimas mortais e feridos graves baixou. Há uma mudança de hábitos e mais respeito pelo próximo. O problema da sinistralidade em Portugal é um problema de educação. As estradas hoje são muito boas, salvo raras excepções.Ainda temos na região muitos pontos negros…Tem, por exemplo, a recta do Cabo (Porto Alto-Vila Franca) que ainda é uma estrada perigosa mas melhorou muito com a construção da nova ponte da Lezíria, que desvia muito tráfego, e com a eliminação das vendas à beira da estrada que foi um acto de coragem da Câmara de Vila Franca de Xira. Chegámos a ter 18 acessos ao campo com entrada e saída de tractores e outras viaturas e os condutores a circularem na EN 10 a velocidades de auto-estrada. Felizmente que a situação melhorou mas ainda persistem problemas como no entroncamento junto à estalagem do Gado Bravo. A educação dos condutores faz-se apenas com pedagogia, ou também tem de ser com coimas e inibição de conduzir?Eu não sou adepto da repressão. Sou a favor da pedagogia e com elementos claros. Penso que com trabalho de sensibilização e formação de condutores conseguimos eliminar algumas das causas dos acidentes graves que nos colocam entre os países com maior sinistralidade rodoviária. É preciso analisar as causas dos acidentes graves para se ter uma ideia de onde é que alguém falhou e corrigir essas falhas.O senhor investigou dezenas de acidentes graves para melhor perceber o fenómeno. Alguns ficaram-lhe na memória?Muitos…recordo-me de um acidente brutal em que morreram duas senhoras junto da Estalagem do Gado Bravo, Vila Franca de Xira. Iam virar à esquerda para a estrada municipal e foram trucidadas por dois camiões que viajavam um em cada sentido. Foi uma tragédia. Está prevista uma rotunda para esse entroncamento. As rotundas estão na moda?A rotunda é sempre uma boa solução porque é mais segura e não causa constrangimentos. Mas no caso da recta do Cabo sou defensor também de um separador central porque a recta tem nove quilómetros e as ultrapassagens são a principal causa de acidentes. Para muitos condutores não basta o traço contínuo.É a favor das campanhas de choque com imagens de acidentes graves e de vítimas que ficaram incapacitadas a falarem na primeira pessoa?Sou a favor que se mostre a desgraça causada pelos acidentes de viação e os prejuízos inquantificáveis que provocam com danos humanos e materiais. Ao verem as imagens e ao ouvirem os testemunhos, as pessoas reflectem sobre o que lhes pode acontecer e alteram a sua forma de conduzir. A morte nas estradas tem uma dimensão trágica em Portugal. Na semana em que morreram 13 pessoas queimadas numa discoteca de Amarante, morreram seis pessoas nas estradas do concelho de Amarante e num mês morreram 23 pessoas nas mesmas estradas.Na sua vida conheceu muitas tragédias?Uma das maiores foi a de uma família de um jovem que ficou tetraplégico num acidente de moto. O pai era juiz e a mãe também era magistrada. O acidente causou desentendimentos porque ambos responsabilizavam o outro pelo sucedido. Um dia o juiz mandou a outra filha para casa de um familiar, pegou numa pistola e matou a esposa e o filho. Depois deu um tiro na cabeça e suicidou-se.A paixão pela motonáutica A motonáutica é outra causa que tem defendido. O espelho de água do Tejo em Vila Franca é uma mais valia para a modalidade?É um dos melhores do país porque tem uma certa ausência de vento e é propício à prática da motonáutica porque tem um espaço envolvente muito bom com mais de 1800 metros quadrados, como é exigido. Tem um pontão da marina que facilita as partidas paradas consoante os tempos cronometrados e isso valoriza o espectáculo.O apoio do União Desportiva Vilafranquense (UDV) também é importante?É um clube com grandes tradições que tem apoiado as várias organizações e era importante construir aqui um pólo porque estamos muito perto de Lisboa e temos boas condições.Lançou o repto à presidente da câmara e parece haver receptividade para acolher a nova sede da Federação Portuguesa de Motonáutica?Vila Franca é a minha localização e darei preferência em relação a qualquer outra candidatura dum concelho ribeirinho. A federação teria muito gosto em ter aqui a sua sede e um pólo de formação para sensibilizar para a prática da motonáutica.Um piloto consagrado na região iria entusiasmar o aparecimento de novos praticantes?Julgo que seria muito bom para o município de Vila Franca ter um piloto que o representasse nas várias provas. Temos vários exemplos de pilotos apoiados pelos respectivos municípios e que transportam a sua bandeira por todo o lado. Esta não é uma modalidade acessível a todos. Claro que tem custos, mas a iniciação é gratuita. Depois, se houver apoios, os pilotos podem seguir o seu caminho. Há municípios que compram as embarcações para pilotos locais e estimulam as suas carreiras.Quanto custa uma embarcação dessas?Uma embarcação da primeira classe de formação que é a PR 750 custa 7500 euros.É caro e não é acessível a todos?Da mesma forma que não é acessível um cavalo para um cavaleiro, uma mota para um piloto de motocross ou um automóvel para competição. Acontece que a maioria dos pilotos são filhos de outros pilotos e começam com as embarcações dos pais.
“A sinistralidade em Portugal é um problema de educação dos condutores”

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