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“Faltam crianças nos museus”

Pedro Cabral Santo foi convidado do Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira

Em Portugal faltam crianças nos museus. A fruir a arte, tal como se vê em Espanha. “Deveríamos ter descoberto a cultura no século XVI e agora estamos a tentar recuperar o tempo perdido”, diz o artista plástico, Pedro Cabral Santo.

O artista plástico Pedro Cabral Santo, autor da exposição “Pedro e o Lobo” que integrou o ciclo de exposições de arte contemporânea “The Return of the Real”, que esteve patente até 4 de Outubro no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, foi um dos convidados da sessão “Encontros com artistas e escritores” que decorreu no sábado no auditório do espaço cultural.Pedro Cabral Santo trouxe para a exposição dois trabalhos. Um mais antigo, de um vídeo que mostra um gelado a derreter que, segundo o autor, mostra o desespero da humanidade. “Todos somos fortes, capazes de enfrentar o mundo. Mas quando nos aparece um problema muito grave e sério que nos coloca em causa regredimos a um estado primitivo de medo”, explica.O artista fez questão de expor no museu um trabalho novo que não fosse uma passagem meramente circunstancial mas que contribuísse para confrontar as pessoas. Lembrou-se da história do Pedro e do Lobo. Na sua opinião também pode ser considerada uma história para adultos uma vez que por detrás da fábula existem dois estados de espírito muito particular dos adultos.“Um é o nosso estado de espírito natural que nos acompanha desde sempre, ou seja, a nossa capacidade e disponibilidade para respondermos perante um advento de forma sincera, animal até. O outro estado de espírito é uma construção permanente daquilo que é o nosso habitat artificial que chamamos pomposamente, habitat cultural. O Pedro e o Lobo é uma metáfora entre estes dois ambientes. Um natural e selvagem e outro artificial que é cultural. Penso que todos temos um pouco de Pedro e um pouco de Lobo e foi essa ideia que quis transportar”, refere.Foi por isso que decidiu construir um lápis azul, gigante, suspenso no ar. A maioria das pessoas associaram aquela obra ao lápis da censura, dado o passado recente de Portugal em que o chamado lápis azul determinava o que podia ser publicado ou não durante o regime de ditadura política em que vivíamos.“Este lápis da censura não é apenas o lápis português. A censura é um acto universal, a parte negativa que os seres humanos têm em criticar os outros. Todos censuramos no dia-a-dia. É um procedimento intelectual que faz parte de todos nós”, afirma. Para Pedro Cabral Santo uma obra de arte só o é se conseguir provocar emoções fortes.O artista e professor de artes plásticas lamenta o facto de Portugal não ter tradição no mundo das artes. E explica a razão. “Portugal nunca se preocupou internamente para ter pintores e artistas criando academias no nosso país. Nunca tivemos elites que se preocupassem com a importância das artes. Acordámos para o mundo há muito pouco tempo. Deveríamos ter descoberto a cultura no século XVI e agora estamos a tentar recuperar o tempo perdido”, salienta.Pedro Cabral Santo recorda um episódio que nunca lhe saiu da memória e explica a diferença cultural entre Portugal e outros países. “Quando tinha 14 anos fui com o meu tio e os meus primos ao Museu do Prado, em Espanha. Fiquei surpreendido com a quantidade de crianças que estavam no museu, a um sábado de manhã, com lápis de cor e folhas de desenho entusiasmados a olhar para grandes obras de Rodin ou Picasso. Estas experiências ficam na memória das crianças e fá-las ver o mundo com outros olhos. É o que falta em Portugal. Crianças nos museus”, afirma.

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