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Um profissional do volante que não se imagina a fazer outra coisa

Um profissional do volante que não se imagina a fazer outra coisa

João Direitinho tem 46 anos e é motorista desde os tempos da tropa

O motorista diz que é o que mais gosta de fazer. Nunca teve acidentes, mas de sustos não escapou.

Anda de um lado para o outro rasgando sempre os mesmos caminhos. Confessa que não anda nestas andanças pelo salário que aufere no final do mês. Afinal, faltam-lhe 16 cêntimos para arrecadar os 600 euros mensais. João Direitinho é motorista de pesados de passageiros na Boa Viagem e diz que é a coisa que mais gosta de fazer. “Sempre gostei muito de conduzir e não me imagino a fazer mais nada”. Mesmo se vive com o receio de que alguém lhe assalte a bilheteira ou se no final do dia chega a casa com a “cabeça moída”. É que para além da condução, tem os bilhetes, os trocos e as queixas dos passageiros mais exigentes, explica. Valem-lhe as “belas paisagens” que enxerga da janela das camionetas que conduz há mais de 14 anos. E reconhece que de lá para cá muita coisa mudou: “A frota, com o passar dos anos desenvolveu-se muito. Quando cheguei à Boa Viagem conduzia as antigas AEC, muito menos confortáveis e ainda sem ar condicionado.” Quanto às estradas, também lhes nota melhorias: “Antigamente chegava a andar em estradas de terra batida. Era sempre uma poeirada danada”, discorre. João Direitinho nasceu no Alentejo, em Montemor-o-Novo, mas cedo se mudou para Vila Franca do Rosário, na Malveira. Hoje, vive em Alenquer. É casado e tem dois filhos. Estudou até ao 7º ano e a partir daí o volante nunca mais o deixou. “Comecei por conduzir o tractor que o meu pai tinha na quinta, onde trabalhava. Quando fui para a tropa fui motorista do comandante. E antes de ingressar na Boa Viagem fiz serviço de transportes internacionais”, conta. João Direitinho prefere “de longe” fazer o serviço regional. É que assim tem a garantia que pode ir dormir a casa. São quilómetros e quilómetros de estrada que percorre todos os dias e em horários diferentes, entre Sobral, Vila Franca de Xira e Torres Vedras. Acidentes nunca os teve, mas de sustos valentes não escapou. “O último dos sustos foi em Agosto do ano passado. Estava na A1 e um ligeiro atravessou-se à minha frente. Tive de travar bruscamente e não sei bem como é que me consegui livrar do pior”. João Direitinho sabe que contribui para encurtar as distâncias daqueles que, à força de os transportar, já lhe conquistaram o apreço. E também para aqueles que nem sequer os bons dias lhe dão. “A maioria dos passageiros não é muito educada, nem sequer me cumprimenta, mas já fiz muitos amigos. Pudera! São anos e anos de companhia”, conta. Passageiros estes que não param de aumentar. “Com o preço da gasolina sempre a subir, as pessoas recorrem mais aos transportes públicos”, diz. Segundo o motorista, a empresa, onde sempre foi bem tratado, lucra e o ambiente agradece. Aos 46 anos, João Direitinho diz que é um homem realizado. Mas, mesmo assim, não aconselha os filhos a seguirem os caminhos do pai. “É uma vida de risco e é muito cansativa, gostava que os meus filhos escolhessem outra coisa”. Mas conselhos não lhe faltam para dar aos condutores: “Tenham uma condução segura e respeitem sempre os outros que também andam na estrada”. Quanto aos colegas deixa uma achega bem concreta: “Lutemos por salários melhores olhemos com optimismo para o dia de amanhã ”.
Um profissional do volante que não se imagina a fazer outra coisa

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