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Uma cientista teimosa que gosta de ir à luta

Elvira Fortunato tornou-se recentemente célebre pelas suas descobertas na área da electrónica

O final de Julho foi alucinante para Elvira Fortunato. Primeiro pelo anúncio da produção do primeiro transístor em papel a nível mundial. Depois pelo prémio europeu de 2,25 milhões de euros pelo trabalho da cientista na área da electrónica transparente. A investigadora tem raízes ribatejanas, adora touradas e guarda com nostalgia as férias de infância na Louriceira (Alcanena), terra dos pais.

A ciência raramente é notícia no nosso país. Estava preparada para todo este mediatismo?Isso não. O que mudou no seu quotidiano?Sobretudo as solicitações da comunicação social. É uma experiência nova, até para a minha filha. E temos de corresponder. Acho que isto é uma coisa boa. Ultimamente temos tido muitas notícias pela negativa. Tento falar com todos os jornalistas e explicar aquilo que fiz, porque acho que tenho esse dever para com a sociedade. Como tem lidado com o facto de se ter tornado um exemplo do que melhor se faz em Portugal? Aumentou as minhas responsabilidades e quanto mais alto se está maior é a queda. Agora estamos num patamar um bocadinho diferente e temos de ser um exemplo a todos os níveis. Não só científico, mas também humano, social. Os vizinhos já olham para si de outra forma.Não gosto muito de exposição. E como vivo numa vivenda penso que eles ainda nem se aperceberam de quem é a vizinha. Tem consciência que o vosso feito pode ser explorado politicamente?Não sei. Mas se for no bom sentido espero bem que sim. Nunca se sentiu tentada a abandonar o país, como fazem muitos colegas seus?Não. Tive um ou dois convites no ano passado mas recusei. Gosto muito de Portugal e sou muito agarrada à família. Gosto muito das pessoas, do clima, acho que tenho condições excelente para trabalhar. Nós somos bons se nos aplicarmos. Tenho muito orgulho e brio naquilo que faço. Gosto de fazer bem feito. Se todos fizerem isso nas suas profissões nós somos os melhores. As pessoas têm de se aplicar.Há demasiado conformismo e deixa-andar?Farto-me de reclamar em restaurantes e noutros sítios, porque para mim as coisas têm que ser bem feitas.É uma pessoa com forte consciência cívica?Sou uma pessoa muito exigente, comigo e com os outros.“Sempre gostei de descobrir coisas”Essa vocação para a ciência, para a investigação, para a descoberta já vem de infância? Sempre foi uma pessoa curiosa?Sim, sempre fui muito curiosa. Sempre gostei muito de descobrir coisas e de fazer coisas. Não tanto se calhar na electrónica. Isto surgiu à custa de um percurso. Uma das experiências que me marcou no liceu foi observar ao microscópio as células da cebola. Já tinha nessa altura a percepção de que poderia seguir esta carreira?Nessa idade ainda não. Não me passava pela cabeça ser cientista.O que pensava seguir?Queria enveredar pela área da engenharia. Entrei para a faculdade em 1982 e só comecei a gostar de investigação quando já estava no curso. Aí sim, ter aulas no laboratório levou a que o bichinho da investigação se desenvolvesse.Era uma aluna brilhante?Era uma boa aluna, mas não brilhante.Os seus pais incentivaram-na quando decidiu seguir esta carreira?Sim. Deram-me todo o apoio.A ciência ocupa-lhe grande parte da sua vida? Ou tem tempo para outras coisas?Ocupa-me boa parte da minha vida, mas também sou mãe de uma filha de 11 anos e tenho tempo para outras actividades.O que gosta de fazer para além da investigação?Gosto também de cozinhar. Sou uma boa cozinheira. Gosto no Verão de ir à praia. E também gosto de ir à Louriceira. É lá que estão as minhas origens.Que memórias guarda das suas férias na infância Louriceira?As minhas férias de infância eram lá passadas. Retenho na memória as brincadeiras, ir ao rio Alviela a pé com as minhas amigas, às vezes sem dizer à minha mãe. Andar lá pelos matos.O que representa para si o Ribatejo?As pessoas. Acho que são muito boas, muito francas, muito quentes. Claro que há também as touradas. Gosto muito mais até de ir à praça de toiros do que ver pela televisão. Gosto da comida. Adoro morcelas de arroz, molhinhos. E gosto muito de caracóis, embora isso haja em todo o lado.Como é que a sua filha tem reagido ao vê-la em jornais, na televisão?Fica contente, diz que a mãe é uma estrela. E o resto da família?A minha mãe está contentíssima. A minha tia da Louriceira recebe telefonemas de pessoas a dizer que me viram na televisão. Amigas minhas que já não vejo há anos mandam-me e-mails a dar os parabéns.Tem sido complicado gerir a agenda?Em termos profissionais tem. Nestas duas últimas semanas tinha coisas para fazer que não consegui. Foi só praticamente trabalhar com jornalistas.

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