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O ano em que o papel serviu de transístor e ganhou memória

O ano em que o papel serviu de transístor e ganhou memória

Equipa coordenada por Elvira Fortunato distinguiu-se mundialmente no campo da micro-electrónica

Investigadores portugueses estiveram em destaque em 2008 em diversas áreas da ciência.

Descobertas no campo da micro-electrónica, desde o desenvolvimento de circuitos integrados transparentes à utilização do papel como suporte de transístores e de memória, destacam-se entre os avanços científicos do ano em Portugal. Cientistas do Centro de Investigação de Materiais (CENIMAT) da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa conseguiram pela primeira vez tornar o papel parte integrante de um transístor usando-o como isolante, em vez do tradicional silício.Da equipa faz parte Elvira Fortunato, cujo projecto "Invisible" - de produção de transístores e circuitos integrados transparentes com recurso a óxidos semi-condutores - lhe mereceu uma bolsa de 2,5 milhões de euros, a maior concedida até agora a um cientista português. O prémio, atribuído em Julho pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC), será aplicado na aquisição de um microscópio electrónico para observações à nano-escala e fabrico de nanotransístores, e ainda em despesas de pessoal, segundo a investigadora.Entre as explorações possíveis desta tecnologia de baixo custo contam-se aplicações no campo da electrónica descartável, nomeadamente ecrãs, etiquetas e pacotes inteligentes, chips de identificação ou aplicações médicas na área dos bio-sensores, especialmente para diagnósticos. A mesma equipa fez também notícia por ter desenvolvido, em colaboração com a Samsung, uma nova geração de ecrãs planos transparentes baseada na descoberta de um novo material semicondutor para os transístores constituído por óxidos, como o óxido de zinco, que oferece novas vantagens. Já perto do final do ano, os mesmos cientistas anunciaram o desenvolvimento de um dispositivo de memória numa folha de papel que, accionada por uma corrente eléctrica, pode acumular grande quantidade de informação.Uma das suas aplicações mais óbvias será na produção de etiquetas de identificação que poderão incluir, por exemplo, toda a informação disponível sobre um determinado produto: quando foi produzido, onde, por quem, o seu conteúdo pormenorizado, quando chegou à loja e qual o seu tempo de exposição. O próximo passo, segundo os responsáveis pela investigação, será associar esta descoberta à do transístor e criar um dispositivo auto-sustentável e sem fios que permita não só guardar como transmitir informação. "No futuro", disse Rodrigo Martins, "será possível abrir uma carta e ver e ouvir nela o remetente".Noutro desenvolvimento, investigadores da FCT da Universidade Nova Lisboa e do Instituto Superior Técnico descobriram um novo material, a que chamaram gel iónico, que permitirá desenvolver pilhas e células de combustível mais baratas e mais amigas do ambiente. "Nas pilhas, por exemplo, o gel iónico poderá funcionar como electrólito e como eléctrodo, e, dada a sua versatilidade, será possível construí-las em qualquer superfície, até também numa folha de papel, bastando para isso imprimir o electrólito e os dois eléctrodos", segundo disse à Lusa um dos autores do trabalho, Pedro Vidinha.A ciência ao serviço da saúdeNoutros avanços científicos protagonizados por investigadores portugueses, Catarina Homem, que está a doutorar-se nos Estados Unidos, descobriu que um gene, chamado Diáfano (ou Dia) tem uma importante função reguladora na formação dos tecidos e poderá desempenhar um papel no cancro. No campo das doenças tropicais, duas equipas de investigadores portugueses, juntamente com colegas de outros países, conseguiram isolar o agente infeccioso da úlcera de Buruli, uma doença muito grave emergente em países da África Central e Ocidental.Na área do combate à tuberculose, outros investigadores do IBMC e colegas da Universidade de Coimbra caracterizaram a estrutura tridimensional de uma enzima considerada essencial para a sobrevivência do bacilo causador da doença, abrindo assim caminho ao desenvolvimento de novos antibióticos mais eficazes e seguros contra esta patologia. Segundo a coordenadora da equipa, Sandra Ribeiro, a caracterização detalhada da molécula permite torná-la "um alvo plausível para uma futura intervenção terapêutica".Noutros destaques, Cecília Arraiano, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa, tornou-se membro vitalício da Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO), que premiou Mónica Dias e Tiago Outeiro com fundos de 50 mil euros anuais durante três a cinco anos para prosseguirem as suas investigações, respectivamente para desvendar os segredos do centrossoma, uma estrutura que regula a multiplicação das células e está frequentemente alterada no cancro, e para aprofundar o estudo das basea moleculares e celulares das doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer.
O ano em que o papel serviu de transístor e ganhou memória

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