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Um brinde para comemorar o dia em que o poder deixou a coroa

Um brinde para comemorar o dia em que o poder deixou a coroa

Populares reuniram-se em Valada para piquenique em homenagem à República
Dois homens temperam um porco com ramos de louro. Enquanto o petisco vai assando no espeto as mulheres acabam a salada e distribuem o pão. Os carros vão estacionando discretamente na sombra do parque de merendas de Valada, Cartaxo, até que de repente soa um grito: “Viva à República!”. A voz de Luís dos Reis, 69 anos, quebra a monotonia da tarde. O piquenique para comemorar a implantação da República, no domingo, 5 de Outubro, já começou. Os 98 anos sobre a mudança de regime merecem ser assinalados. Se for com vinho tinto da região tanto melhor. “Os cargos públicos deixaram de ser adquiridos por herança e passou-se a ter em conta o valor das pessoas. Ainda vemos umas coisas parecidas, mas isso é outra história”, diz entre gargalhadas o conviva, rodeado dos netos. Luís dos Reis já se rendeu ao sistema que não sendo perfeito é o menos imperfeito que se conhece, já dizia Winston Churchil, primeiro-ministro inglês em meados do século passado, a propósito da democracia. Os convivas distribuem-se pelas mesas. O porco no espeto foi oferecido à população, mas populares apareceram poucos. Para colorir o espaço vale a presença de pouco mais três dezenas de convidados. “Talvez por causa da crise económica as pessoas acham que ninguém dá nada a ninguém”, atira o comensal que veio de Santarém com a família. Mais ao fundo um grupo de jovens. São músicos da Sociedade Filarmónica Incrível Pontevelense. A festa é para comemorar a República, diz Maria Maltez, 14 anos. “Deu-nos a possibilidade de votar e escolher o presidente”, completa Ricardo Godinho, 14 anos. Sabe de cor o último rei de Portugal – D. Manuel II – mas o primeiro Presidente da República – Manuel de Arriaga - é mais difícil de nomear. “Culpa da escola”, sentencia Maria de Lurdes Nunes, 50 anos, porque a história mais contemporânea está em falta nos manuais escolares. O presidente da Câmara do Cartaxo considera que os eventos informais podem ser mais eficazes a passar a mensagem, sobretudo aos jovens. E em dia feriado reina a informalidade. Os presidentes das câmaras do Cartaxo (Paulo Caldas-PS) e de Santarém (Moita Flores – PSD) quase passam despercebidos. Mas a falta do autarca de Alpiarça (Rosa do Céu – PS), que em colaboração com os dois concelhos organizou as comemorações de forma tripartida, é notada. De volta à mesa, longe de politiquices, António Costa, 67 anos, comerciante, levanta um copo de tinto em copo de plástico. Se vale a pena comemorar a República? “Claro que sim. Daqui a 50 anos não sei… Mas o que é certo é que se não fosse a morte do rei não estávamos aqui todos”, diz com humor, ressalvando mais a sério que nunca a perda da vida de alguém seria motivo para brindar. “Brindemos à morte da monarquia”, remata.
Um brinde para comemorar o dia em que o poder deixou a coroa

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