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O pedreiro que se tornou varredor pelos acasos da vida

José Rodrigues limpa o lixo que os outros produzem no espaço público

Gosta do que faz e não se incomoda por andar a zelar pela limpeza das ruas. Prefere andar a limpar as ruas da cidade do que estar o dia todo fechado num escritório.

José Manuel Rodrigues começa a trabalhar, pontualmente, às oito da manhã. Pega no seu carro-vassoura automático e percorre as ruas da cidade de Almeirim a limpar o que os cidadãos sujam. Confessa que já viu cidades e vilas bem mais sujas mas, ainda assim, considera que os almeirinenses poluem muito o ambiente.Se existem profissões que se modernizaram com o desenvolvimento tecnológico e da sociedade a profissão de varredor foi uma delas. O carrinho a rodas que suportava dois caixotes do lixo de plástico que o varredor transportava juntamente com a vassoura de palha deu lugar a um veículo eléctrico que aspira o lixo para um recipiente no interior do carro e até controla o tempo que está a trabalhar.“Com este varredor automático não posso pensar em desligá-lo e ir até ao café descansar uma vez que ele conta o tempo de trabalho. Tenho que fazer oito horas e temos que dar o desconto uma vez que quando o saco do lixo enche temos que parar e trocar de saco e esses momentos é como se estivéssemos parados”, explica enquanto aponta para o cronómetro digital do seu instrumento de trabalho.José Rodrigues gosta do que faz e não se incomoda por andar a varrer as ruas. O varredor prefere andar a limpar as ruas da cidade do que estar o dia todo fechado num escritório. Vê pessoas amigas e conhece todas as ruas por onde costuma trabalhar. O único inconveniente é, na sua opinião, o barulho que o carro-vassoura faz.Natural de Fazendas de Almeirim, José Manuel Rodrigues tornou-se varredor da Câmara Municipal de Almeirim por necessidade. Percebe-se que é um homem lutador que não vira as costas a um desafio. Já fez de tudo um pouco. Começou a trabalhar aos 14 anos como empregado de balcão. Teve um restaurante e o seu primeiro emprego na construção civil foi a construção do Hospital de Santarém.Foi como pedreiro que trabalhou até 2007, altura em que, sem estar à espera, ficou desempregado de um dia para o outro. “Trabalhava para esse patrão há mais de nove anos e, de repente, ele foi para Angola e fiquei sem emprego. Foram momentos muito complicados”, afirma.José Rodrigues viu-se, assim, aos 50 anos, sem emprego e com um filho para criar e contas para pagar. Procurou mas não encontrou. Inscreveu-se no Centro de Emprego à espera que aparecesse um oportunidade. Oportunidade essa que surgiu cinco meses mais tarde. O varredor foi contratado para trabalhar nos serviços da Câmara de Almeirim.A câmara abriu uma vaga para varredor e José Rodrigues concorreu e ficou. Uma profissão nova que o varredor encara com a maior seriedade possível. “Quando fiquei desempregado desesperei. Trabalharia no que fosse preciso. E felizmente encontrei este emprego e gosto do que faço”, refere, acrescentando ainda que um dos pontos mais importantes é a relação de amizade que estabeleceu com os colegas. “O bom ambiente de trabalho reflecte-se na produção do trabalho”.Assim que chega aos serviços do ambiente da Câmara Municipal de Almeirim são dadas a José Rodrigues indicações sobre o trajecto daquele dia. Nem sempre percorre as mesmas ruas. O trabalho é dividido por zonas. O varredor explica que, ao contrário do que se possa pensar, os locais onde existe maior aglomerado populacional, as novas urbanizações, são os locais mais limpos.“Os mais jovens têm maior noção dos cuidados a ter com o meio ambiente, separam o lixo e colocam nos ecopontos. Algumas pessoas, a maioria mais velha, não aprenderam isso e não têm essa preocupação. Alguns ainda deixam o lixo à porta de casa”, explica.Preocupação com a poluição e o meio ambiente, José Rodrigues sempre teve. Mesmo antes de ser varredor. Confessa nunca ter tido o hábito de deitar lixo no chão e não gosta de ver quem o faz. Pastilhas, papéis, sobretudo de publicidade, e até jornais, o varredor apanha do chão. O funcionário da Câmara de Almeirim apela ao bom senso da população para a necessidade de proteger o meio ambiente. “Temos que tomar consciência que se não cuidarmos do nosso planeta a espécie humana corre um sério risco de desaparecer. E mais depressa do que pensamos”, alerta.

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