António Soares “Cachucho” é um símbolo de Alhandra
Dedicou parte da vida ao associativismo e ao Alhandra Sporting Club
Aos catorze anos era roupeiro do clube de Alhandra e trabalhava de graça. Foi um dos responsáveis pela construção da Piscina Baptista Pereira e considera que hoje o movimento associativo da terra é fraco.
Chama-se António Soares mas é por “Cachucho” - nome que herdou do avô paterno - que todos o conhecem. Nascido e criado em Alhandra, considera-se um filho da terra com mais de trinta anos dedicados ao associativismo e ao Alhandra Sporting Club (ASC).Gostava de ter estudado mais, mas as dificuldades financeiras da família não o permitiram. Ficou-se pela antiga quarta classe. Aos doze anos já era aprendiz de carpinteiro e com catorze foi para roupeiro do Alhandra arranjar as botas e os equipamentos dos jogadores. De graça.Quatro anos depois aceitou o convite feito pelo presidente para ser director e com vinte anos ingressou na Mague (empresa de metalomecânica) onde esteve até 1994, tentando sempre conciliar a vida profissional e familiar com o associativismo. O que nem sempre foi fácil. “Reconheço que deixei a minha família e os meus dois filhos para trás, não lhes dando muitas vezes o apoio que mereciam”, refere emocionado.Mais tarde fez parte da comissão de fundos que juntou 400 contos (2000 euros) para comprar a sede do Alhandra Sporting Cub. No início dos anos oitenta a equipa jogava na segunda divisão nacional e os atletas ganhavam 400 escudos (2 euros) por mês. Os ordenados eram pagos por essa comissão. “Foram anos de sacrifício mas quem corre por gosto não cansa. E eu corria por amor ao Alhandra”, diz António Soares.Com 69 anos, feitos no dia 31 de Dezembro, confessa que, de tudo o que fez até hoje em prol do movimento associativo, a construção da piscina Baptista Pereira foi o que mais o marcou e considera o dia da sua inauguração, um dos mais felizes da sua vida. Foi o fundador de um movimento constituído por pessoas da terra, que durante quinze anos lutaram por esse objectivo. E tudo começou com a venda de rifas. Conseguiram angariar 7.000 contos (35.000 euros) que serviram para pagar o projecto das piscinas. No dia 21 de Setembro de 2003 “Cachucho” via o seu sonho realizado mas hoje sente que o esforço não é reconhecido por alguns conterrâneos. “ Daqueles que queriam a piscina, muitos deles nunca subiram as escadas para irem vê-las. Sinto-me desiludido, porque sempre fiz tudo pela minha terra e merecia mais consideração”, confessa. Na altura em que foi director da secção náutica realizava cruzeiros no rio Tejo que chegaram a contar com cerca de 1000 pessoas e 500 barcos. Jogou hóquei patins, é um amante de columbofilia, organizou convívios, festas, almoços e carnavais e guarda com carinho, tudo o que sai nos jornais sobre Alhandra.Entre os muitos troféus e distinções que foi ganhando ao longo dos anos tem especial orgulho no diploma de sócio de mérito do Alhandra Sporting Club e da Associação de Futebol de Lisboa.Quanto ao movimento associativo em Alhandra considera que está muito fraco e antevê uma situação complicada a curto prazo. “As pessoas não querem ir para as colectividades e a Sociedade Euterpe Alhandrense, uma casa de cultura que só tem feito bem, vai ter dificuldades em arranjar uma nova direcção”, vaticina António Soares.Quando olha para a actual Alhandra congratula-se com o facto de já não se respirar o pó vindo da CIMPOR e com o melhoramento da zona ribeirinha. Por outro lado, defende que faz falta um centro de saúde e crítica os proprietários que não alugam, não vendem nem fazem obras nas muitas casas velhas que existem. António Soares “Cachucho” diz que não vai desistir nem baixar os braços e afirma que vai continuar a fazer tudo o que puder por Alhandra, com muita honra, orgulho e amor pela sua terra. Admirador de Che guevara e amigo de Maria da Luz RosinhaO chapéu com o pin Che Guevara é umas das imagens de marca de António Soares. O herói revolucionário de cuba é o seu grande ídolo. “ Admiro-o e deviam haver mais como ele no mundo”, refere. “Cachucho” conhece a actual Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, desde a altura em que trabalhava na Mague. “ Eu sou comunista, ela é socialista e sabe em quem eu voto mas somos amigos há muitos anos e damo-nos bem. Há quem ache que não lhe devia falar, mas esses são os velhos do Restelo que, para mim não contam”.No seu último aniversário, a 31 de Dezembro, a autarca deu-lhe os parabéns e uma prenda. “ Disse-me que os terrenos para o futuro campo de jogos do Alhandra já tinha sido comprados assim como o edifício onde vai ser a futura sede da secção náutica. O meu segundo sonho está realizado”, diz António Soares com um sorriso aberto.
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