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Diamantino Diogo

Diamantino Diogo

66 anos, presidente da direcção da Caixa de Crédito Agrícola de Coruche

Nasci em Coruche. Fui para o Seminário aos 11 anos. Estive lá três anos. Depois desisti. Não tinha vocação sacerdotal. A vida económica dos meus pais, trabalhadores rurais, emagreceu e tive que arranjar emprego.

Durante sete anos trabalhei para a Igreja. Dos 14 aos 21 anos. Ganhava trezentos escudos. Começava a trabalhar às cinco da manhã. Acabava às nove da noite. Na altura os americanos estavam a ajudar Portugal. Mandavam queijo, manteiga e farinha para ajudar os pobres. Davam-me a relação das pessoas que tinham que receber. Eu fazia a pesagem e ia distribuir as sacas de queijo e leite em pó. Com persistência consegue-se tudo. Fui sempre estudando à noite. Tive pena de deixar a escola. E depois da quarta vou para onde, pai? - perguntava. Vais para a quinta, respondia o meu pai. Terminei o meu curso aos 39 anos. Licenciei-me na Faculdade de Direito em Lisboa. Foi um percurso difícil. Saía daqui às 17h30 e regressava a casa à uma e meia da manhã. Ou mais tarde, quando estava nevoeiro na recta do Cabo. Foi assim durante cinco anos. Fui colega de Durão Barroso. Decidi tirar Direito porque acreditava que podia ajudar os pobres. E eu vinha de uma família com poucos recursos. Mais tarde desiludi-me. É preferível ajudar através da função social. E é aí que me sinto mais satisfeito. A justiça funciona muito lentamente. Já pertenci à Misericórdia. Agora sou juiz da Irmandade de Nossa Senhora do Castelo e sou presidente do lar e creche de S. José. Tenho muito orgulho. Trinta empregados e 300 crianças. Temos 60 crianças que pagam o mínimo porque são desfavorecidas. Estou na Caixa de Crédito Agrícola de Coruche desde o início. 1981. Era funcionário do Banco Totta e Açores e transferi-me. Fui director das caixas agrícolas, presidente do conselho de administração da caixa central, vice-presidente da Confagri. Em jovem fundei os escuteiros em Coruche. Hoje sou um lutador pela fábrica de beterraba de Coruche como administrador da DAI. Foi a grande luta que tive ao longo da vida. Perdeu-se a beterraba, vamos lutar pela cana do açúcar para que não se percam 154 postos de trabalho. Sou presidente da assembleia geral do CNEMA e transformei a Caixa Agrícola de Coruche numa das maiores do país. Arranjo tempo para tudo. Tenho bons colaboradores. Onde meto as mãos as coisas saem bem. Qual é o segredo? Ser dinâmico e persistente. Quando saio da Caixa vou para a quinta com dois hectares onde tenho galinhas, patos e coelhos, uma pequena vinha, couves e abóboras. Um pouco de tudo. Ao mesmo tempo que empresto dinheiro aqui, sei como correm as coisas no campo. Estamos numa zona fértil. Dezassete mil hectares de regadio. Somos o maior concelho do distrito de Santarém e dos maiores de Portugal. O dobro da Madeira, metade dos Açores. A crise não nos afecta muito directamente. O problema é a insegurança no preço dos produtos. As instituições financeiras que emprestam o dinheiro não sabem se o agricultor tira rentabilidade para pagar. Sou o mais velho de três irmãos. Tenho dois filhos. A filha estuda medicina em Salamanca, Espanha. O filho é empregado bancário. A guerra marcou-me. Tive 48 meses de vida militar. Vinte meses no continente, 28 em Angola. Na guerra estávamos sempre em serviço. Estive nas zonas mais aguerridas. O que nos deu uma certa dureza que hoje ajuda a ultrapassar qualquer problema. Vimos companheiros cair. Todo o trabalho que nos possa aparecer à frente é mais fácil que estar na guerra. Angola vai ser um dos países mais importantes do futuro. Tem todas as condições. Desde a baía de Luanda rodeada de poços de petróleo até Cabinda. Catorze vezes e meia maior Portugal. É um país onde gostava de voltar. Mas em paz e segurança. Ana Santiago
Diamantino Diogo

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