
Manter a forma física de punhos fechados
Kickboxing atrai ao pavilhão do GD Vialonga praticantes dos sete aos 43 anos.
Mestre Travassos lidera uma turma com mais de 30 alunos. As aulas, em que participam mais de metade dos alunos, realizam-se quatro dias por semana. Enquanto os adeptos da noite, se divertem, os atletas do GD Vialonga treinam, sonhando com os combates ou de olhar fixo na boa forma física.
A música é rápida e agressiva, com uma batida forte. Num sábado à noite, mais de duas dezenas de alunos de kickboxing correm à volta da sala de exercícios do pavilhão desportivo do Grupo Desportivo de Vialonga (GDV). Enquanto os adeptos da diversão nocturna jantam antes de sair para os bares, jovens e adultos preparam o treino, orientados pelo mestre Joaquim Travassos. “Disciplina e higiene”. A máxima do mestre de kickboxing, 2.º Dan impõe-se durante o treino e durante os treinos de combate. À expressão “fight!”, os alunos escolhidos para se defrontar começam uma coreografia em que os movimentos e a rapidez superam a força. Entre socos directos contra protecções de corpo e pontapés acrobáticos executados com rapidez. “Stop”, anuncia Travassos. E param, dando lugar a outro par de alunos. Antes do treino de combate, mais de meia hora é passada entre exercícios dorsais e abdominais, corrida e uma encenação lenta dos gestos técnicos a executar. No final, os combates são a sério, mas só para os mais preparados. “As pessoas dizem que o kickboxing é muito violento, mas aqui ninguém bate em ninguém”. Os exercícios, explica o especialista em artes marciais, permitem “combater entre os colegas, com calma, para ninguém se aleijar”. As protecções, que vão das ligaduras aos capacetes, protecções para braços, tíbias e “conquilhas” para o peito das raparigas forram o corpo da maior parte dos alunos na altura dos treinos. A preparação física realiza-se em ritmo acelerado mas duram metade da aula. “Não é por acaso que conseguimos formar cinco campeões regionais e nacionais na época passada”, refere Joaquim Travassos. O mestre em kickboxing, formado no clube da Câmara Municipal de Lisboa, foi discípulo de Anjos de Almeida e encontrou em Vialonga um novo clube onde ensinar a arte marcial. Os 28 anos dedicados ao kickboxing como atleta e treinador conferiram-lhe o gosto por formar atletas mais jovens. E são vários os rapazes e raparigas em idade escolar presentes no treino. “A certa altura já lhes saem golpes por instinto. É gratificante ver as crianças a executarem os movimentos correctamente, depois de verem como se faz”, refere Travassos. À medida que melhoram, os jovens terminam com os mais graduados. O mais novo tem sete anos de idade. Jovens adolescentes e adultos povoam a maior parte da sala. Entre eles, Paulo Fernandes, 43 anos, dirige a secção de kickboxing do Grupo Desportivo de Vialonga e frequenta as aulas há um ano. O dirigente desportivo praticou desporto desde os nove anos. A luta e o taekwondo ocuparam-no até à idade adulta. “Aos 18 anos, decidir ir trabalhar e parei”, relata a O MIRANTE. “O kickboxing é uma paixão. Ali dentro, sou aluno e não director”. Para a paixão de Paulo contribuíram os 43 quilos perdidos num ano e meio de treinos. “Dói no primeiro e segundo meses, mas hoje digo que foi um bom percurso. Foi a solução que encontrei para perder o excesso de peso que tinha”. Na balança do dirigente, o ponteiro marca 83 quilos. Paulo garante que no GDV não se pratica a violência. “As pessoas que praticam artes marciais envolvem conflitos, afastam-se deles”, garante. E se algum aluno mais enérgico quiser livrar-se da tensão, os dois sacos de areia da sala de treinos aguentam a fúria. “Estamos cá para combater e aprender uma arte marcial”, remata.O combate das federaçõesA Federação Portuguesa de Kickboxing e Muay Thay (FPKM) é a entidade que representa a nível oficial os atletas das modalidades em Portugal. Os atletas que combatem em associações paralelas como a Associação de Kickboxe de Lisboa ou a concorrente directa Federação de Artes Marciais Mistas, recentemente criada, são em maior número que os oficiais. “Federação só existe uma. Partimos pela parte legal. Os outros é que têm de entender”, refere Paulo Fernandes, director da secção de kickboxe do Grupo Desportivo de Vialonga. A modalidade começou a praticar-se em Portugal com a designação de Full-Contact, tendo como pioneiros os Mestres Carlos Ranjanali e António Duarte. Os primeiros torneios nacionais e participações internacionais de atletas aconteceram em 1977, organizadas pela Associação Portuguesa de Full-Contact. O kickboxe é uma modalidade que combina golpes de artes marciais como o boxe, o kung fu, e o karaté de contacto. A modalidade, desenvolvida em 1973 nos Estados Unidos da América (EUA), foi importada para Portugal em 1975.Em 1983, Portugal recebeu a sua primeira medalha de bronze no Campeonato do Mundo, organizado em Londres pelas mãos do atleta Carlos Ranjanali. Seguiram-se outras vitórias como a medalha de prata de João Freitas no Mundial de 1985 e a medalha de ouro de Fernando Jaime no Campeonato da Europa de 1986.

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