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Guarda-florestal é uma profissão com muitos riscos

Guarda-florestal é uma profissão com muitos riscos

Carlos Correia já correu perigo no desempenho da actividade que abraçou há 18 anos

A pé, de motorizada ou de carro percorre quilómetros na reserva de caça certificando-se de que não existem intrusos nem ilegalidades. A última denúncia quase lhe custava a vida. Ladrões de material de rega dispararam contra ele.

A saltitar de reserva em reserva de caça associativa, já lá vão 18 anos desde que um dia, a convite de um amigo, o guarda-florestal Carlos Correia deixou a construção civil para se entregar ao campo. Umas vezes para afugentar intrusos mal vindos, outras para simplesmente perceber a natureza. De arma em punho e binóculos ao pescoço, inicia muitas vezes o dia antes do sol nascer com a missão de vigiar. Uma profissão que lhe vai criando alguns inimigos, garantindo que à conta disso viu há poucos meses a sua casa alvejada a tiro. Carlos Correia tem 45 anos e mora na localidade de Parreira, concelho de Chamusca. A família já se habituou a andar de casa às costas quando o homem lá de casa é chamado para tomar conta de alguma nova reserva associativa. Nos últimos anos passou pela Golegã, Mato Miranda e também Martingil. O pedaço de terreno de que actualmente toma conta tem 1.400 hectares repartidos entre plantações, arvoredo e água das barragens. Não é a maior das propriedades de que já tomou conta mas, sejam elas de maior ou menor dimensão, garante-nos que conhece cada metro quadrado de cada uma por onde passou. A pé, de motorizada ou de carro percorre quilómetros certificando-se de que não existem intrusos. A última denúncia quase lhe custava a vida. “Era de noite e estavam dois camiões a carregar material de rega. Só vi um sujeito mas claro que estavam lá mais. Quando sentiram a minha presença desataram aos tiros e só tive tempo de me esconder numa valeta”.Para além das vigílias diárias, o guarda-florestal tem ainda o papel de fiscalizar. Diz o defensor da natureza que existem muitos infractores. “Já cheguei a surpreender indivíduos a ensacarem pinhas com pinhão. Tive de comunicar à GNR como era o meu dever. Estou ali para evitar aquelas situações”, conta.Caçadores e pescadores devem acatar as ordens de Carlos Correia. “Tenho o dever de fazer cumprir as regras que abarcam a caça e a pesca. A calibragem utilizada nas caçadeiras e as espécies obedecem a critérios que se tem de respeitar”, reforça. Alertar, chamar a atenção, denunciar e afugentar são as suas obrigações. “Na altura das plantações de milho ou da aveia, os javalis e os texugos costumam invadir as propriedades e causam grandes prejuízos. O meu papel é o de avisar a associação de caçadores daquela reserva para tomar as devidas providências”. As temperaturas altas do Verão fazem com que o guarda-florestal, para além de estar atento às plantações da reserva e fauna florestal, redobre os seus sentidos em relação a qualquer sinal de fumo ou perigo de incêndio. “Lembro-me bem de ter ajudado a combater as chamas em 2003 mas de pouco ter valido”, recorda com pesar. Guerreiro contra as ilegalidades cometidas sobre a natureza, Carlos Correia confessa que a caça é o que mais lhe apraz. “Gosto de ver as várias espécies e as suas crias”. Conta o guarda-florestal que lhes dá muitas vezes alimento, não vá a caça acabar ou migrar para reservas vizinhas. “Para além de vigiar e preservar a natureza tenho de garantir caça aos associados da reserva. Não gosto que fiquem descontentes com o meu trabalho”, comenta. E, a finalizar, de uma coisa Carlos Correia tem a certeza: Os guarda-florestais não são todos iguais. “Desengane-se quem pensa que não fazemos nada e só andamos aqui a passear”.
Guarda-florestal é uma profissão com muitos riscos

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