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Fomos ao tarólogo saber o que as cartas nos reservam

Primeira Feira Esotérica de Torres Novas trouxe ao Ribatejo o mundo do oculto

A reportagem de O MIRANTE foi consultar alguns tarólogos que montaram banca na primeira Feira Esotérica de Torres Novas. Tivemos que lidar com revelações surpreendentes e até trouxemos connosco uma chave do Euromilhões que, segundo o palpite do Dr. Zan, vai dar muito dinheiro. Só não conseguimos que nos dissessem quem vai ser o campeão de futebol este ano.

O Dr. Zan não faz as coisas por menos quando se trata de traçar palpites para o futuro próximo da jovem que tem sentada à sua frente: vai ser mãe dentro de um ano; vai fazer uma viagem a Marrocos nos próximos dois anos; vai ter a casa dos seus sonhos; vai mudar de emprego em 2010; e tem que ter muito cuidado com carros pretos e benzer-se sempre antes de entrar num automóvel, seja ele de que cor for. Perante a antevisão da pequena revolução que se vai operar na sua vida, a cliente de ocasião, nossa colega de redacção em O MIRANTE, não sabe se há-de rir se há-de chorar.Na quadrícula em papel que nos entrega, o Dr. Zan, cabelo revolto e pêra branca comprida, apresenta-se como perito em terapias regressivas, parapsicólogo, naturopata, osteopata, acunpunctura, iridologia e kiromassagem. Na fachada do pequeno stand que tem na Feira Esotérica de Torres Novas, que decorreu recentemente, acrescenta a especialidade de tarólogo. É nas cartas que este lisboeta de meia-idade perscruta os dias vindouros dos clientes. E como não é todos os dias que temos uma pessoa com esse dom à mão de semear não podíamos deixar de lhe colocar uma dúvida existencial que nos atormenta: quem vai ser campeão nacional de futebol este ano? Sportinguista confesso, o Dr. Zan esquiva-se à questão com um drible perfeito: só trata de coisas importantes da vida, de amor, de saúde e de trabalho. Não vai portanto em futebóis. Mas para não nos deixar ir de mãos a abanar, dá-nos um palpite para o Euromilhões, “que vai dar muito dinheiro”. Só não diz é quando. Nessa sexta-feira, dia do palpite, só acertou uma estrela. Fica a boa intenção, até porque não tivemos de pagar os 25 euros da consulta. A organização da primeira Feira Esotérica realizada no pavilhão de exposições da Nersant, em Torres Novas, tinha anunciado cerca de 30 expositores mas o número não passou da dezena. Naquela tarde de sexta-feira pouca gente por ali anda. Ainda são horas de trabalho. A taróloga portuguesa espiritual Gulberga é outra das participantes. O dom é de família e já vem da avó materna, que era cartomante. Para quem tem como missão desvendar os insondáveis desígnios do futuro parece demasiado recatada: não nos diz o nome verdadeiro, onde reside ou de onde é natural. E, mais grave ainda, não nos desvenda quem vai ser campeão, apesar de nos dizer que tem um sobrinho que é um conhecido treinador de futebol. Para variar não nos diz o nome.Quando a confrontamos com a chave do Euromilhões alvitrada pelo seu colega Dr. Zan, ri-se e pergunta em tom gaiteiro: “Então porque é que ele nunca ganha?”. Mesmo assim mostra interesse nos números e até dá um parecer positivo ao palpite, dizendo que a maior parte dos algarismos são afortunados. Pelo sim pelo não, vamos ter isso em conta em futuras apostas. Porque, traduzindo do espanhol, eu não creio em bruxas, mas que as há, lá isso há!E, já que estou com a mão na massa, ofereço-me para uma consulta grátis. Na pequena divisão onde se acumulam imagens, símbolos religiosos e um prato de pipocas para os Orixás, as cartas vão falar sobre mim. Gulberga, taróloga de Alhos Vedros (descobrimos depois no cartão que nos oferece), manda-me sentar, unir os calcanhares, pousar as mãos nos joelhos com as palmas para cima. A posição não é das mais confortáveis para quem tem a obrigação de respirar fundo e concentrar-se. A taróloga vai perguntando alguns dados pessoais acerca de mim ao meu camarada que filma a cena. Para tentar saber antecipadamente o que a casa gasta. O tema que escolho é saúde. Já de olhos abertos vejo Gulberga dizer-me com cara sisuda que tenho de ter cuidado com as “miudezas” e que devo fazer exames regulares. Nada que a minha médica de família não me recomende. Mas a taróloga vai mais longe. Diz que sou forreta, prepotente e que tenho problemas nas articulações, embora eu não os sinta. Será que o baralho está viciado? Talvez para me animar e para se redimir afirma que em breve vou ganhar algum dinheiro de que não estava à espera. Lembro-me então dos números do Euromilhões fornecidos pelo Dr. Zan e ainda hesito se devo ou não ir fazer uma aposta de última hora. Falta pouco para as sete horas. Decido arriscar e deixo os números do Dr. Zan para a semana. E pelos vistos tive sorte. Pelo menos desta vez…Sô Filipe não se importa que lhe chamem bruxoA primeira Feira Esotérica de Torres Novas foi uma iniciativa do português Sô Filipe. Nome de guerra de um homem que se consagrou à promoção da religião afro-brasileira Umbanda e das chamadas ciências ocultas e que não se importa que lhe chamem bruxo. É realmente uma designação mais fácil para o cidadão comum apreender, sobretudo quando se trata de alguém que se apresenta como “Zelador de Orixás da religião Umbanda, filiado na União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil”. No seu site na Internet, Sô Filipe explica: “A Umbanda indica-nos um caminho, para nos ligarmos com as forças divinas. Mostra-nos a necessidade constante de auto-aperfeiçoamento, através da energia dos Orixás e da sabedoria ancestral de diversas entidades”.Escolheu Torres Novas para mais esta acção de divulgação das artes esotéricas porque é uma zona com bons acessos e um bom pavilhão de exposições. É o representante em Portugal das tendas de Candomblé e Umbanda e diz que nasceu com um dom. Estudou várias disciplinas, frequentou cursos, diz. No stand tem uma imagem de Yemanjá, um Orixá feminino e uma das divindades do culto do panteão africano. Faz amarrações de amor e outras proezas que não estão ao alcance de todos.“Nem todas as pessoas nascem com o dom. Tem de se ter conhecimento para se fazer amarrações. Não é para ser manuseado por curiosos porque estamos a mexer com energia emanada do planeta Terra”, explica Sô Filipe, garantindo que não estraga casamentos, porque não acha bem. Não revela os preços que pratica. Nem o apelido. O “psicólogo espiritual” tem consultório em Oeiras. Alto, magro, vestido de preto, bem falante, desmistifica: “Nós não somos uma seita”. Diz que hoje há mais abertura a esse tipo de cultos e vertentes da espiritualidade, depois de muitos séculos de monopólio da Igreja Católica. Ele próprio é baptizado pelo culto católico e defende a tolerância e abertura entre as religiões.

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