
Estações de comboio da Linha da Beira Baixa ao abandono
Bilheteiras fechadas contribuem para acelerada degradação dos espaços
Actos de vandalismo sucedem-se nas várias estações e apeadeiros entre Entroncamento e Abrantes.
Casas de banho fechadas, bancos e paredes vandalizados e um número reduzido de utentes em silêncio à espera de um comboio que chega quase sempre com largos minutos de atraso. É este o cenário desolador que se assiste nas estações e apeadeiros da linha da Beira Baixa, entre o Entroncamento e Abrantes: Vila Nova da Barquinha, Tancos, Almourol, Praia do Ribatejo, Tramagal e Alferrede. A última, ao km 34, era a única onde ainda se podia comprar bilhete na estação, mas viu o serviço ser encerrado a 11 de Julho. O funcionário que ali trabalhava, há dez anos, e que de certo modo humanizava o espaço, foi transferido para a estação de Abrantes. O presidente da Junta de Freguesia de Alferrarede, Pedro Moreira, foi apanhado de surpresa com a decisão da Refer. “Já no ano passado fizemos uma manifestação contra o facto do comboio intercidades ter deixado de parar na estação. Fomos à Assembleia Municipal de Abrantes e enviamos uma moção de contestação à CP e à REFER. Este foi o golpe final”, disse. A situação abre portas à degradação acelerada do espaço que já foi palco de vários actos de vandalismo. Há pouco tempo as portas das casas-de-banho foram arrombadas e levadas. Acabaram por ser substituídas mas desde então os sanitários encontram-se fechados. “Este país é uma vergonha”, atesta Jorge Silva, habitante da localidade que não se conforma com o actual estado da estação, outrora considerada uma da mais importantes da região. Recorda que ali costumavam desembarcar centenas de pessoas à conta das unidades fabris. “Desde que fecharam as bilheteiras a estação perdeu vida e agora somos nós e as moscas” aponta desolado. A seu lado, o reformado José Matos, 72 anos, abana a cabeça: “Não tarda nada aparece aí a gatunagem para tomar conta disto tudo”.Não é só na estação de Alferrarede que se vive esse cenário de insegurança. À espera do comboio proveniente do Entroncamento para a estação de Abrantes, na estação de Vila Nova da Barquinha, Rosário Santos tenta combater o calor como pode. É a única utente que ali se encontra. Diz que por enquanto não tem medo mas sabe que qualquer dia está sujeita a ter uma experiência menos agradável. Os sanitários estão fechados, não há bar e a sala de espera está imunda. A bilheteira foi encerrada vai para dez anos. Ao redor da estação a vegetação cresce e encontra-se seca. Funcionários da autarquia cortaram as canas ao longo da linha mas deixaram-nas na berma. “É um perigo de incêndio ainda maior, não acha?”, interroga. A voz no altifalante anuncia que comboio da Linha do Leste, proveniente de Elvas, está com 45 minutos de atraso. É assim todos os dias, fala a voz da experiência. A paragem seguinte, o apeadeiro de Tancos, vale pela paisagem. Encontra-se limpo mas está limitado a dois bancos. Sombras, nem por sombras. Não se encontra viv’alma. Manuel Antunes, morador das proximidades diz que vai sendo raro encontrar ali alguém. “Já poucos comboios param aqui e a maioria das pessoas prefere andar de carro. Além disso aqui não há nada e as pessoas até têm medo de aqui estar sozinhas”, explica. Um bocadinho mais animado é o ambiente da estação de Almourol, fruto dos militares que aguardam o comboio e que se encontram na Escola Prática de Engenharia de Tancos. Um pequeno bar serve refeições rápidas e bebidas frescas para quem deseja matar a sede. Privilégio que não se encontra nas outras estações e apeadeiros. O MIRANTE colocou algumas questões à CP com o objectivo de saber qual a política da empresa em relação à manutenção destas estações e os motivos que levam ao encerramento das bilheteiras mas a resposta não chegou após três semanas.

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