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Corvêlo de Sousa quer fazer novo mandato como presidente

Corvêlo de Sousa quer fazer novo mandato como presidente

Autarca de Tomar diz que sentiu o peso do poder e confessa que o cargo é estimulante

Fernando Corvêlo de Sousa, 61 anos, jurista, ficou com a presidência da Câmara de Tomar nas mãos em Fevereiro passado, após o então presidente António Paiva ter renunciado ao mandato para ocupar um cargo na CCDR Centro. Diz que está disponível para se recandidatar ao cargo, mesmo após ter visto o seu vice-presidente manifestar a intenção de lhe disputar o lugar. Diplomaticamente, diz que não há qualquer problema com Carlos Carrão e que o trabalho do executivo não se tem ressentido.

O seu vice-presidente, Carlos Carrão, já se afirmou como o “candidato natural” do PSD à Câmara de Tomar nas próximas autárquicas. Vai abrir-lhe caminho, afastando-se de uma possível recandidatura?O que posso dizer é que cabe ao partido escolher o candidato.A distrital do PSD já disse que todos os presidentes de câmara eleitos pelo partido têm luz verde para se recandidatarem, se assim o quiserem.Já disse que estou disponível. Estou interessado pois acredito que temos condições para concluir um conjunto de iniciativas que se foram tomando nos últimos anos. Tenho o maior gosto em ficar pelo menos até se ver um conjunto de coisas. Como a nova ponte e todos aqueles arranjos exteriores. Fica a faltar resolver o problema do Flecheiro e da comunidade cigana que ali vive em condições intoleráveis, mas temos procedimentos em curso para isso.Ficou surpreendido com essa posição do seu vice-presidente? Ou isso já tinha sido falado entre vós?A posição que o vice-presidente tomou, e que é relatada na última edição de O MIRANTE, corresponde a uma coisa que ele me tinha dito já há muito tempo: que havia necessidade de se fazer uma sondagem. Não vejo que haja aí qualquer problema.Acha natural que dentro do mesmo executivo haja duas pessoas disponíveis para serem candidatos pelo mesmo partido?Eu pergunto se os sete elementos do executivo não estão todos disponíveis...Sim, mas estarem disponíveis é uma coisa e dizê-lo claramente e em público é outra?Admito que sim. Uma posição desse tipo pode ser encarada como uma forma de pressão sobre o partido? Sabendo-se, para mais, que o partido já tem uma posição definida.Se o partido não tivesse uma posição definida é que podia ser pressão. Uma vez que o PSD já definiu a sua posição, e que o vice-presidente da câmara acabou por corrigir aquilo que tinha dito no sentido de se integrar nas decisões que o partido já tomou, penso que não há incidente nenhum. Essa situação não vai minar a coesão do executivo até final do mandato, dando trunfos à oposição?Não minou até agora. O caso é recente.É. Mas já passaram uma semana ou duas e até agora não tem tido o mínimo reflexo no trabalho. Não houve aí uma quebra de solidariedade por parte de Carlos Carrão?Não acho que houvesse uma quebra de solidariedade. Para quem vem da actividade privada a concorrência e a capacidade de escolha é uma vantagem.Encara então como normal, e positiva até, esta situação?Não vejo por que não.Não há aí um desvalorizar da polémica?Se se pusesse a questão ao contrário, nessa altura diríamos que o executivo não tinha mais ninguém capaz. E não é o caso. Ou seja, não tenho receios e acho que até agora o trabalho não se ressentiu. Como vai ser a relação com Carlos Carrão até final do mandato?Não gosto de fazer suposições, mas não tenho razão rigorosamente nenhuma de queixa.Acha que pode estar a pagar o preço por não ser filiado no PSD? Há gente no partido que já disse que havia demasiados independentes na câmara.Penso que os partidos têm os problemas que toda a gente conhece. O 25 de Abril foi há pouco tempo em termos de formação das mentalidades. E estamos a aprender a viver em democracia. Espero que passemos brevemente a ter a noção de que é bom que toda a gente diga aquilo que entende.Mas há uma coisa que se chama disciplina partidária. Que às vezes serve para umas coisas e depois não serve para outras, consoante os interesses em jogo.Os partidos têm defeitos, como tudo aquilo em que os homens se metem, mas ainda não se encontrou sistema melhor do que o democrático. Sempre que há uma organização de pessoas há defeitos. Estas coisas fazem parte da vida. Falar é importantíssimo, na minha opinião, mas também é importante fazer. E quando se está na política é fundamental que se façam coisas. Penso que esta equipa, quer antes de Fevereiro com o António Paiva, quer depois, tem claramente feito aquilo que o concelho precisava. Não tudo, como é óbvio. Consigo, já há quatro candidatos assumidos à Câmara de Tomar quando estamos a um ano das eleições. Não tive preocupação nenhuma de me afirmar como candidato, entre outras razões por haver tanto para fazer que essa questão faria todo o sentido que se levantasse mais tarde. Acho que é muito cedo.Na sua opinião, qual a razão para terem aparecido tão cedo tantas candidaturas?Não sei. Talvez insegurança.Marcação de território também?A