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O bombeiro que realizou o sonho de criança

Quando era pequeno ia para o quartel observar os soldados da paz

Tem vários episódios que o marcaram durante o exercício da sua profissão. Recorda com particular emoção a tarde em que tiveram que salvar três crianças de dentro de um apartamento em chamas.

Camisola e boné vermelhos, calças azuis e botas pretas. Paulo Nogueira, 35 anos, conseguiu realizar o seu sonho de criança. Sempre quis ser bombeiro. Eram os seus heróis. Em miúdo ia para a porta do quartel de Vialonga observar os soldados da paz à espera de os ver sair apressadamente em direcção a algum fogo ou acidente. Cedo percebeu que queria fazer o mesmo. Queria tornar-se útil àqueles que precisam de ajuda. Actualmente é adjunto de comando dos Bombeiros Voluntários de Vialonga onde começou a trabalhar voluntariamente aos 14 anos.Paulo Nogueira tem a certeza que tomou a opção profissional correcta e não se imagina a fazer outra coisa. Diz ser um trabalho desgastante e que a família é a grande prejudicada pela sua dedicação. Mas confessa não conseguir estar parado muito tempo. “Quando estou de férias e sem nada para fazer começo a ficar nervoso porque não sei estar sem fazer absolutamente nada. Por isso acabo sempre por, mesmo quando não tenho que trabalhar, dar um saltinho ao quartel para ver como estão as coisas”, explica sorridente.O bombeiro tem vários episódios que o marcaram durante o exercício da sua profissão ou não tivesse um trabalho considerado de risco. Mas recorda com particular emoção a tarde em que tiveram que salvar três crianças de dentro de um apartamento em chamas. “Conseguimos salvar duas delas mas uma morreu. São momentos complicados, sobretudo desde que fui pai. É um sentimento enorme de impotência querermos salvar vidas e não conseguimos”, explica.Da mesma forma que quando era menino os bombeiros eram seus heróis, o soldado da paz tem consciência da importância do seu papel e dos seus companheiros junto dos mais novos. Sempre que vão fazer formação às escolas é uma festa. As crianças saltam, gritam, vibram por estarem perto de um bombeiro. “Elas acham que somos pessoas com poderes sobre-humanos e conseguimos fazer o que os outros não conseguem. Temos que ter noção da importância do nosso papel na sociedade”, afirma.Com a chegada do calor regressa também uma das maiores preocupações de qualquer bombeiro: os incêndios florestais. Todos os anos estão de alerta para o caso de aparecer uma situação de emergência. E não se pense que as corporações de bombeiros actuam apenas na sua área de abrangência. Como pertencem à Coluna Nacional de Socorro vão para todo o país e já foram inclusive a Espanha combater fogos.Paulo Nogueira lembra quando, em 2003, o presidente da Junta de Freguesia de Oleiros (distrito de Castelo Branco) os recebeu e lhes pediu, com a preocupação estampada no rosto, que os ajudassem a extinguir as chamas que lavraram há vários dias. “Foram dias complicados. Todos os bombeiros estavam a combater chamas e estavam esgotados. É necessário limpar sempre as ervas envolventes às casas e ter cuidado com cigarros e queimadas, por mais pequenas que sejam”, alerta.Outra acção que realiza diariamente e que provoca grande satisfação é fazer o transporte de doentes aos hospitais para consultas ou tratamentos. O bombeiro refere ser esse o principal objectivo do trabalho de um soldado da paz. Ajudar quem não pode deslocar-se sozinho e pelo próprio pé. Dessas viagens ao Hospital de Vila Franca de Xira existem muitas histórias para contar. “As pessoas são, na sua grande maioria idosas e aquelas que estão doentes, sobretudo doentes oncológicos, não se sentem bem a conversar sobre o assunto com a família e desabafam connosco”, conta, acrescentando ainda que é durante estas viagens que se criam grandes laços de amizade entre os utentes.Além da actividade principal de bombeiro que lhe ocupa grande parte do dia, é também vogal na Junta de Freguesia de Vialonga. Ambas as actividades têm grande exposição na vila. Não é por isso de estranhar que quem acompanha o bombeiro durante alguns metros pelas ruas de Vialonga tenha que parar com frequência tal é elevado o número de pessoas que o conhecem e querem cumprimentar. “É muito bom sentir o carinho das pessoas. É sinal de que faço um bom trabalho. E faço-o em prol da comunidade e da freguesia de Vialonga”, conclui.

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