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Uma visita ao mundo do padre exorcista

Uma visita ao mundo do padre exorcista

Humberto Gama tem consultório montado às portas de Fátima e diz que não lhe falta clientela

O MIRANTE visitou e entrevistou o padre exorcista em 2008.

Onde fica a casa do padre Gama? Uma funcionária do posto de abastecimento de combustíveis de Valinho de Fátima indica prontamente. Na localidade situada nas cercanias da cidade celebrizada pelas aparições de Nossa Senhora, não deve haver quem não saiba onde mora o homem que promete cura a quem ele recorre. E são muitos. De padres a juízes, de políticos a gente humilde como o casal que nessa tarde de sexta-feira veio da aldeia de Carregosa (Vagos) para pedir ajuda ao homem a que muitos tratam por padre, apesar da Igreja Católica o ter proscrito há muito tempo. São cada vez mais, diz o próprio, embora nesse dia o ambiente esteja longe de ser fervilhante. No terraço que cerca a vivenda de três pisos à beira da estrada nacional que liga Fátima a Minde, três automóveis de luxo – dois Mercedes e um BMW – indicam que a vida lhe corre bem. Mas garante que a riqueza não lhe vem das consultas que dá. “Eu não preciso disto, vivo da minha reforma de professor. Cada um dá o que quer. Não cobro nada a ninguém”, diz-nos na sala de espera onde os pacientes aguardam consulta. Naquele momento, em plena hora de almoço, não há ninguém. Apenas uma das duas funcionárias anda por ali. “Chegaram na hora H, daqui a um bocado já isto está cheio de gente”. Uma hora depois, apenas um casal aguarda a sua vez. Na sala, revistas e jornais mundanos espalham-se por cima de cadeiras e mesas. Há livros dispersos. Postais onde Humberto Gama aparece a cumprimentar o Papa João Paulo II. E imagens em tamanho XL de santos, de Jesus Cristo, de Nossa Senhora de Fátima. Uma máquina de ex-votos com velas electrónicas que acendem a troco de moedas dá um toque comercial ao ambiente. Notas e moedas estão espalhadas aos pés de Jesus Cristo e de São Francisco. Humberto Gama, 68 anos, transmontano “de pura casta, porque alguns são rafeiros”, tem o dom da palavra. Sabe que o que diz e faz é polémico. E que se arrisca a não ser levado a sério. Há quem lhe chame bruxo, charlatão. Mas clientela diz não lhe faltar, do Minho ao Algarve. Foi precisamente devido a essa dispersão geográfica que decidiu montar consultório perto de Fátima há cerca de cinco anos. Por ser mais central. Embora mantenha a casa em Murça onde vai regularmente atender clientes. O padre exorcista, como se define, é também tratado por doutor Gama. O seu nome tem direito a entrada no Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, onde se revela que “teve formação académica nos Jesuítas, seguida de licenciaturas em Filosofia e Teologia pelas universidades de Washington (USA) e S. Tomás de Aquino, em Roma. Exerceu o professorado em vários colégios e universidades inglesas e americanas, orientando as cadeiras de grego e hebraico, além de Português e História Universal”. Oriundo de uma família modesta de Mascarenhas (Mirandela), foi ordenado padre mas em 1973 foi demitido da Congregação dos Marianos e as suas práticas são criticadas por alguma hierarquia católica por quem nutre uma evidente animosidade. Criticado ou venerado, uma coisa é certa quando se fala de Humberto Gama: não passa despercebido nesta viagem terrena. E faz por isso. Gosta de intervir, de aparecer. De dar opinião. Foi por isso, “para ter púlpito”, que andou pela política. Em 1993 foi candidato pelo PS à Câmara de Mirandela numa lista adversária da do irmão, José Gama, que acabaria por ganhar. Quatro anos depois candidatou-se novamente, mas já pelo PSN. E diz que já foi convidado para se candidatar no ano que vem a uma autarquia transmontana. Um dos picos de fama ocorreu há cerca de dois anos, quando um casal da zona de Vila Franca de Xira se queixou dele às autoridades por alegado abuso sexual da mulher durante as suas práticas exorcistas. Gama diz que o assunto morreu e que tudo se tratou de uma maquinação de um padre da Igreja Católica. Mas reconhece que tem de tocar nos possessos para absorver as energias más e expulsá-las daqueles corpos. É esse o seu trabalho e por vezes, pelos vistos, corre o risco de ser mal interpretado. Humberto Gama é apreciador de arte, particularmente de pintura, e os quadros espalhados pela casa são prova disso. A música é outro elemento que faz parte do seu dia a dia. Diz que conheceu pessoalmente Frank Sinatra, de quem é admirador, e que tem uma guitarra assinada pelos míticos The Beatles, que diz ter apresentado em Londres ao padre Max (assassinado no pós-25 de Abril). Gosta dos prazeres mundanos, como a boa mesa e um bom vinho. Tal como de mulheres, presume-se quando diz não ligar ao celibato e confessa não saber se tem filhos.

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