marcação do território normalmente provém da insegurança. Mas não estou a criticar ninguém por isso. E desejo que quem pegue na câmara não deixe de suportar os encargos que são grandes, mas também não deixe de fazer obra. “Nunca dediquei muito tempo à política”Sempre foi um interessado por política?A política, se a gente não lhe liga nenhuma, vem ela meter-se connosco. Nunca dediquei muito tempo à política. Fui desenvolvendo uma actividade mais intensa na área privada.Só entrou na política quando veio para a câmara?Não é bem isso. Sempre desenvolvi uma intervenção que é conhecida, designadamente a nível associativo. E acho que se faz política nas associações. Mas a política activa, entre aspas, só surgiu com o convite de António Paiva. Nunca pensou em filiar-se no PSD?Não tenho nada contra isso. E como estou com o PSD se tivesse de me filiar seria nesse partido. É uma coisa que está em aberto.Não faz parte das suas prioridades?Não faz, mas também não é nenhum tabu. Mantém o contacto com António Paiva?Sim. Não é pessoa que veja todos os dias mas mantemos o contacto regular.São amigos?Acho que sim. Claramente.Quando surgiu a oportunidade de entrar na actividade autárquica como reagiu a sua família?Apoiou-me.É uma pessoa que gosta de arriscar?Não tenho medo do risco, no sentido de que gosto de experimentar, de desbravar novos caminhos. Isso fez parte da minha vida. Não fui só advogado. Concluí o curso já a trabalhar.Antes de se formar o que fazia?Depois de fazer a tropa fui director comercial numa moagem. Isso deu-me uma experiência de empresa, de contabilidade, de gestão. Aliás nunca fui advogado sem estar também ligado à gestão.“A presidência da câmara é estimulante”Está como presidente da Câmara de Tomar desde Fevereiro de 2008, quando António Paiva renunciou ao mandato. O que sentiu quando lhe caiu o poder nas mãos?Sente-se sempre o peso do poder. Passar de vice-presidente e vereador para a situação de presidente faz-nos sentir que não há mais ninguém. Não há recurso. Não se pode aderir à possibilidade de ir adiando. Tem de se dizer que sim ou que não.Como está a correr a experiência?Em tudo o que é política é importante ter a noção que quem está a fazer tem a sua própria noção das coisas. Quem está de fora tem uma posição muito mais objectiva para avaliar. E eu tenho sempre isso em conta. Do ponto de vista subjectivo acho que a actividade e a presidência da câmara é nitidamente estimulante. Tem-se a capacidade de fazer aquilo que entendemos ser importante.Sente mais motivação para um possível novo mandato como presidente de câmara do que sentiria se continuasse como vereador?Acho que isso é claro.É a vertigem do poder?Aí só posso dizer que espero não ter caído ainda nessa vertigem, nem vir a cair mais tarde. O poder tem aspectos positivos, o poder escolher ou propor alternativas é estimulante. Mas não podemos deixar de ter a perfeita noção de que as nossas opções em cada momento podem ser erradasParece ser uma pessoa reservada, que não gosta de dar nas vistas. É difícil lidar com as campanhas eleitorais?Já lidei com duas.Mas nunca como candidato a presidente.É verdade. Mas encabecei muitas das iniciativas e assumi essa função julgo que bem. É uma coisa que não me assusta. O facto de ser reservado não me impede de assumir uma função com a correspondente necessidade de exposição pública.Lida bem com essa exposição?Lido, designadamente tudo o que é deslocações às associações, às freguesias, que me dão o maior prazer. Não faço esforço nenhum por isso. Se as pessoas gostam de estar comigo ou não, isso já é uma pergunta para fazer a elas.Tomar perdeu protagonismo no espaço regional para cidades vizinhas do Médio Tejo como Ourém e Torres Novas. Foram só as novas vias de comunicação que motivaram isso?Tomar tem algumas características que são históricas e que não podem ser apagadas. Agora, que inegavelmente Torres Novas deu um salto é inegável. Um salto tanto mais significativo por durante muitos anos ter estado mais parada. Torres Novas aproveitou muito bem a sua localização junto à A23.O efeito auto-estrada que Tomar não conhece.Exactamente. Por sua vez, Ourém tem Fátima. Basta dizer que Fátima tem a capacidade de atrair milhões de turistas por ano. O que beneficia o concelho de Ourém. Penso no entanto que Tomar tem alguns valores que por serem históricos, por estarem agarrados ao chão e às pessoas, não deixa de ser o que sempre foi. Acho é que as características que apontei agora representam uma enorme responsabilidade para os executivos da câmara. Do ponto de vista turístico temos em Tomar um conjunto de valores que outros concelhos não têm.Falta potenciá-los?Temos realizado obras que não podiam deixar de ser feitas. Ainda há quatro anos os esgotos da parte nova da cidade iam em grande parte directamente para o rio. O concelho mudou nalgumas áreas, agora temos um segundo desafio que é partir para aquilo que é mais complicado, que é o imaterial. Tem a ver com o turismo, que em Tomar será sempre predominantemente ligado à cultura e ao património.A marca dos templários tem sido devidamente