A taxa de desemprego é real ou existem pessoas com pouca vontade de trabalhar?Acredito que a taxa de desemprego é real. A crise que atravessamos é tão profunda e tão grave que as pessoas estão dispostas a aceitar qualquer trabalho para ganhar dinheiro. Antigamente havia preconceito em realizar determinados serviços, mas hoje penso que isso já não acontece. Mas claro que também existem aqueles que não têm muita vontade de trabalhar e não aceitam qualquer emprego. Mas esses não têm emenda.Os portugueses têm uma cultura de poupança?A maioria até quer poupar mas, muitas vezes, são iludidos pela forma mais fácil que nem sempre é a melhor e depois ficam endividados. Existem muitas famílias que para resolverem os problemas recorrem à publicidade do crédito fácil para comprar coisas caras e manterem um nível de vida que não é o deles e depois são enganadas. Cria-se uma bola de neve e ficam atolados de dívidas e não conseguem ver-se livres delas.De que forma a crise financeira afecta o seu ramo de negócio?Já se sabe que a crise acaba por atingir todos. Ricos e pobres. Uns mais do que outros. No meu trabalho sinto uma grande diminuição no estacionamento dos automóveis no parque. Até ao dia 15 funciona normalmente, mas a partir do meio do mês nota-se bem que as pessoas apertam o cinto de modo a que o dinheiro estique até ao final do mês. É muito complicado. Até na cidade se nota que existem mais lugares de estacionamento por ocupar.Porque é que a publicidade ao Natal chega cada vez mais cedo?Está tudo relacionado com a crise financeira. A publicidade ao Natal chega mais cedo para os consumidores comprarem faseadamente e para ajudar o comércio que é dos negócios que mais sofre com a falta de dinheiro dos portugueses. As pessoas querem comprar, mas a maioria não tem possibilidades económicas para o fazer. E o negócio do Natal ao chegar mais cedo é uma tentativa de vender mais qualquer coisita.Já alguma vez pediu o livro de reclamações?Sim. Na Conservatório do Registo Predial de Vila Franca de Xira. Fui mal atendido porque o serviço era muito mau. O livro de registos andava entre Alverca e Vila Franca de Xira e sempre que era necessário tinha que fazer o trajecto entre as duas cidades. Imagine o tempo que tínhamos que esperar para resolver uma situação que se tratava em cinco minutos. Estive seis horas para fazer um registo e acabei por não ser atendido. Alguma vez se confessou a um padre?Duas vezes. Quando andava na escola e antes de me casar. Não tenho nada contra nenhuma igreja nem contra nenhuma religião mas acho que um padre é um homem como outro qualquer. Prefiro confessar-me a um médico do que a um padre. Eles também pecam. São pessoas normais como nós e sinto-me mais confortável a desabafar com um médico porque penso que entendem melhor os nossos problemas.