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“O meu pai não era um terrorista”

“O meu pai não era um terrorista”

Aquilino Machado Ribeiro falou sobre o pai e sobre o escritor

A apresentação do livro de memórias “Um escritor confessa-se”, de Aquilino Ribeiro, suscitou o debate sobre o regicídio no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.

“O meu pai não era um terrorista. Há um grande equívoco entre terrorismo e revolução. Esses senhores foram buscar excertos de textos fictícios para acusar Aquilino [Ribeiro] de terrorista. Ora, não são as personagens que se ajustam ao escritor é o escritor que se ajusta às personagens”. Quem o diz é Aquilino Ribeiro Machado, filho do escritor e neto do terceiro presidente da república portuguesa Bernardino Machado.No sábado, 8 de Novembro, Aquilino Ribeiro Machado, antigo edil da Câmara Municipal de Lisboa, e António Valdemar, jornalista, estiveram presentes no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, para apresentar o livro “Um escritor confessa-se”. O convite surgiu de António Redol, presidente da associação promotora do mesmo museu. “Um escritor confessa-se” é um livro de memórias e veio a lume onze anos depois da morte do beirão, em 1963. Em Fevereiro deste ano conheceu nova edição pela Bertrand. Conta com prefácio de Mário Soares. António Valdemar referiu-se a Aquilino como o “intérprete de uma natureza bravia” e de “Um escritor confessa-se” como “o capítulo da vida portuguesa que vai comemorar o seu centenário em 2010”. Comemorações que para o jornalista vão ser polémicas. Um dos temas chaves do debate foi a polémica do envolvimento de Aquilino Ribeiro no regicídio contra o rei D. Carlos, em 1908. Isto porque o autor de “Terras do Demo” tem sido referido, em alguns círculos monárquicos, como um dos atiradores do Terreiro do Paço. Aliás, quando se começou a falar da transladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional alguns monárquicos fizeram um abaixo assinado, que entregaram na Assembleia da República, em forma de protesto. Esta foi, segundo Aquilino Ribeiro Machado, uma tentativa de ganharem visibilidade. Na apresentação feita no Museu do Neo-Realismo, com o auditório a meio gás, o filho do escritor lembrou a “força imensa e indomável de liberdade” que o pai tinha dentro de si e a “vontade que tinha de romper as barreiras do seu tempo bem como as formas mais recalcadas da monarquia” e falou do livro como “o lado aventureiro e imaginativo de uma alma que não conseguia estar presa”. “Quando cheguei de Lamego, com os preparatórios feitos, afora filosofia, declarei peremptoriamente em casa que não sentia bossa nenhuma para a carreira eclesiástica. Tinha eu dezasseis anos”. Com estas palavras inicia Aquilino Ribeiro o seu livro de memórias, onde se seguirão as lembranças do seminário de Beja, de onde acabou por ser expulso e as memórias dos tempos revolucionários da República. A nova edição de “Um escritor confessa-se” inclui ainda escritos dispersos e inéditos, como a carta que escreveu do exílio, em que descreve as suas vivências do 5 de Outubro de 1910 em Paris, onde esteve exilado, ou os relatos de como passou um Natal na cadeia.“Faz todo o sentido apresentar este livro aqui no museu do Neo-Realismo. Aquilino Ribeiro é uma figura crucial do século XX e também uma figura crucial para a geração dos neo-realistas”. As palavras são de David Santos, director do museu vila-franquense. Por seu turno, António Redol fez questão de acrescentar que aproveitava a oportunidade para recordar o vulto que foi Aquilino Ribeiro. “Esta ideia surgiu porque o Aquilino é de facto uma referência e também porque tem havido algum esquecimento. Tudo o que é cultura esquece-se neste país”, criticou o filho do neo-realista Alves Redol. Aquilino Ribeiro, um vulto sem corrente Aquilino Gomes Ribeiro nasceu a 13 de Setembro de 1885 no concelho de Sernancelhe, freguesia de Carregal de Tabosa, e faleceu em Lisboa em Maio de 1963. Fez parte da Maçonaria e da Carbonária. Adere às movimentações republicanas, quer através de um posicionamento pela escrita, quer através da participação em actividades que acabam por levá-lo à cadeia. Da sua obra ficcional incluem-se títulos como “Jardim das Tormentas”, “Terras do Demo”, “Maria Benigna”, “A Via Sinuosa”, “Andam faunos pelos bosques” e “Quando os lobos uivam”, entre outros. Este último, será talvez o maior romance do escritor e valeu-lhe, em 1959, um processo judicial de natureza censória. Esta obra, retrata a saga dos beirões em defesa dos terrenos baldios durante a ditadura, nos finais dos anos 40 e início dos anos 50. Esta obra foi adaptada para televisão por Francisco Moita Flores, em 2006.
“O meu pai não era um terrorista”

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