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Há quatro mandatos a passar para papel os episódios da política escalabitana

Há quatro mandatos a passar para papel os episódios da política escalabitana

Carlos Almeida é secretário dos serviços de apoio da Assembleia Municipal de Santarém

Regra geral, Carlos Almeida costuma dispensar duas semanas de trabalho para concluir uma acta de uma assembleia municipal.

Pode-se dizer que Carlos Almeida conhece os políticos de Santarém como ninguém. É secretário do serviço de apoio da Assembleia Municipal de Santarém, função que desempenha nos últimos 14 dos seus 44 anos de idade. Foi convidado por José Miguel Noras, então presidente da Câmara de Santarém, para trabalhar na assembleia municipal, anteriormente trabalhou no arquivo camarário, onde ficou ano e meio. O seu primeiro emprego foi como empregado de escritório na Fritejo, empresa de Almeirim entretanto encerrada.Todos os dias, Carlos Almeida tem por missão tratar de todo o expediente relativo à assembleia municipal. Dar andamento às propostas, moções e outros documentos aprovados nas sessões e escrever o texto das actas que serão aprovadas no início da assembleia seguinte. É ainda o elo de ligação deste órgão com a câmara municipal. Transcrever uma acta não é tarefa fácil. Regra geral, Carlos Almeida costuma dispensar duas semanas de trabalho para concluir uma acta de assembleia. “Os dois ou três primeiros anos foram de aprendizagem e a ganhar calo. Naquele tempo lembro-me que trabalhava com máquina de escrever eléctrica e qualquer engano inviabilizava o trabalho que ficava para trás. Era muito doloroso. Depois chegaram os primeiros computadores”, recorda com um sorriso.As transcrições não são literais. Carlos Almeida tenta fazer um apanhado das ideias essenciais das intervenções políticas e excluir a “palha”. Em boa parte, um trabalho que o jornalista também tem de fazer. “Não me lembro de, em todos estes anos, ter havido um voto contra alguma acta. De vez em quando surge alguma rectificação, mas de pormenor”, diz o profissional.Carlos Almeida não costuma fazer mais de duas horas e meia seguidas. Primeiro estrutura a acta por assuntos e, dentro de cada matéria, vai recolhendo os comentários emanados das bancadas políticas. “Não satura tanto, porque há determinados assuntos que demoram quase um dia a tratar”.No gabinete, paredes-meias com o salão nobre do Governo Civil, onde se realizam as sessões, tem a ajuda de computador, impressora, gravador e fax. Tem também o hábito de ler a imprensa regional para estar o mais actualizado possível. E, na maioria dos casos, considera que está reportado nas notícias o que se passa nas sessões, “mas sempre no ângulo de abordagem que o jornalista prefere”. O rádio sintonizado na RFM ajuda a descontrair do stresse causado por um trabalho que exige rigor.Só os documentos mais importantes, como os orçamentos e prestação de contas, são entregues em CD ou DVD aos deputados. O papel impera nos restantes. As gravações das sessões são feitas em mini-disk, formato digital, desde 1994. As sessões começam cerca das 21h00. Carlos Almeida só carrega no botão REC quando o presidente da mesa sugere que os deputados se comecem a sentar. O Stop só é premido cerca da meia-noite, uma da manhã. Mas houve sessões que se prolongaram pela madrugada.“Numa sessão extraordinária em Junho de 2003 sobre a eventual posse do Rosa Damasceno pela câmara, foi até perto das quatro da manhã. Situação semelhante aconteceu acerca do tema das barreiras da cidade, cinco meses depois. Os ânimos estiveram exaltados durante a discussão do empréstimo excepcionado chumbado para a Ribeira de Santarém. Nessa altura Pinto Correia deu a sessão por terminada”, recorda. Diferentes eleitos, diferentes maneiras de serCarlos Almeida diz que sempre manteve boa relação com os presidentes das assembleias ao longo dos quatro mandatos. Cada qual com a sua maneira de ser. Do tempo dos políticos de maior traquejo ao actual, com uma assembleia bem mais rejuvenescida.Fez dois mandatos com José Niza e um com José Miguel Noras. Actualmente é António Pinto Correia o líder da assembleia. De Niza diz ter notado um presidente mais conservador no funcionamento da assembleia, um verdadeiro “homem político”. De José Miguel Noras retém a forma prática de trabalhar e o seu dom da palavra e traquejo para os ambientes políticos. Homem de trato fácil, não sendo político por excelência, é a forma como encara os três anos de mandato de Pinto Correia. “Penso que tem estado à altura dos acontecimentos”, refere.O que mais agrada a Carlos Almeida são as tomadas de posse. Pela solenidade do acto, em que os novos eleitos são chamados um a um, prestam juramento e assinam. Carlos Almeida recolhe depois os votos secretos numa urna para se fazer a contagem e eleger o presidente e secretários da mesa.Outra sensação que vai ficando é a forma como os eleitos falam na assembleia, que Carlos Almeida já ouviu centenas ou milhares de vezes. São quase sempre os mesmos a falar, os líderes de bancada, além dos presidentes das juntas de freguesia. “Neste mandato, alguns eleitos ainda não usaram da palavra. Se calhar não têm tanta confiança no uso da palavra e em falar perante uma assembleia”, constata. Carlos Almeida foi cimentando a sua formação ao longo dos anos. Natural e a viver em Almeirim, tirou o antigo nono ano, e já como funcionário camarário frequentou várias acções de formação. Há dois entrou para o curso de Administração Pública na Escola Superior de Gestão de Santarém, que resolveu parar por um ano para dar sequência ao seu trabalho e outro projecto. É sócio de uma clínica em Almeirim, onde colabora na gestão e parte administrativa, o que ocupa boa parte das suas horas livres. Quanto ao futuro e quando tiver canudo nas mãos, daqui a dois anos, Carlos Almeida não descura partir para outros desafios.
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