uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Um cavalo de Martins Correia nas ruas da Golegã

Proposta de antigo aluno feita em debate foi bem acolhida pelo município

Uma escultura equestre a partir da obra do conhecido artista poderá nascer em 2010, ano em que se comemora o centésimo aniversário do seu nascimento.

O antigo aluno do escultor Martins Correia, José Aurélio, lamentou ainda não existir na Golegã, capital do Cavalo, uma escultura a partir de uma representação de um cavalo feita pelo mestre Martins Correia, lançando o desafio ao município e disponibilizando-se para avançar com o projecto. O vice-presidente da Câmara da Golegã, Rui Medinas, - em substituição do presidente, Veiga Maltez, ausente na Holanda onde se encontra a representar o município – aceitou o repto dizendo que 2010, ano em que se comemora o centenário do nascimento do escultor natural da Golegã, será a altura ideal para concretizar a homenagem.A ideia surgiu durante mais um debate de “Encontros com Martins Correia” que se realizou na tarde de sábado, 7, e encheu o espaço Equuspolis, na Golegã. José Aurélio moderou uma mesa composta por Cristina Tavares, professora de História de Arte, José Augusto França, professor jubilado de História de Arte, e José Teixeira, escultor. O antigo ministro da Educação, Eduardo Marçal Grilo, também participou no debate na qualidade de amigo do escultor que no sábado completaria 99 anos.Marçal Grilo revelou que conheceu Martins Correia há mais de três décadas através de um amigo comum. Teve o primeiro contacto com a obra do “mestre” nos anos 50 aquando da inauguração da estátua de Amato Lusitano em Castelo Branco. Para o ex-ministro da Educação, Martins Correia era um homem simples cuja frontalidade era aliviada com uma racionalidade sofisticada que vinha da sua natureza artística.“Atrevo-me a dizer que o mestre Martins Correia, embora não se assumindo como um poeta, tinha uma visão poética da vida que transparecia nas suas obras ou mesmo quando reflectia sobre qualquer tema sobretudo ligado às artes plásticas, cavalos ou mulheres da Golegã, temas que ele tanto gostava”, disse.O professor jubilado José Augusto França conheceu o escultor em meados da década de 50 tendo convivido com ele até perto do fim da sua vida. “Martins Correia autodefiniu-se como um ideonaturalista e essa sua ideia, na minha opinião, tem razão de ser. Ele era raiz de toda a escultura portuguesa naturalista e era, ao mesmo tempo, um poeta de ideal”, reflectiu.José Aurélio afirma que, enquanto professor, Martins Correia tinha uma maneira de ensinar muito própria e muito curiosa onde nunca assumiu o papel de professor académico que tem que se impor e criar respeito junto dos alunos. “Colocava-se ao nosso lado e tentava passar a mensagem de que poderíamos ser livres e criar aquilo que nos apetecesse embora respeitando determinados valores”, recordou.Para Marçal Grilo, Portugal é um país de “fraca memória uma vez que os portugueses têm tendência para esquecer, até para desprezar, e não reconhecer a obra e o trabalho dos outros”, concluiu.Autor de bustos de figuras emblemáticas da cultura portuguesaJoaquim Martins Correia nasceu a 7 de Fevereiro de 1910 na Golegã e morreu a 30 de Julho de 1999. Ficou órfão em criança, na sequência da morte dos pais atingidos pela gripe pneumónica, tendo ficado ao cuidado de uma senhora. Ingressou no colégio Casa Pia em Novembro de 1922 onde concluiu o curso industrial. Foi-lhe concedida uma bolsa de estudo para frequentar a Escola de Belas-Artes de Lisboa.Foi professor do ensino técnico profissional na Escola Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, e em Lisboa, nas escolas Marquês de Pombal, Machado de Castro, Afonso Domingues e António Arroio. Começou a expor em 1938. Em 1944 e 1945 esteve em Espanha e Itália com uma bolsa que recebeu do Estado. A estátua evocativa do centenário do nascimento de São Francisco Xavier, colocada em Goa, Índia, é de sua autoria. É o autor dos bustos em bronze de Sofia de Mello Breyner Anderson, Miguel Torga, Jaime Cortesão, Natália Correia, Fernando Namora, entre outros. Uma das suas últimas preocupações foi a conservação do seu espólio que se encontrava num edifício setecentista sem condições. Em 2003, o museu municipal Martins Correia foi transferido para o edifício Equuspolis.

Mais Notícias

    A carregar...