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Santarém vai estar na moda

Gosto muito da minha terra, da minha região e do meu país mas gosto ainda mais de me sentir cidadão do mundo. Um dia destes iniciei uma viagem de férias e comecei por Madrid onde, logo no primeiro dia, tive uma reunião de trabalho no Instituto Cervantes numa visita ao Cervantes TV.O canal mostra algum trabalho de uma das maiores instituições do país vizinho cuja missão é divulgar por todo o mundo a língua e a cultura espanhola. Em Portugal existe uma instituição parecida chamada Instituto Camões.Já vi dezenas de vezes representações das duas entidades em iniciativas ligadas à cultura em vários países e cidades do mundo. Comparar o investimento espanhol e o português na divulgação da língua e da cultura dos dois países é comparar o céu cheio de estrelas a um ovo estrelado. Dizem que a maior editora de língua portuguesa é espanhola. Não posso confirmar mas não é difícil concluir que sim. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde se realizam duas das maiores feiras do livro do mundo, os espanhóis estão presentes na sua máxima força. A grande representação portuguesa é a barraquinha dos doces com as queijadas de Sintra, os ovos moles de Aveiro e os pampilhos de Santarém.Nos lugares mais imprevisíveis das grandes cidades encontramos o El País numa edição para toda a América Latina, para além de outros títulos nomeadamente de revistas em língua espanhola. Encontrar um jornal português no Brasil só nos aeroportos e nas mãos dos viajantes que acabam de desembarcar. Tenho vontade de rir da cara que fazem os editores portugueses quando discutem o novo acordo ortográfico. E pelo que eu me rio imagino o quanto os espanhóis se divertem à nossa custa. Neste capítulo sou tão pessimista como José Saramago. E agora compreendo melhor por que é que os nossos vizinhos se empenharam tanto para que o português da Azinhaga do Ribatejo ganhasse o prémio Nobel.Passei os últimos dois dias a passear por uma rua de S. Sebastian a namorar uma edição ilustrada de Afrodite de Pierre Louys, datada de 1917, um dos meus autores de culto. Já estou noutra cidade. O livro ficou na estante do alfarrabista. Tenho cinco ou seis edições diferentes deste livro e perdi a oportunidade de comprar a mais antiga, a mais completa e a mais bonita de todas as que já vi até hoje. Definitivamente sou muito mais leitor que coleccionador.“Um dia destes Santarém vai estar na moda”. Tomei nota da frase a meio de um telefonema com alguém influente no Governo de Sócrates que reconhece o trabalho importante do actual Presidente da Câmara, Francisco Moita Flores.Não sei se a moda vai pegar. O que eu sei é o que vejo quando salto de Burgos para Bilbao, depois para S. Sebastian, Vitória, Pamplona e Saragoza, que são apenas cidades médias de Espanha que estão organizadas e oferecem condições de vida de fazer inveja a qualquer portuga. JAE

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