uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Em busca do sável com os avieiros

Em busca do sável com os avieiros

Atraso na chegada do peixe não afecta iniciativa

Mês do sável prossegue em Vila Franca de Xira apesar do atraso na chegada do sável a algumas regiões do rio Tejo. O MIRANTE foi à pesca com os avieiros da aldeia de palhota.

O primeiro lance, como lhe chama Maria Lucinda Fernandes, é feito pelas oito da manhã, ainda com nevoeiro a cobrir as águas junto à aldeia de Palhota, concelho do Cartaxo. Os avieiros, descendentes dos primeiros pescadores que migraram de Vieira de Leiria para o Ribatejo, ainda lançam as redes às águas em busca de sável e lampreia, as duas espécies que tradicionalmente mais surgem no Tejo nesta época. “O sável está atrasado. O ano passado, por esta altura, já se apanhavam em quantidade”, relata Maria Lucinda, pescadora e esposa de um avieiro que até há alguns anos dedicou a sua vida às artes da pesca. Com o falecimento do marido, foi o filho, Rui Tomás quem quis recuperar a tradição familiar, trabalhando por turnos na indústria e pescando no tempo restante. “Isto não dá para viver, por isso é que os mais novos procuraram outro rumo”, explica Maria Lucinda. A pescadora rema, como é tradição nos cais de pescadores, enquanto o filho vai estendendo a rede. Desta vez, a rede é própria para a lampreia, porque o sável ainda não abunda e surge em maior quantidade durante a noite. “Mas até podemos encontrar um ou dois, se tivermos sorte”, afiança Rui Tomás. “Antigamente, pescávamos fataça, para vender para ouros países, além do sável e da saboga. Depois a fataça deixou de ser procurada, mas a lampreia, que não existia, passou a aparecer no Tejo”, explica a pescadora. Mãe e filho são os primeiros a sair para o segundo lance do dia e viram a sorte sorrir-lhes. Em vez de sável, são quatro lampreias que caem nas redes dos avieiros. A meio da manhã, o Sol já brilha no concelho do Cartaxo. As lampreias, tal como o sável, vão ser colocados numa saca de rede, presa às varas que os pescadores enterraram previamente no leito do Tejo. O peixe mantém-se vivo durante mais tempo, e há mais exemplares para vender aos intermediários que irão vendê-los aos restaurantes da região. Carolina Cristina também pesca no Tejo com o marido. Natural de Palhota, reside no Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira, depois de cerca de três décadas como imigrante no Luxemburgo. Filha de pescadores, foi à beira-rio que conheceu o marido, José, também pescador, e com ele partiu para o estrangeiro, alguns anos depois. Todos os anos, volta à terá natal para a pesca do sável e da lampreia. “Temos de esperar pelo sável. Agora só há lampreia. O sável que se vende nos restaurantes nesta altura é principalmente de Benavente e do Douro”, nota Carolina Cristina. Os primeiros exemplares capturados naquela zona caíram nas redes da lampreia, e são todos machos. As fêmeas, de que se extraem as ovas para a açorda de sável surgem depois. Os pescadores dizem que os machos são “mais saborosos”. Cada exemplar pode chegar aos dois quilos e meio, o que permite confeccionar vários pratos com o mesmo peixe. Na aldeia de Palhota, para além da pesca, também o turismo atrai visitantes. A localidade serve de sede à associação de defesa do ambiente “Palhota Viva”, que ali tem a sua sede e casa casa-abrigo, tendo desenvolvido, nos últimos anos, um programa de ecoturismo. Nos trilhos demarcados, as bicicletas de todo o terreno, a canoagem, e a observação de aves permitem tornar mais visível uma aldeia em que a tradição piscatória se cruza com o convívio com a natureza.
Em busca do sável com os avieiros

Mais Notícias

    A carregar...