
Unidade de extracção de areias na Chamusca sem condições de segurança
Pescador morreu ao cair ao Tejo num local que não está vedado nem tem avisos de perigo
A área concessionada a uma empresa do grupo Lena para retirar areias do Tejo, no Porto do Carvão, está aberta a qualquer pessoa apesar de haver lagoas profundas no local e equipamentos de extracção.
A zona de extracção de areia na Chamusca onde no domingo morreu um pescador é uma área perigosa sem qualquer sistema de protecção. O local, no Porto do Carvão, na área da zona industrial da vila, está concessionada à Lena Agregados, do grupo Lena, há mais de cinco anos. É um sítio onde se desenvolve uma actividade industrial licenciada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo com a anuência da Câmara da Chamusca, mas à qual qualquer pessoa pode ter acesso. Numa extensão de mais de 50 metros na margem passa o tubo de extracção de inertes e existem lagoas com alguns metros de profundidade para onde é despejada a água da lavagem de areia. E onde qualquer pessoa mais incauta pode cair. Não há qualquer vedação ou aviso a impedir o acesso à zona concessionada. Quando a empresa ligada à Construtora do Lena começou a laborar no local ainda foi colocada uma rede vermelha de plástico para impedir que as pessoas acedessem ao local das lagoas e das tubagens, mas a vedação foi danificada e nunca mais foi reposta, já lá vão alguns anos. Há muito tempo que não morria alguém no Tejo naquela zona. Antigamente os acidentes aconteciam porque o rio era mais perigoso devido ao facto do caudal ser maior e as pessoas foram sendo sensibilizadas para os riscos de tomar banho no rio. José Marujo é um dos habitantes da Chamusca que costuma ir à pesca para o local e confessa que há muito que temia uma tragédia porque é normal verem-se pessoas empoleiradas nos tubos à pesca. Quem habitualmente usa o Porto do Carvão reconhece o perigo que representa a extracção de areias. Mário Ferreira é um deles e considera que no mínimo a empresa devia colocar uma placa com a indicação de proibição de circulação na zona. O pescador de lazer confessa que já uma vez andou em cima dos tubos de onde caiu a vítima, Manuel Reis, de 57 anos. “O cano é muito escorregadio e se houvesse pelo menos avisos, já nem digo uma vedação, as pessoas já não arriscavam”, salienta. Ao contrário do que acontece no areal onde passam os tubos, a área da empresa onde está o escritório e onde é guardada a areia extraída, a poucos metros do rio, está vedada por uma rede metálica e tem portões fechados a cadeado. Apenas na estrada que dá acesso ao areal há uma placa com a inscrição “Zona Perigosa – área de extracção de inertes”. O próprio comandante dos Bombeiros Voluntários da Chamusca reconhece a perigosidade do local. “As condutas são escorregadias e é necessária alguma perícia para caminhar em cima delas”, refere Manuel Rufino. Questionado, o presidente da Câmara da Chamusca, Sérgio Carrinho (CDU), considera que não é possível ter um polícia, uma vedação ou placas de perigo em todos os sítios. O autarca atribui o acidente à improvidência e falta de cautela realçando que se fosse ele que chegasse a uma exploração industrial não entrava por precaução. Refira-se que o areeiro está localizado num terreno municipal e que a câmara municipal recebe em contrapartida 25 cêntimos por cada metro cúbico de areia extraída. O acidente ocorreu às 15h30 de domingo, dia 31. O corpo de Manuel Reis, residente na freguesia de Fátima, concelho de Ourém, foi retirado da água pelos bombeiros às 17h00. Desconhece-se se a vítima sabia nadar ou se terá ficado presa por baixo das bóias que sustentam as condutas. Manuel Reis pescava em cima dos tubos quando escorregou e caiu à água numa zona com uma profundidade de cerca de cinco metros. O MIRANTE contactou a empresa Lena Agregados no sentido de saber se a empresa vai tomar alguma medida de protecção do espaço, mas até ao fecho da edição não se obteve resposta.

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