valorizada?Além dos templários há outra marca importante em Tomar que é a ligação ao judaísmo. Essa está menos estudada, porventura dará menos nas vistas, mas é igualmente importante. Temos a única sinagoga no país que está como foi de origem. Relativamente ao turismo, não faria mais sentido Tomar ficar agregada à região de turismo de Fátima, em vez de ficar diluída na Área de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo?Com essa característica ligada à História, à Igreja, aos católicos e aos judeus, temos uma relevância que se perderia se estivéssemos ligados a Fátima. Voltando atrás: Tomar perdeu muito com o desenho das acessibilidades das duas últimas décadas.Não há dúvida nenhuma. E aí insisto na intervenção nos mandatos do António Paiva. Foi determinante no sentido de conseguir o primeiro e o segundo troço do IC3 e o primeiro troço do IC9. Aguardamos agora que o Governo ponha o IC9 e o IC3 a andar.Futuro passa pelo turismoQuais são os grandes desafios de Tomar no âmbito deste novo quadro comunitário de apoio?Temos que continuar as obras estruturantes que ainda não foi possível fazer. Se há coisa que me satisfaz é dizer que passaram oito meses desde a saída do presidente António Paiva e não se deixou de fazer nada por esse facto. Tudo o que estava em projectos, tudo o que estava em obra tem continuado dentro dos tempos certos. Vamos ter de acabar as obras em curso e lançar as que já estavam em plano para candidatar a fundos comunitários.Como por exemplo?Os centros escolares já têm financiamento contratualizado. Os acessos à cidade, que são uma falha com dezenas de anos. Depois ainda há muitas daquelas infraestruturas que ficam enterradas, quer de água quer de esgotos, que também estão candidatadas. Para além disso, há uma candidatura de regeneração urbana, que inclui o acesso ao convento e o centro histórico, que já está em curso. E também a recuperação de uma coisa fundamental que são os Lagares d’El-Rei. Fundamental porquê?Digo fundamental não só pelo património em si, que é muito importante, mas porque me parece que pode ser uma peça estruturante da relação da cidade com o convento em termos de ganhos turísticos. Temos um número apreciável de visitantes no convento e há que levar esses turistas a descerem à cidade. Essa é uma questão recorrente.Exactamente, que toda a vida se pôs. Não há uma âncora na cidade. As pessoas perguntam por onde começar. Há coisas lindíssimas para ver a nível monumental, temos um centro histórico agradável de visitar, mas falta-nos um lugar, um símbolo, um espaço que seja âncora de tudo isso.Que podem ser os Lagares d’El-Rei?Sim. Pela sua dimensão, por juntar arqueologia industrial extremamente importante. Vai tornar-se um espaço extremamente atraente para quem seja turista em Tomar. A candidatura vai ser apresentada dia 24 à CCDR Centro. O seu homólogo de Mação defende a ligação do Médio Tejo à região Centro num futuro mapa regional. O PS defende a ligação do distrito de Santarém ao Oeste. O que pensa disso?A única forma de me pronunciar sobre isso é ter a percepção de qual é a fundamentação para uma e para outra das hipóteses.Faz sentido manter o distrito de Santarém todo junto numa mesma região?É inegável que o distrito de Santarém tem grandes diferenças. Pode sempre discutir-se isso. Mas o distrito como circunscrição administrativa tem um conteúdo muito volátil e não me parece que seja uma coisa importante para discutir. Quanto à regionalização, penso que é importante. Mas, em relação a possíveis opções, para já não gostaria de me pronunciar.Sente-se um ribatejano?Gosto de toiros e de cavalos e acho que Tomar tem alguma relação inegável com o Ribatejo. Que aliás curiosamente tem crescido. Hoje, por exemplo, os cavalos representam um elemento importante no turismo equestre.Jurista, dirigente associativo, empresárioCasado com uma professora do Politécnico de Tomar, sem filhos, Corvêlo de Sousa já estava habituado à intervenção pública antes de chegar à Câmara de Tomar pela mão de António Paiva. Foi dirigente de várias associações e tinha escritório de advocacia na cidade que o viu nascer há 61 anos. Melómano, trabalha ao som de música clássica, que se ouve durante a entrevista vinda do seu gabinete. Também gosta de música ligeira, só que não é tão compatível com o trabalho. “Não vivo da política nem quero estar pendurado por coisa nenhuma. Quem se mete na advocacia ou tem vocação para uma certa independência e algum risco ou então o melhor é mudar de profissão”, diz.Foi director da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo e esteve na origem da fusão de vários balcões que redundou na Caixa Agrícola do Ribatejo Norte. Antes de assumir funções autárquicas era sócio-gerente de uma empresa de comercialização de maçãs de Moimenta da Beira, terra do pai e a que mantém ainda forte ligação. Corvêlo de Sousa é nabantino de gema, nascido na Praça da República a poucos metros dos paços do concelho. Estudou no famoso Colégio Nun’Álvares como aluno externo antes de ir para a faculdade.
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