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Azambuja homenageia o fadista que trajava de campino

Poisada recebeu 200 pessoas para jantar de homenagem

Centro Cultural Azambujense e Poisada do Campino organizaram jantar e noite de fados em homenagem ao fadista que há mais de quarenta anos é uma das figuras de proa do fado em Azambuja.

Chico Pimenta chega pouco depois da hora marcada. O fadista resistiu ao frio da noite e entra na Poisada do Campino, em Azambuja, para receber uma homenagem em forma de jantar e noite de fados. “Estou um pouco nervoso, porque vou cantar para pessoas que já não via há vários anos”, admite a O MIRANTE. O fadista, que segundo um dos oradores da homenagem “tem andado um pouco afastado das noites de fado”, vai enfrentar uma plateia que espera dele pouco menos que a perfeição. “A malta de Azambuja é feita de espectadores atentos. Os fadistas que aqui vão actuar continuam por amor à camisola. As pessoas cantam simplesmente por gostar de cantar o fado”, garante. Chico Pimenta não é excepção. Homem casado, de 54 anos, trabalha em Santarém como electricista, e vai a caminho da pré-reforma. O fadista, que já foi entrevistado por Júlio Isidro na RTP Internacional e lançou um disco em nome próprio, tem 54 anos, canta desde os doze mas nunca seguiu a vida profissional. O convite de uma editora bateu-lhe à porta há alguns anos. “Quando tive essa oportunidade já tinha uma certa idade, mas optei por não seguir”, diz, com uma ponta de orgulho. Neto e filho de fadistas populares, Chico opta pela modéstia e fala das vozes que vão homenagear. “Cantam comigo há muitos anos e tinham valor se quisessem ter feito do fado profissão”. A homenagem começa cedo, em passo acelerado. O espectáculo dura três horas e arranca com os novos valores da escola de fado do Centro Cultural Azambujense. Ângela Freitas, Jessica Cruzeiro, Hélder Lopes e Filipa Rodrigues são algumas das vozes que despontam na escola e mostram o que por lá se tem feito. As referências regionais estão presentes e “Cavalo Ruço”, fado escrito por Paulo José Vidal, filho da terra, vale a Hélder Lopes um dos maiores aplausos.A hora de Chico Pimenta aproxima-se. Miguel Rolo interpreta poemas cantados em homenagem a Azambuja, segue-se um curto e intervalo e o fadista é chamado ao palco. As homenagens da câmara municipal, da junta de freguesia e das associações sucedem-se. O fadista transpira. E depois do último agradecimento, canta. O público aplaude. As canções, populares e originais, fazem regressar ao palco o Chico Pimenta conhecido de todos. A actuação é curta, com meia dúzia de canções. O efeito é o de 200 pessoas a saudar de pé o regresso fadista ao convívio do público. Chico Pimenta agradece, emocionado, e sai do palco. Os abraços e os cumprimentos não o deixam chegar à mesa e a hora seguinte é de confraternização. O relógio marca meia-noite e meia e os amigos do fadista cantam a seguir. Fátima Regateiro, José Miguel, Maria de Lurdes, Maria de Fátima Corça e Joaquim Júlio, entre outros, encerram a noite com fados em honra do Chico. Do “tal” Chico Pimenta que segundo o poeta popular azambujense Sebastião Mateus Arenque tem “voz de cristal”.Jovens querem lançar disco A escola de fados do Centro Cultural Azambujense (CCA) quer lançar um álbum com os melhores fadistas do concelho. Armando Martins, director da secção de Fado do centro, anunciou durante a homenagem a Chico Pimenta a vontade de “promover um disco que mostre o fado que se canta em Azambuja”. O responsável revelou a O MIRANTE estar a ponderar a organização de “uma grande noite de fado, com várias eliminatórias em cada freguesia do concelho” para seleccionar os fadistas que irão integrar o registo. “Temos cerca de 40 fadistas consagrados no concelho, há novos valores e não existe nenhum CD”, constatou o dirigente do CCA, não existir nenhum CD. O apelo foi dirigido à Câmara Municipal de Azambuja. Joaquim António Ramos, presidente do executivo municipal, esteve presente na homenagem mas não deu qualquer resposta imediata.O fado feito homemAo som do acordeão ou à capela. A voz de Chico Pimenta surgia nas casas onde se cantava o fado em Azambuja sem guitarras nem violas. Os anos cinquenta e sessenta encontram o jovem filho do fadista Manuel Pimenta em ascensão e diz-se “que ele vai longe se quiser”. O Chico canta, mas é do trabalho manual que ganha o pão. Aguadeiro, hortelão, e mais tarde marçano na loja do popular Adriano Pistola, o rapaz de voz forte segue a carreira de electricista e deixa o fado para os tempos livres. Nascido em 1953, lança um álbum já homem feito. Vestido de campino do único videoclip que gravou para promover o álbum, Chico Pimenta torna-se popular dentro e fora do concelho. Casado e com filhos, dedica-se à horticultura e à carpintaria nos tempos livres. O fado também surge, mas tem vindo a ocupar menos tempo, lamentam os amigos. Na homenagem, o apelo é feito. “Chico, queremos ver-te em mais eventos de fado!”.

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