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Um mensageiro de Deus em Vialonga

Um mensageiro de Deus em Vialonga

O trabalho de evangelização relatado na primeira pessoa pelo sacerdote João Prego

Dirige há sete anos a paróquia de Vialonga e garante que “a caminhada pela fé cristã só termina com a nossa morte”. O pároco viu a guerra atravessar-se no seu caminho como seminarista e teve de esperar dois anos para concluir a sua formação.

Os efeitos da época natalícia e de Ano Novo fazem-se sentir nos bancos da igreja de Nossa Senhora de Assunção, em Vialonga (Vila Franca de Xira), que se enchem de fiéis. João Prego, pároco da freguesia, nascido há 40 anos na província angolana de Benguela, garante que “os fiéis podem viver mais a fé, pondo em prática a palavra de Deus” e sublinha a importância da missa ao Domingo. “O valor da eucaristia é sempre o mesmo, independentemente do dia em que seja celebrada”, acrescenta. As missas, às terças e quintas-feiras, pelas 9h00 e, nas quartas, sextas e sábados às 19h00, marcam o ritmo da paróquia.Para além das actividades pastorais, os dias do padre de Vialonga são marcados por quatro outros momentos de oração. De manhã, as laudes, seguindo-se perto da hora de almoço as horas intermédias, as vésperas ao fim do dia, e as completas já durante a noite. O missionário segue diariamente a norma aprendida em dez anos de Seminário e procura todos os dias orientar espiritualmente os fiéis. “Não é a idade que nos ajuda a ter mais fé. A caminhada pela fé cristã só termina com a nossa morte”, considera, lamentando que para alguns fiéis o caminho seja interrompido na primeira comunhão ou no crisma, “só voltando para casar”. O prior considera que a catequese deve continuar ao longo da vida. Embora não admita ter convertido alguém até hoje, porque “é o Espírito Santo que opera a conversão, não eu”. João Prego reconhece ser possível ajudar as pessoas a abraçar a fé, mesmo que nunca tenham entrado numa igreja. Durante o tempo de Seminário, em 2002, no Huambo, antiga Nova Lisboa, João Prego viu-se sem poder sair da cidade onde se encontrava por causa de confrontos militares na região e foi obrigado a suspender a sua formação em Teologia durante um ano. Os colegas de Seminário estavam todos na mesma situação. “A nossa própria vocação entrou em crise. Com o apoio dos sacerdotes, animámo-nos para continuar, mas não basta terminar o curso para ser ordenado padre; é necessária maturidade”, considera o clérigo.O pároco recorda bem o percurso até ser ordenado. Acólito desde jovem, reconheceu a chamada para a vida sacerdotal aos 16 anos. A entrada no Seminário fez-se aos dezoito, com dois anos de curso propedêutico, três de Filosofia e quatro de Teologia. Dez anos depois, o olhar dos formadores, que acompanham a evolução dos seminaristas, passou a ser também o seu. “Mas podia ser pároco ou vigário, tudo depende das necessidades de cada diocese”, explica. Na posição de formador, o desafio passou a ser perceber como ajudar os formandos. “Foi difícil, sobretudo no primeiro ano, deixar de ser o que fui e passar a ser o que devia”. Alguns dos formandos tinham perto da sua idade ou eram mais velhos. “Olhavam-nos como formadores, mas podíamos ser colegas ou amigos. Procuramos dizer que é necessário olhar com seriedade para o compromisso e as normas, e tentar cumpri-las”, conta João Prego.Três anos depois, surgiu o convite do Patriarcado de Lisboa à sua diocese para enviar missionários para Portugal. Depois de seis meses como vigário em Santo Antão do Tojal, João Prego tornou-se pároco em Vialonga. Outros colegas que estudaram no mesmo Seminário ficaram em paróquias mais a Norte, nos distritos de Coimbra e Viseu. Em Vialonga, João Prego sentiu nos primeiros tempos saudades da terra natal, mas a fé falou mais forte. Apesar de a freguesia ser tradicionalmente comunista, João Prego assegura que “nunca houve quaisquer resistências ao longo destes sete anos de trabalho na paróquia”. Depois da adaptação ao clima, às pessoas e à forma de trabalhar, sente-se muito próximo dos fiéis que jurou ajudar. Fora do campo espiritual, é a Caritas paroquial, com a ajuda do padre João Prego, quem organiza a distribuição de roupa, todas as terças-feiras. O apoio, pelo Natal e em resultado de peditórios junto de superfícies comerciais da freguesia, garante uma ajuda adicional a quem mais precisa. Só entre as pessoas contabilizadas pela paróquia, Vialonga regista 59 agregados familiares carenciados.
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