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O supervisor de operações de voo que se apaixonou pela pintura

O supervisor de operações de voo que se apaixonou pela pintura

Começou a pintar depois de se reformar e já recebeu várias menções honrosas

Naif, realista e impressionista. Arménio Leite Ferreira, ex-funcionário da TAP, começou a pintar quando se reformou, há 15 anos. Aos 73 anos expõe por todo o país. Ver Vídeo: http://www.omirante.pt/omirantetv/noticia.asp?idgrupo=2&IdEdicao=51&idSeccao=514&id=24286&Action=noticia

Foi sargento e chegou mesmo a embarcar em três comissões para o Ultramar. Mas com um filho pequeno e uma mulher exigente rápido percebeu que não era a vida com que sempre sonhara. Aos 34 anos, Arménio Leite Ferreira que nasceu em Braga, mas que cedo descolou da cidade minhota para vir aterrar em Alverca, decidiu entrar na TAP, onde foi, durante mais de 20 anos, supervisor de operações de voo. Há 15 anos entrou na pré reforma e descobriu um talento muito especial: a pintura. Encontrou o seu espaço de refúgio e a sua forma de ocupação. “Às vezes estou chateado, aborrecido com alguma coisa e fecho-me no atelier a pintar. Quando saio de lá, já venho muito mais bem disposto, mais descontraído, liberto mesmo”, garante este pintor que foi um dos fundadores do Grupo de Amigos de Arte (GART). Pintor, mas com algumas reticências, segundo o próprio. É que Arménio Leite Ferreira não se considera bem um artista. Diz que é um pintor caseiro ou artesanal. “Não tenho técnicas nenhumas, ninguém me ensinou a fazer isto ou aquilo. Acho só que tenho habilidade e que desenho bem”. À boa maneira naif, poderia ser um pintor de domingo. Mas não. Arménio Leite Ferreira define-se também realista e impressionista. Salvador Dali e o Mestre Isabelino são as suas referências.O primeiro trabalho que realizou foi a recriação de um canal em Veneza e de lá para cá, diz que já evolui bastante, mas que quer evoluir muito mais. Já expôs um pouco por todo a parte. Sempre em exposições colectivas. De Loulé a Lisboa. De Arruda dos Vinhos a Salvaterra de Magos. Diz que a sua pintura é muito demorada e vagarosa e que às vezes chega a pintar à lupa. Mas nada que o incomode. “Não estou a pintar para viver, por isso tenho todo o tempo do mundo”, conta. Todos os seus trabalhos são temáticos, figurativos e pintados a acrílico. Privilegia o verde, o amarelo e o cor-de-rosa. Gosta de pintar de tudo um pouco. Sempre com muita imaginação, primordial no acto da criação. “ Gosto sobretudo de passar para a tela o que estou a ver à minha frente”. Mas sublinha que prefere pintar paisagens rurais. Daí que o Ribatejo tenha uma força determinante na obra do artista. É sobre os cavalos, o Tejo, os campos em flor e os cais que recaem as suas atenções. E foi precisamente com um quadro da praça do município de Vila Franca de Xira que ganhou uma menção Honrosa da galeria de arte do Casino Estoril (ver caixa).A menção honrosa vem juntar-se a muitas outras. Atribuídas pela Câmara Municipal da Lousã, Salvaterra de Magos e Câmara de Guimarães. Mas os elogios nunca apanharam Arménio Leite Ferreira desprevenido. Diz a sua esposa, Maria Tomázia, que o marido não é nada envergonhado. “Pelo contrário é muito vaidoso naquilo que faz”, garante. Quanto ao seu próximo quadro poderá vir a ter como mote a Feira de Outubro que se realiza todos os anos em Vila Franca de Xira.Apesar de assumir que é um pouco preguiçoso, Arménio Leite Ferreira já pintou centenas de quadros, ofereceu muitas dezenas e vendeu outras tantas. Não consegue contabilizá-las. Todavia, não foi preciso resolver grandes quebra-cabeças para nos dizer quais são as suas principais galerias. As paredes de casa do filho, dos familiares e dos amigos. E, apesar de nunca ter pensado em vender os seus quadros, daí que não faça exposições individuais, abordagens de compradores não lhe faltam. E já tem telas espalhadas por França, Luxemburgo, Macau e Brasil. Uma exposição “naif”Arménio Leite Ferreira integrou o grupo de artistas que expôs em Setembro na Galeria de Arte do Casino Estoril. À mostra levou dois quadros. Um a retratar o adro da praça do município de Vila Franca de Xira no início do século passado. Outro inspirado na procissão de Santo António em Ponte de Lima. “Fiquei espantado quando recebi uma carta de Lima de Carvalho a dizer que aceitava os meus quadros no Salão Internacional de pintura naif do Casino Estoril. Era uma ideia que eu já tinha há muito tempo”, confessa Arménio Leite Ferreira. “Gostei muito dos trabalhos dele e achei-os autênticos ao mesmo tempo que se inseriram perfeitamente dentro da área do naif”, explica o director da galeria de arte do Casino Estoril, Lima de Carvalho. O salão já se organiza há 29 anos e na génese da sua criação esteve a jornalista Manuela de Azevedo. Arménio Leite Ferreira tenciona dizer “presente” neste salão já no ano que vêm. “Já comecei a pensar no quadro com que vou concorrer para o ano que vem”, frisa.A arte primitiva modernaA pintura naif é produzida por artistas sem preparação académica. São na sua maioria autodidactas e o primeiro contacto que fazem com a arte dá-se em idade avançada. Muitas vezes pintam fora do contexto das correntes artísticas do seu tempo. Os aspectos fundamentais desta pintura caracterizam-se pela minúcia dos pormenores, emprego das cores primárias e representação ingénua e figurativa de assuntos populares, como paisagens rurais, trajes folclóricos ou animais domésticos. O francês Henri Rousseau é um dos expoentes da arte naif. No panorama nacional o paradigma da corrente é o Mestre Isabelino. Em Guimarães existe o único museu de arte naif do país: o Museu de Arte Primitiva Moderna.Uma família com queda para a pinturaNo seio da família Leite Ferreira o fascínio pela pintura prolonga-se a outros elementos. A esposa, Maria Tomazia, é especialista em crítica de arte. “É a minha maior crítica e também me dá muitas ideias”, refere Arménio Leite Ferreira. O bichinho da pintura também já chegou às netas do casal. Tanto Inês, 13 anos, como Leonor de 10, já acompanharam Arménio Leite Ferreira em pinturas ao vivo. Dizem que gostam muito de pintar e o avô reconhece-lhes o mérito. “As miúdas têm muito jeito para a pintura. A mais nova cria e a mais velha recria”. Quanto ao seu neto mais novo, o Dinis, por ser ainda muito pequenino, não desconfia sequer que a garagem do avô é o paraíso das cores, das tintas e dos pincéis. “Quando descobrir é que vai ser bonito!”, garante o avô, que não deixa de descortinar um pequeno desejo de que o neto também se ajeite nas lides das aguarelas e dos acrílicos.
O supervisor de operações de voo que se apaixonou pela pintura

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