Alverca evoca figura do varejador em monumento
O azeite foi o motor da economia da cidade até ao século XX
O azeite de Alverca iluminou Lisboa e a corte portuguesa nos séculos XVII e XVIII. Chegou a ser considerado o melhor do mundo e até os árabes vinham buscá-lo através do rio Tejo. A chegada da revolução industrial matou a cultura do azeite, mas não apagou a memória, agora perpetuada numa estátua.
Está situado na praceta das Oliveiras, em Alverca, o monumento que evoca a figura do Varejador. Uma oliveira e uma estátua de mármore, inaugurada a 1 de Dezembro, perpetuam a memória daqueles que trabalharam na exploração agrícola - que foi o motor da economia alverquense durante centenas de anos.O varejador é o operário que, com uma vara de madeira, sacode os ramos das oliveiras para que as azeitonas caiam no solo e sejam, dessa forma, mais fáceis de apanhar. O trabalho era árduo, durava meses e envolvia milhares de pessoas. Alverca possuía, até ao início da revolução industrial, cerca de 22 lagares de elevada produção em mais de oito quintas diferentes. Era daí que saía azeite em quantidade suficiente para iluminar Lisboa e a corte portuguesa.Actualmente não existe um único lagar de azeite. Até as oliveiras que em tempos cobriam grande parte do território desapareceram, dando lugar ao betão. “Alverca é uma cidade com memória e não se deve esquecer o olival, que durante séculos foi a fonte de rendimentos de toda esta população. Queremos manter viva essa memória e foi por isso que inaugurámos este monumento”, refere Afonso Costa, presidente da junta de freguesia de Alverca.Com o objectivo de perpetuar e transmitir às gerações vindouras a história da ligação de Alverca ao azeite, nasce o monumento desenhado por Júlio Carmo Santos. O varejador de mármore foi inspirado por um elemento do rancho folclórico do grupo etnográfico de Alverca, que serviu de modelo. O homem não foi, contudo, um varejador. Segundo os historiadores, encontrar varejadores na sociedade actual é cada vez mais difícil. “Os poucos que existem são de uma geração já muito velha”, referem. Para a safra da azeitona o então concelho de Alverca recebia a visita de milhares de trabalhadores rurais, que se agrupavam em ranchos e cuja denominação era “os ratinhos”.O monumento tem diversa azulejaria que retrata os métodos de produção do azeite e a oliveira colocada no centro tem mais de 100 anos. Os mais destacados lagares da cidade foram os da Quinta do Forno, Castelo, Ourives, Quinta dos Navalhões e Quinta do Pinheiro. Alguns deles situavam-se junto a cursos de água que, no século XVIII, permitiam a navegabilidade de embarcações (na ribeira da Verdelha e no rio Crós-Crós): Fonte, Valeda e Silveira foram os mais emblemáticos.O azeite e as oliveirasO azeite, palavra que em português deriva do árabe “az-zeit”, é o sumo da azeitona e conserva todas as vitaminas, muito especialmente a vitamina E, os antioxidantes e as propriedades do fruto de que é extraído. Foi considerado em 1855 como um produto de excelência e qualidade e passou a servir a corte de D. Maria I e a cidade de Lisboa, então capital do IV Império – o português. Por seu turno, a oliveira sempre foi uma árvore com grande simbolismo, sobretudo de sabedoria, paz, abundância e glória. Ela tem sido associada a práticas religiosas e a usos medicinais. Na Grécia antiga as mulheres permaneciam por longos períodos à sombra das oliveiras para serem férteis. No capítulo da religião basta recordar a história de Noé, que ao enviar uma pomba branca para saber se as águas do dilúvio já tinham baixado, a pomba regressou com um ramo de oliveira no bico. Ou ainda a crucificação de Cristo no “Monte das Oliveiras”, o aparecimento de Fátima aos Pastorinhos junto a uma oliveira e, em Samora Correia, a veneração à imagem da “Nossa Senhora da Oliveira”.
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