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Galeria Neupergama comemora 28 anos com mais uma colectiva de luxo

Galeria Neupergama comemora 28 anos com mais uma colectiva de luxo

Obras de Cesariny, Vespeira, Nadir Afonso, Lima de Freitas, Charrua ou Bual podem ser vistos até 31 de Janeiro

José Carlos Cardoso provou que é possível ter uma galeria de qualidade situada numa cidade de província como Torres Novas.

Cerca de 70 quadros de consagrados artistas como Cesariny, Vespeira, Nadir Afonso, Lima de Freitas, Charrua ou Bual fazem parte do painel de luxo patente na exposição comemorativa dos 28 anos da Galeria Neupergama e do “Espaço 19/21”, situado ao lado da galeria “mãe”, na rua Miguel Bombarda, em pleno centro histórico de Torres Novas. A exposição pode ser visitada até dia 31 de Janeiro. José Carlos Cardoso, 72 anos, é o mentor do projecto que acarinha há 28 anos na terra onde nasceu e foi criado. Numa tarde fria e chuvosa, sentado num cadeirão preto, o galerista ofereceu um vinho do Porto e recordou algumas das memórias vividas ao longo de quase três décadas num espaço cultural que acolhe quatro exposições por ano e recebe visitantes de toda a parte do país. Nunca pintou mas considera-se um “amador das artes” e vive intensamente o acto de criação de uma obra de arte. “A obra de arte não se faz, acontece”, defende. Foi esta paixão pela arte que conduziu à fundação da galeria Neupergama em Torres Novas, uma vez que José Carlos Cardoso é da opinião que a província deve ter acesso às mesmas coisas que os grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto. “A Neupergama surgiu para concretizar o sonho de ter uma galeria na minha terra natal”, explica. Um sonho alimentado na adolescência, quando fazia parte de um grupo de jovens que se interessava pela arte, pela poesia e, sobretudo, pela corrente surrealista. José Carlos Cardoso atribui o sucesso da galeria, que fundou aos 44 anos deixando para trás o ramo da contabilidade, pela qualidade dos artistas que ali expõem e pelos habituais frequentadores (evita sempre o termo cliente) vindos de todo o país. Quando decidiu concretizar o seu sonho falou da ideia ao artista Artur Bual e frisou que queria abrir uma galeria com qualidade em Torres Novas. “Deu-me os parabéns pela ideia mas avisou-me que ia sofrer pela vida toda”, recorda. E sofreu. Como naquela ocasião em que, numa exposição monocromática de Ângelo de Sousa, um visitante chegou ao pé dele e advertiu-o que um dos quadros estava pendurado de costas. “Por experiência acredito que vendo regularmente boa pintura, aprende-se a gostar de pintura. O quadro bom resiste e o quadro que não tem qualidade apaga-se da nossa memória”, refere. O galerista recorda dois momentos marcantes ao longo dos 28 anos de Neupergama. O primeiro foi há cerca de 15 anos, quando resolveu dar um jantar de homenagem a Cesariny. “Queria que fosse mais do que apenas um simples jantar e que a coisa se prolongasse. Surgiu-me a ideia dos convidados pintarem um quadro em conjunto e foi realmente um sucesso”, recorda. Uma tela com dois metros recebeu as pinceladas de Bual, Lima de Freitas, Mário Cesariny e Francisco Relógio. A obra, sem título, não tem preço e é pertença da Neupergama. Outro momento marcante há nove anos foi o lançamento da Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa, do espanhol Quadrado e de alguns dos fundadores do movimento surrealista em Portugal. Um acontecimento que mereceu honras dos três canais de televisão. Apesar de muitas tardes sem que a Neupergama seja visitada por alguém e de considerar que “o sonho, neste momento, está transformado em angústia”, devido aos tempos de crise, José Carlos Cardoso vai continuar a receber os frequentadores da galeria, oferecendo-lhes sempre um tratamento familiar, de forma a que estes se sintam o mais possível à vontade numa galeria de qualidade situada na província. “Não tenho dúvidas de que Torres Novas sabe mais ver pintura, mesmo que seja um quadro difícil, do que sabia há 28 anos”, remata.
Galeria Neupergama comemora 28 anos com mais uma colectiva de luxo

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