Sport Clube Recreativo do Cabo resiste ao desinteresse pelo desporto
Clube fundado nas traseiras de uma padaria já foi vice-campeão europeu de taekwondo
Direcção aguarda por novos talentos para assumir os destinos do clube. Nas competições, o taekwondo de manutenção substitui o de competição até os praticantes quererem voltar a combater.
O taekwondo ainda resiste no Sport Clube Recreativo do Cabo. A arte marcial é a única permanente no clube, sedeado na freguesia de Vialonga, que se mantém com a persistência dos sócios que o fundaram em 22 de Janeiro de 1976. Vinte e cinco crianças e dez adultos treinam três vezes por semana no pavilhão do clube, orientados pelo mestre Luís Costa e o vice-presidente da assembleia Alfredo Silva, ambos 4.º Dan. A modalidade é a única que ainda se pratica actualmente no clube, e já valeu à colectividade uma vice-campeã da Europa em 1994. Nascido como forma de renovar o antigo Sporting Clube Caboense, que tivera as suas raízes na época de Marcelo Caetano, o Sport Clube Recreativo do Cabo teve como sede a padaria de José Alves, que trabalhou com António Malhoa e Luís Cerqueira. A sede do novo clube, que chegou a ser iluminada com candeeiros a petróleo, foi sendo construída aos poucos, primeiro com um equipamento de cafetaria, depois com a parte administrativa e uma área gimnodesportiva. O objectivo do clube, explica Alfredo Silva, um dos vice-presidentes do clube, era “pôr os miúdos a correr e a fazer exercício”. Ricardo Fernandes, sócio do clube, tinha uma carrinha e sempre ajudou a permitir que o clube participasse em várias competições. “Saíamos para outras terras para correr pelo clube e levávamos os miúdos”, conta Alfredo Silva. “O nosso clube sempre se fundou no mais puro amadorismo. Éramos quase uma família”, recorda o dirigente. Ao longo dos anos, a ginástica e o atletismo deram lugar ao taekwondo, que se impôs como a modalidade federada do clube. Eliana Oliveira, vice-campeã europeia de taekwondo, na competição organizada em Portugal, e medalha de bronze noutra edição da competição, e Carina Correia, medalha de bronze tornaram-se dois dos nomes mais importantes da colectividade. Os árbitros, que na modalidade são antigos e actuais atletas, chegaram em 1996 à categoria internacional. Os praticantes de taekwondo do clube estão hoje habituados a uma modalidade de manutenção, longe dos tempos da competição regional, nacional e internacional.Os últimos doze anos do clube têm sido passados a gerir os meios disponíveis para manter o clube. “Têm sido sempre as mesmas caras. Quando sairmos, pode não haver ninguém para continuar”, explica Alfredo Silva. António Inácio, 75 anos, tesoureiro do clube, é sócio há cerca de três décadas, integrou já várias direcções e partilha da opinião do colega. “Temos sido quase sempre os mesmos dirigentes. Entra um, sai outro, mas tentamos aguentar o clube. Os miúdos, poucos, querem assumir responsabilidades e eu já não vou integrar a próxima direcção”.O clube respira saúde financeira, com a única modalidade a ser totalmente auto-suficiente. “Mantemos-nos na direcção como guardiões do espólio financeiro e do rigor desportivo, até que chegue alguém responsável e de confiança para gerir o clube. Mas é necessário ir entusiasmando o gosto dos mais novos pelo desporto”. Até lá, o clube continuará em busca de mais atletas e dirigentes.
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