Em busca do sável com os avieiros
Atraso na chegada do peixe não afecta iniciativa
Mês do sável prossegue em Vila Franca de Xira apesar do atraso na chegada do sável a algumas regiões do rio Tejo. O MIRANTE foi à pesca com os avieiros da aldeia de palhota.
O primeiro lance, como lhe chama Maria Lucinda Fernandes, é feito pelas oito da manhã, ainda com nevoeiro a cobrir as águas junto à aldeia de Palhota, concelho do Cartaxo. Os avieiros, descendentes dos primeiros pescadores que migraram de Vieira de Leiria para o Ribatejo, ainda lançam as redes às águas em busca de sável e lampreia, as duas espécies que tradicionalmente mais surgem no Tejo nesta época. “O sável está atrasado. O ano passado, por esta altura, já se apanhavam em quantidade”, relata Maria Lucinda, pescadora e esposa de um avieiro que até há alguns anos dedicou a sua vida às artes da pesca. Com o falecimento do marido, foi o filho, Rui Tomás quem quis recuperar a tradição familiar, trabalhando por turnos na indústria e pescando no tempo restante. “Isto não dá para viver, por isso é que os mais novos procuraram outro rumo”, explica Maria Lucinda. A pescadora rema, como é tradição nos cais de pescadores, enquanto o filho vai estendendo a rede. Desta vez, a rede é própria para a lampreia, porque o sável ainda não abunda e surge em maior quantidade durante a noite. “Mas até podemos encontrar um ou dois, se tivermos sorte”, afiança Rui Tomás. “Antigamente, pescávamos fataça, para vender para ouros países, além do sável e da saboga. Depois a fataça deixou de ser procurada, mas a lampreia, que não existia, passou a aparecer no Tejo”, explica a pescadora. Mãe e filho são os primeiros a sair para o segundo lance do dia e viram a sorte sorrir-lhes. Em vez de sável, são quatro lampreias que caem nas redes dos avieiros. A meio da manhã, o Sol já brilha no concelho do Cartaxo. As lampreias, tal como o sável, vão ser colocados numa saca de rede, presa às varas que os pescadores enterraram previamente no leito do Tejo. O peixe mantém-se vivo durante mais tempo, e há mais exemplares para vender aos intermediários que irão vendê-los aos restaurantes da região. Carolina Cristina também pesca no Tejo com o marido. Natural de Palhota, reside no Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira, depois de cerca de três décadas como imigrante no Luxemburgo. Filha de pescadores, foi à beira-rio que conheceu o marido, José, também pescador, e com ele partiu para o estrangeiro, alguns anos depois. Todos os anos, volta à terá natal para a pesca do sável e da lampreia. “Temos de esperar pelo sável. Agora só há lampreia. O sável que se vende nos restaurantes nesta altura é principalmente de Benavente e do Douro”, nota Carolina Cristina. Os primeiros exemplares capturados naquela zona caíram nas redes da lampreia, e são todos machos. As fêmeas, de que se extraem as ovas para a açorda de sável surgem depois. Os pescadores dizem que os machos são “mais saborosos”. Cada exemplar pode chegar aos dois quilos e meio, o que permite confeccionar vários pratos com o mesmo peixe. Na aldeia de Palhota, para além da pesca, também o turismo atrai visitantes. A localidade serve de sede à associação de defesa do ambiente “Palhota Viva”, que ali tem a sua sede e casa casa-abrigo, tendo desenvolvido, nos últimos anos, um programa de ecoturismo. Nos trilhos demarcados, as bicicletas de todo o terreno, a canoagem, e a observação de aves permitem tornar mais visível uma aldeia em que a tradição piscatória se cruza com o convívio com a natureza.
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