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Um dia destes falei de Carlos Amaral Netto, um político da minha terra já falecido, que era à altura do 25 de Abril de 1974 presidente da União Nacional, hoje Assembleia da República. Veio à conversa o episódio à volta da toponímia chamusquense e o facto de no período revolucionário o nome de Carlos Amaral Netto ter sido arrancado da parede como foram muitos outros ligados ao antigo regime. Fiquei com o assunto de memória porque o meu interlocutor confessou saber que Carlos Amaral Netto sempre disse que não queria nome de rua enquanto fosse vivo. Parece que adivinhava. Por isso, dizia o meu interlocutor, o seu desgosto foi maior quando soube que os populares tinham arrancado a placa toponímica com o seu nome. Aquele espectáculo foi para ele mais humilhante que tudo o resto. Afinal esta era a sua terra e este era o povo que estava mais próximo de si e que ele cumprimentava todos os dias quando estava na Chamusca.Conheci Carlos Amaral Netto nos últimos anos da sua vida. Conversei com ele algumas vezes e confesso que não lhe vi rancor ou despeito pela sua terra e pelo seu povo. Lembro-me dele logo a seguir ao 25 de Abril e de o ver regressar do campo em botins, cheios de lama, passando do escritório para a sua casa, com aquele corpo já um pouco pesado da idade. O pessoal que estava ali perto da câmara municipal (na altura a “revolução” fazia-se todos os dias), via-o passar e nem bulia. Era como se ele fosse um cidadão normal. E no entanto passava por nós a segunda figura do antigo regime.Depois desta conversa sobre Carlos Amaral Netto aconteceram duas situações curiosas. Caiu-me em cima da secretária uma biografia de Rafael Duque (1893-1969), e descobri num mapa de Lisboa uma rua com o seu nome. Quem conhece bem a Chamusca e a região sabe que Rafael Duque foi um dos maiores proprietários de terras e um homem muito influente, tendo desempenhado entre outros cargos o de presidente da câmara. Ministro muito influente do Governo de Salazar, nos anos difíceis da guerra, a placa toponímica com o seu nome numa rua da Chamusca também caiu no período revolucionário do 25 de Abril. Em Lisboa mantém-se até aos dias de hoje.Rafael Duque teve quatro filhos. João Duque, o seu filho mais novo, hoje com 82 anos, está na origem da publicação deste livro. Homem de letras, advogado de profissão, também ele foi figura importante do anterior regime tendo passado pela presidência da Administração da RTP durante os anos sessenta. Ainda hoje tem casa na Chamusca onde faz a gestão da sua casa agrícola.O texto que se publica nestas páginas é uma tentativa de contar um pouco a história de outros tempos com episódios e declarações dos nossos dias. Encontrar uma rua em Lisboa com o nome de Rafael Duque foi o pretexto para este trabalho. Mas também não é todos os dias que um filho encomenda uma biografia de um pai que foi Super Ministro de um Governo de Salazar. JAE

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