O relógio da Igreja Matriz de Montalvo, no concelho de Constância, bate as oito badaladas. Segunda-feira, 5 de Janeiro. A noite está fria mas no adro já são muitos os populares que se encontram presentes, entre os quais muitas crianças. Alguns vêm munidos dos respectivos instrumentos musicais. Guitarras, ferrinhos, concertinas e até canas rachadas feitas de improviso. O objectivo passa por cumprir a tradição e cantar os Reis. Contam-se cerca de sessenta pessoas, provenientes de três colectividades distintas, da Casa do Povo, da Paróquia e ainda um grupo de jovens autónomo. Antes de se separarem pelas ruas da povoação juntam-se primeiro para cantar no altar da igreja, momento perpetuado na foto. Ensairam uma única vez no sábado, 3 de Janeiro, e por isso muitos socorrem-se da cábula com a letra. “Ó minha rica senhora/ o verso vai acabando/ venha dar a sua esmola/ em louvor do Cristo nado”. Ao centro, Américo Rodrigues dos Santos, 78 anos, carrega o acordeão, instrumento que toca há muitos anos e que considera de alguma mestria. “Venho todos os anos, é uma noite de alegria para Montalvo”, confessa entusiasmado antes de calcorrear a rua com os companheiros.É assim desde há três anos por sugestão do pároco local, José Manuel Cardoso. Os grupos, que antes o faziam sempre isoladamente, juntam-se primeiro na igreja para cantar em uníssono e só depois se separam para recolher as suas oferendas. “Se vão todos cantar ao menino Jesus porque não juntá-los primeiro?”, explica o sacerdote. A sugestão foi bem acolhida por todos e o resultado é uma noite de boa-disposição e convívio. Pelas ruas de Montalvo a música popular continua a ecoar pela noite dentro: “Melhorias na saúde/ e também no seu dinheiro/ Dê lá volta à sua bolsa/ Dê lá volta ao mealheiro”.Elsa Ribeiro Gonçalves