Munícipes de Salvaterra consideram que ausências da presidente prejudicam concelho
Ana Cristina Ribeiro esteve mais activa depois da notícia de O MIRANTE
A edil iniciou o novo ano com uma postura diferente, mas alguns munícipes criticam a sua inércia e revelam-se desiludidos com a prestação da presidente.
O estado de saúde debilitado da presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos não a impediu de marcar presença na manifestação pelo novo centro de saúde em Foros de Salvaterra no dia 10 de Janeiro, dois dias depois de O MIRANTE ter noticiado que Ana Cristina Ribeiro tinha faltado à maior parte das reuniões do executivo nos últimos quatro meses e a vários compromissos em representação do município.Na altura, o gabinete de apoio da presidente, que lidera a única câmara do Bloco de Esquerda (BE) no país, justificou as ausências com problemas de saúde, pessoais e de agenda. A oposição não aceitou “as desculpas” de Ana Cristina Ribeiro e fala “de cansaço, desilusão e falta de estratégia”.Entretanto, Ana Cristina Ribeiro seguiu a máxima “ano novo, vida nova”. Tem estado mais activa nos contactos com associações e no atendimento aos munícipes. Presidiu à primeira reunião de câmara de 2009. “A situação está normalizada”, garante fonte do gabinete da presidente.O MIRANTE percorreu o concelho de Salvaterra de Magos e ouviu populares e comerciantes sobre as consequências do afastamento da líder do município. João Gonçalves, morador em Foros de Salvaterra, diz que um presidente tem de acompanhar a câmara todos os dias. “Se a senhora não tem saúde, tem de dar o lugar a outro. O pior é que os outros não são melhores que ela”, refere com ironia.“A presidente entrou com a força toda, mas foi sol de pouca dura”, acrescenta Luís Oliveira, operário da construção civil. O munícipe lamenta que promessas feitas há dez anos ainda estejam por cumprir. “Isto estava muito mal quando ela ganhou. Votei na senhora, mas não cumpriu e se ela voltar a ser candidata já lá não vou”, revelou.Em Marinhais há opiniões divididas quanto ao afastamento da autarca. José Almeida diz que a saúde não está nas mãos das pessoas. “Se a senhora tem algum problema de saúde, não podemos fazer nada. Espero que melhore porque tem feito alguma coisa pelo concelho”, adianta. Opinião contrariada por Ana Felizardo que aponta o exemplo de Marinhais e Glória do Ribatejo como duas freguesias esquecidas por Ana Cristina Ribeiro. “A senhora não tem feito nada por nós. Isto não evolui. Não cria postos de trabalho. Não temos uma única fábrica para trabalhar. A juventude tem de sair toda”, afirma. Na sede de concelho, o empresário Bruno Freitas lamenta que Salvaterra de Magos esteja a perder boas oportunidades de desenvolvimento económico. “Há terrenos, há boa localização, mas não há estratégia nem garantias para podermos investir”, refere o investidor no sector imobiliário. O empresário referiu que em Benavente, que dista cinco quilómetros, “parece que estamos noutro país”. Quanto às ausências da presidente na câmara, o munícipe faz uma analogia. “Imagine uma grande empresa onde o administrador nunca aparece, nem nas reuniões para aprovar o orçamento”.No Granho, uma das aldeias do concelho, Ana Cristina Ribeiro já conheceu mais popularidade. Os munícipes contactados desconheciam as suas ausências da câmara, mas consideram que chegou a hora de mudar. “Ela deve dar lugar a outro. O problema é quando estão lá muito tempo. O PS esteve 20 anos no poleiro da câmara e foi o que se viu”, adianta Manuel Alves. Ana Cristina Ribeiro é natural de Muge. Na localidade as suas ausências na câmara dão azo aos mais variados boatos. “Há dias disseram que a senhora tinha ido para o estrangeiro. Mas eu já a vi depois disso. Se ela não vai à câmara é porque não pode. Sabe aquilo cansa muito a cabeça”, refere António Joaquim.Ana Cristina Ribeiro esteve em duas reuniões em quatro mesesA presidente só foi a duas reuniões em quatro meses. A reunião para aprovação do orçamento para 2009 e do Plano Plurianual de Investimentos (PPI) esteve agendada para dia 23 de Dezembro às 16h00, foi adiada no próprio dia para as 18h00, mas não se realizou por motivos imprevistos que impediram a presença da presidente. A reunião passou para o dia 29 de Dezembro às 15h00 e Ana Cristina Ribeiro voltou a não comparecer. A reunião realizou-se por força da lei e foi presidida pelo vice-presidente João Abrantes. Os avisos foram feitos por telefone e SMS pelos colaboradores do gabinete de apoio à presidente e obrigaram os vereadores que não estão a tempo inteiro a reformular as suas obrigações profissionais. Ana Cristina Ribeiro recusou comentar a situação a O MIRANTE, mas em declarações à Rádio Íris disse que “as funções de presidente de câmara não se limitam a presidir às reuniões” e explicou que tem assegurado as suas tarefas e responsabilidades.Fonte bem colocada referiu que, apesar dos problemas de saúde, Ana Cristina Ribeiro está disponível para se recandidatar. Entretanto o PS deve apostar no vereador Nuno Antão como cabeça de lista.PS de Salvaterra critica ausências A concelhia do PS de Salvaterra de Magos acusa a presidente da câmara de desrespeito pelos munícipes e agentes económicos e sociais do concelho. Numa nota de imprensa, a estrutura liderada pelo vereador e deputado Nuno Antão diz que Ana Cristina Ribeiro (BE) faltou a 29 reuniões do executivo municipal no actual mandato. Pelas contas do PS, a edil presidiu apenas a 58 das 87 reuniões convocadas.“Esta é a verdade dos números, sustentada por um quadro de forte desmotivação e ausência de um projecto para o futuro do concelho de Salvaterra de Magos, reflectido numa proposta de Orçamento para 2009, que mais não é do que uma cópia dos orçamentos dos anos anteriores”, referem os socialistas. “Está criado em Salvaterra de Magos um novo modelo de gestão, que poderá ser denominado o ‘Modelo Avestruz’, acrescentam.Os responsáveis do PS falam de adiamentos de reuniões com munícipes e associações. “Chegou a fazer mais de cinco adiamentos consecutivos, marcando reuniões para sábados e domingos, sem as realizar”, dizem.Segundo o PS, Ana Cristina Ribeiro “adiou encontros com potenciais investidores, o que levou a que pelo menos uma empresa tenha optado por um concelho vizinho. Perdemos mais de trezentos postos de trabalho, directos e indirectos”.O comunicado frisa que “existem problemas por resolver em Salvaterra de Magos com 95 meses. A aprovação da revisão do PDM faz 40 meses, e ainda não existe uma proposta concreta de alteração”.
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