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Tinha a paixão, mas o dom estava adormecido

Adriano Pires, o artista que despertou para a pintura e escultura aos 61 anos

Adriano Pires sempre teve a paixão e alma de artista, mas não sabia. Aos 61 anos descobriu as artes plásticas e provou que nunca é tarde quando se acredita.

Sempre teve a paixão, mas só aos 61 anos é que Adriano Pires decidiu transpor o que lhe ia na alma para a tela e para as esculturas. “Tinha um certo jeito, mas não sabia bem o que tinha. Aos 61 anos encontrei o meu mestre Júlio Carmo Santos. Mostrei-lhe um quadro e ele disse: «rapaz, isto não está bem nem está mal. Para mim está mais ou menos». Fiquei desiludido e disse para mim mesmo. Nunca mais pinto”, conta o artista.Mas o episódio mudou-lhe a vida e o vaticínio que havia feito não se concretizou. Foi a partir daí, ajudado pelo seu mestre, que começou a pintar mais e melhor. Aos poucos foi ganhando o gosto e desenvolvendo as técnicas de desenho que ia aprendendo. Após quatro meses de muito trabalho fez a primeira exposição na Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense. Seguiram-se mais cinco exposições.É numa garagem, em Alverca do Ribatejo, que Adriano Pires tem o ateliê montado e lá que guarda os cerca de 40 quadros e as várias esculturas em ferro. A inspiração surge de repente. “Desde que passe em qualquer lado e goste do que vejo, seja uma imagem ou algo que mexa comigo, faz-me inspirar e despertar o pensamento e tento logo passar para a tela”, revela enquanto dá os últimos retoques no quadro que está a pintar.Carvão, óleo, pastel e aguarela são os materiais que utiliza na pintura. Nas esculturas metálicas usa o ferro e inox. Afirma que o pintor ou escultor é por vezes criticado por fazer certos trabalhos. Defende que os artistas devem pintar ou esculpir o que lhes vai na alma sem preconceitos. Mesmo que não saibam pintar todos têm a capacidade de apreciar uma boa obra. De apontar os defeitos e as qualidades.Pinta principalmente aquilo que mais o marcou ao longo da vida. A sua terra natal, Dornelas do Zêzere, concelho da Pampilhosa da Serra, que guarda no coração apesar de ter vindo morar para Alverca aos 16 anos.Não sendo Ribatejano quis fazer uma homenagem aos pescadores de Vila Franca de Xira e pintou um quadro representando a azáfama do Rio Tejo com os barcos da faina atracados ao cais e a ponte Marechal Carmona como pano de fundo.Considera Alenquer a vila presépio e uma referência mundial para todos os pintores. “Qualquer pintor tem de passar e pintar Alenquer. É como um baptismo”, conta enquanto mostra o quadro alusivo ao concelho.Como esteve alguns anos em África, passando por Angola, Moçambique, Suazilândia, Zâmbia, Tanzânia e Zimbabué, o artista confessa que só quem esteve naquele continente sabe transmitir através da pintura aquela realidade, que muito o marcou.Os animais em geral e os cavalos em particular também o inspiram a pintar, principalmente porque o pai foi enfermeiro e tinha uma égua que servia de meio de transporte há muitos anos para ir de aldeia em aldeia.Pintou a carvão os rostos da esposa, filho e do seu mestre que considera serem os grandes responsáveis por tudo aquilo que conseguiu até agora como artista. Mas Adriano Pires ainda tem dificuldade em explicar como é que em dois anos desenvolveu tanto as suas capacidades, já que ele próprio nunca imaginaria. Está previsto para Março ou Abril a próxima exposição do artista.Monumento em Alverca e figuras no Sporting e BelenensesO monumento feito em ferro, alusivo ao 25 de Abril, situado a caminho da estação de Alverca, tem 500 quilos e demorou uma semana a ser feito por Adriano Pires. O escultor fez a obra com a colaboração do seu mestre, Júlio Carmo Santos. O monumento foi oferecido à cidade numa parceria com a Junta de Freguesia de Alverca do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira.O artista também tem a sua marca em dois clubes da capital. Sporting e Belenenses receberem uma figura idealizada por Adriano Pires, que também tem um quadro exposto no museu da sua terra, Pampilhosa da Serra.O mestre soldador que voltou a estudarO pintor Adriano Pires, actualmente com 63 anos, fez carreira como soldador. Quando chegou de África, depois de ter cumprido o serviço militar, fez um curso no centro de formação de Lisboa durante seis meses. Como teve boa classificação foi convidado pelo sindicato, entidade patronal e centro de formação de Lisboa para integrar o júri do exame de acesso à profissão. Durante 15 anos foi júri em Lisboa e em Alverca. “Fiz exame a muitos soldadores que passaram pelas minhas mãos”.Adriano Pires realça que o curso de formação permitiu-lhe ser uma pessoa com mais saber, sendo também um grande impulso para a profissão e mesmo para o futuro. E aconselha: “Quem puder que faça formação pois é importante para se subir na vida”.Depois de se ter aposentado dedicou-se com mais calma à disciplina das artes. Impulsionado pela esposa e pelo filho voltou aos bancos da escola. “Para não ficar parado comecei a estudar. Já tinha alguns estudos, mas agora estou a tirar dois cursos, um deles superior, com professores espectaculares”.

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