Sirlei Evangelista tem 36 anos e nasceu numa pequena cidade do interior do estado do Paraná, no sul do Brasil. Tinha um emprego estável, onde trabalhava há mais de 14 anos, na área de gestão administrativa quando o marido decidiu arriscar uma nova vida e veio para Portugal trabalhar. Ele veio primeiro. Directamente para Alcanhões, concelho de Santarém, onde já tinha familiares. Quando chegou fez uma pesquisa de mercado para a esposa e percebeu que existia muita procura de esteticistas, manicure e pedicure. Uma oportunidade de negócio para Sirlei – a quem os clientes tratam carinhosamente por Sol – uma vez que tinha feito vários cursos de formação na área de manicure, pedicure e esteticista.Sol garante que não foi uma decisão fácil de tomar mas, passados três anos de ter aterrado em terras lusitanas, não se arrepende da decisão. “Tive muito medo de vir porque tinha uma vida estável e tive que recomeçar tudo do zero, o que não é fácil”, reconhece.A esteticista confessa ter tido consigo a estrelinha da sorte e conseguiu emprego com facilidade. Recentemente começou a trabalhar por conta própria. No centro da cidade de Santarém. Um espaço acolhedor pintado em tons verde com um biombo decorado com fotos da diva norte-americana dos anos 50, Marilyn Monroe, que esconde a marquesa onde se faz depilação e se arranja os pés. Sol não consegue precisar, mas garante ter em carteira bem mais de uma centena de clientes. Unhas das mãos, dos pés, depilação, maquilhagem são alguns dos vários trabalhos que Sirlei realiza. Garante que as mulheres portuguesas são vaidosas, gostam de se arranjar e de andar na moda. “Está muito na moda pintar as unhas de vermelho ou castanho e existem diversas tonalidades diferentes destas cores que ficam muito bem. E as mulheres portuguesas não têm complexos em utilizar o que está na moda”, realça.Quanto à depilação existe uma maior procura no Verão. E desengane-se quem pensa que são só as mulheres que fazem depilação. Os homens também começam a aderir. E muitas vezes são as próprias companheiras que telefonam a marcar hora para o namorado ou marido. “Muitas vezes são elas que ligam porque acham que o namorado precisa fazer a depilação no peito. E eles também gostam”, conta entre risos.Homens e mulheres acompanham cada vez mais as tendências da moda e, por isso, Sirlei, não tem medo da eventual crise financeira que se possa instalar no país. “Desde que desempenhe o meu trabalho da melhor forma possível os clientes aparecem. Já sei que no Inverno o número de clientes diminui mas existem aquelas pessoas que têm o hábito de cuidar de si durante todo o ano e essas vêm sempre”, explica.O facto de atender apenas uma cliente de cada vez e fazer as marcações espaçadas entre si deixa as clientes mais relaxadas e à vontade para conversar. Existem muitas clientes que aproveitam os momentos em que estão a cuidar de si para desabafar sobre os seus problemas. “Costumo dizer que aqui é um espaço de terapia. Uma vez tive uma cliente que sentia mesmo necessidade de falar. Percebi que ela estava muito em baixo, à beira de uma depressão e foi com uma satisfação enorme que constatei que depois do tempo em que esteve a conversar comigo sentiu-se muito melhor e foi para casa como nova”, recorda, acrescentando que é muito fácil tornar-se amiga das suas clientes.Sol ainda não pensa voltar para o Brasil. Explica que seria começar tudo de novo e a vida não está para se recomeçar do zero muitas vezes. O que sente mais falta é mesmo da sua família, especialmente do filho de 14 anos que ficou no Paraná. O casal vai matar saudades da terra natal em Janeiro e já está prometido que o filho vem conhecer Portugal no próximo mês de Julho durante as férias escolares.A esteticista garante que o facto de Santarém ter semelhanças com a sua cidade torna tudo mais fácil. “Não sou mulher de cidade grande. Gosto de locais calmos e sinto-me muito bem em Santarém”, afirma. Por enquanto ficam em Portugal uma vez que as coisas estão a correr bem. Se tudo continuar como até agora, talvez quando chegar a idade da reforma pense em refazer as malas e voltar para Marialva, a cidade que a viu nascer.