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A enfermeira que queria ser médica

Jovem natural de Vale de Cavalos emociona-se com alguns casos clínicos que presencia

Maria Filomena Godinho é enfermeira no Instituto Português de Oncologia e no Instituto Português do Sangue. Como se não bastasse, ainda está a tirar o mestrado.

Maria Filomena Godinho tem 25 anos e já é enfermeira há três anos. Trabalha no serviço de cirurgia do Instituto Português de Oncologia (IPO), ocupação que mais recentemente acumula com a de enfermeira no Instituto Português do Sangue (IPS). Natural de Vale de Cavalos, concelho da Chamusca, Filomena sempre teve um objectivo na vida: ser médica. Mas a média de “17 e tal valores” não chegou. “Muitos alunos entram em medicina apenas devido à nota média e não por vocação, enquanto outros o fazem em enfermagem porque acham que é o destino mais próximo à primeira opção”, analisa quem tomou a segunda opção e diz que acabou por gostar. “Mas devia entrar num curso quem fizesse testes psicotécnicos e de aptidão e não apenas quem obtenha boas notas”, sugere.Depois de tirar o curso enviou currículos para nove hospitais. Chamaram-na de Lisboa e ali se fixou. Vive na Bobadela e todos os dias se desloca para a Praça de Espanha. A enfermeira adaptou-se à vida de Lisboa, que já não a troca por outra. A Vale de Cavalos vai de tempos a tempos matar saudades da família e amigos. O Hospital de Abrantes ainda a convidou mas já não quis mudar porque sempre deu preferência ao trabalho na área da oncologia.“É muito diferente trabalhar em oncologia. O IPO tem uma filosofia diferente de cuidar dos doentes. Temos muitos que falecem junto de nós depois de internados muito tempo e com os quais estabelecemos relações de carinho”, conta Filomena. Naquela unidade trabalha com pacientes a partir dos 18 anos e vê gente cada vez mais nova, entre os 20 e os 30 anos, com problemas. Ao trabalho técnico exigido, junta-se a componente psicológica e humana. “Não é fácil, às vezes saímos de lá com lágrimas nos olhos. Como aconteceu num caso com um rapaz de 24 anos com tumor no pulmão que foi internado e fez ciclos de quimioterapia durante quase um ano. Um dia entrou muito mal e faleceu”, recorda Maria Filomena. Casos desses levam-na a pensar como a vida é efémera e deve ser aproveitada dia a dia. Às vezes chega a ter vontade de sair e desistir. Apenas pensamentos, porque depois também lhe vêm à memória os bons momentos e os sucessos, as amizades que se fazem com colegas e pacientes.Filomena aproveitou a oportunidade para trabalhar no IPS para compor o seu horário, nas brigadas do sangue. “É bonito fazer este trabalho. Só encontramos pessoas saudáveis, em contraponto ao outro que desenvolvo. É bom de quatro em quatro ou de seis em seis meses ir criando laços de amizade com muitas pessoas. Além de sabermos a falta que o sangue faz nos hospitais”, constata a enfermeira, que já viveu episódios engraçados.Como aquele com uma dadora estreante que estava muito nervosa e começou a respirar de forma ofegante como se estivesse a parir. Os acessórios e instrumentos estão lá todos para ajudar Filomena. O garrote para sentir as veias, as compressas e o desinfectante. O adesivo segura a agulha à pele enquanto decorre a recolha. Além dos sacos de colheita com agulha própria e descartável com capacidade para 450 mililitros e o penso final. O sangue que corre para os sacos é separado por glóbulos vermelhos, plaquetas e plasma e encaminhado para posterior apoio às unidades que o venham a necessitar.Emprego na altura certaMaria Filomena Godinho reconhece que começou a carreira profissional de enfermeira na altura certa. Quando ainda havia hospitais com falta de enfermeiros e se faziam contratos a termo incerto. Agora há mais profissionais formados que os necessários nas unidades clínicas do país. A que se junta a não abertura de vagas nos serviços pelo Ministério da Saúde. “Mesmo assim em oncologia temos um rácio de profissionais maior que nos restantes serviços nacionais”, acrescenta.O curso preparou-a para a vida. Fez os estágios necessários e não sentiu diferenças quando começou a trabalhar. Apenas maior independência e organização do trabalho. A rotina diária funciona de acordo com horários disformes. “Tenho dias em que saio de casa às sete da manhã e regresso às duas da tarde do dia seguinte. Ou fico de manhã no IPO ou no Instituto Português do Sangue e à tarde vou para as aulas do mestrado e volto a fazer a noite, por exemplo”, descreve.Filomena está a tirar o mestrado em Gestão e Saúde na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. Confessa que sempre gostou de estudar e estar em constante aprendizagem. E se não fosse enfermeira teria seguido economia ou gestão. Curiosamente tem como professor Correia de Campos, ex-ministro da Saúde. “Gosto mais dele como professor do que como ministro, mas também sei que como governante não podia fazer tudo o que lhe apetecia”, diz com um sorriso.Ver video em http://www.omirante.pt/omirantetv/noticia.asp?idgrupo=2&IdEdicao=51&idSeccao=514&id=22607&Action=noticia

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