Ver Vídeo em: http://www.omirante.pt/omirantetv/index.asp?idgrupo=2&IdEdicao=54&idSeccao=514&id=26731&Action=noticiaVitória Nogueira, 76 anos, e António Gonçalves, 78 anos, são os proprietários da primeira casa construída no bairro das Bragadas. Foi em 1963. A idosa, natural de Vale Prazeres, concelho do Fundão, mas a viver há mais de 50 anos na Póvoa de Santa Iria, recorda, com um brilho no olhar, os tempos em que teve que passar as noites acordadas para ajudar o marido e os vizinhos a construírem as casas do bairro onde ainda hoje mora.Trabalhavam de dia. Assim que chegavam a casa começavam a construir aquelas que viriam a ser as suas habitações. Faziam-no de noite porque a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira não deixava construir no local e não emitia as licenças necessárias para avançar com o projecto das casas. “Foram tempos muito duros e complicados. Colocávamos as paredes e o telhado das casas em pé durante uma noite. Construímos o bairro em menos de um mês. O importante era termos as paredes levantadas e o telhado colocado. O resto íamos fazendo aos poucos, conforme o dinheiro e a disponibilidade que tínhamos”, conta, enquanto lembra que o marido chegou a passar uma noite na prisão porque se assumiu como dono da obra. O local onde é hoje o bairro das Bragadas era um enorme terreno baldio onde os preços eram mais baratos - 14 escudos o metro quadrado – o que levou muitas pessoas a optarem por comprar ali. Mais de metade das casas que compõem actualmente as Bragadas foram construídas clandestinamente.Joaquim Duarte tinha 13 anos e lembra-se bem como era difícil trabalhar durante o dia e à noite ter que ajudar o pai e os vizinhos nas obras. Abriam os cabocos durante a semana. Depois contratavam vários homens e numa noite colocavam uma casa de pé. “Colocávamos umas mobílias dentro da casa sem mais nada e ocupávamos a casa. Havia uma lei municipal que dizia que se a casa tivesse uma cama ou outro objecto no seu interior era considerada como estando ocupada e já não podia ser deitada abaixo”, explica o “construtor”, agora com 57 anos.Joaquim Duarte recorda o dia em que teve alta do Hospital depois de ter sido operado à garganta. Nessa noite o pai e os vizinhos ergueram mais uma habitação e colocaram o jovem no interior deitado numa cama. “Apareceu a polícia mas como viram o atestado do Hospital em como estava doente e necessitava de repouso foram-se embora e deixaram-me ficar”, conta, adiantando ainda que só se lembra de uma casa ter sido demolida. “Duas semanas depois voltamos a erguê-la”, diz com satisfação.Foram necessárias mais de duas décadas para os moradores verem as suas casas licenciadas pela autarquia. O Bairro das Bragadas nasceu do sentimento de amizade, entreajuda e sobretudo perseverança que se criou entre os seus habitantes que ainda não se conheciam. O bairro foi crescendo aos poucos. Actualmente já se vêem muitas casas novas que foram construídas depois. Que só foi possível serem construídas porque muitos lutaram pelo cantinho.