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“Investe-se muito em rotundas e pouco em inteligência”

Pedro Barroso, lavrador de sons e palavras, trabalha na “Sensual Idade”

Não facilitar e fazer as coisas com dignidade é o segredo de Pedro Barroso para chegar com coerência, a quase 40 anos de carreira. Para já, no horizonte, um disco novo “Sensual Idade” e um concerto especial, dia 20, em Riachos. Sempre crítico, o músico, poeta e pintor dispara em várias direcções. E fala da mulher ribatejana, do amor que tem ao filho Nuno e do sonho de um dia gravar um disco de canto lírico.

Já se definiu como ‘um lavrador de sons e palavras, semeando ao vento o fruto dos seus dedos’. De que maneira é que o Ribatejo influencia o seu trabalho?Ser menino no Ribatejo foi um privilégio muito grande. Ser criança aqui tem uma variedade, uma policromia, uma beleza, uma sensibilidade e um contacto com a natureza muito grande. Nessa altura, havia uma coisa que já não existe. Era uma coisa chamada férias grandes. Eram três meses em que nós tínhamos um profundíssimo contacto com a natureza. Ia para casa do meu pai. Saí de lá tinha quatro anos. Depois foi um regresso permanente, a manutenção de uma ligação com o Ribatejo que nunca se quebrou. Obviamente, aprender a conduzir carroças desde criança, dormir sestas à sombra, daqueles montes, fazer touradas -a fingir- com cabras era para mim uma coisa fabulosa. Se isto tem influência ou não na criatividade, não lhe posso garantir. Claro que, romanticamente o Tejo preside aos ritmos de todos nós, como todos os grandes rios. Poderá não ser necessariamente motivador, como Camões achou das Tágides, mas de alguma maneira o Ribatejo foi sedutor da minha formação humana.As suas músicas estão cheias de mulheres. As tágides do Pedro são Ribatejanas? São as ribatejanas que o inspiram? (Risos) …e quando não eram necessariamente, vinham sempre ao Ribatejo fazer um pequeno estágio. A minha casa, é sabido, é no Alto Ribatejo, em Riachos (concelho de Torres Novas). Quando era praticante desse regime de livre arbítrio amoroso, sendo a nossa casa o nosso ninho, o nosso eixo sentimental e também o ponto de encontro das ternuras, se as mulheres não eram ribatejanas, tinham de passar por lá.A “menina dos Olhos d’Água” de que fala uma das suas canções também por lá passou?A beleza da natureza é inspiradora. A “Menina dos olhos d água” nasce precisamente à beira do rio Tejo, com um brevíssimo encanto que houve naquela altura. A canção ficou e durou realmente muito mais do que essa brevíssima relação inspiradora, que teve a natureza a acompanhar. Como definiria as mulheres do Ribatejo?Basicamente, a mulher ribatejana é uma mulher trigueira e uma mulher sã. A camponesa, historicamente, trabalhava no campo. Hoje em dia, desconfio que a mulher do Ribatejo será uma mulher à descoberta de si própria. Foi para Riachos com poucos dias de vida e por ali cresceu algum tempo. Riachos é um refúgio?Riachos é o meu lar. É a minha casa. Nasci praticamente ali. Fui para Riachos com oito dias. Depois mantive uma relação permanente que nunca se quebrou. Por morte do meu pai, em partilhas, eu achei por bem ficar com a casa de família porque gostava muito. Na altura era muito novo, tinha 28 anos e foi um encargo que assumi. Decidi ficar com o Velho Casal da Raposa que é, no fundo, o meu lar. É uma questão de pele, da minha própria história.Faz alguma ideia da origem do nome da terra? Foi um dos enigmas que o meu pai tentou resolver. A Escola de Riachos tem o nome do meu pai, António Chora Barroso, porque ele foi uma das primeiras pessoas a tentar a fazer uma monografia sobre Riachos. Era um grande apaixonado pela sua terra. Andou à procura. Havia vários mitos e lendas, desde terem encontrado um rio nas invasões francesas. Ele conseguiu provar que existiu um senhor, Ribaxus, um patrício romano, através do estudo das ruínas de Vila Cardílio. Quanto a mim, a explicação do nome é uma coisa muito mais simples, chama-se Riachos porque existem muitos riachos. É uma terra cheia de valas, que eram importantíssimas para a lavoura, para a rega e que tinha, além do rio Almonda, a relativa proximidade do rio Tejo. Por haver tantos riachos ainda hoje se ouve as pessoas a dizerem ‘ali nos riachos’.

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