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Diáfano Manuel Serra d’Aire

Diáfano Manuel Serra d’Aire

É o caos. Estou aterrorizado. É desta que não escapamos. As comemorações nacionais do 10 de Junho vão ser em Santarém e eu, como tenho a mania da perseguição, estou convencido que anda a urdir-se um plano sinistro para nos ferrarem com uma medalhita na lapela pelos relevantes (e indiscutíveis) serviços que temos prestado ao país. É pois hora de pedirmos ao generoso autarca Moita Flores para nos arranjar uma estadiazita em Cuba nessa altura para tratarmos das vistas. Com essa notícia do 10 de Junho quem deve estar a esfregar as mãos de contente é o ex-presidente da Câmara de Santarém José Miguel Noras (também conhecido nalguns meios como Zé das Medalhas), multicomendador e conceituado especialista em medalhística e numismática da nossa praça que vai ter muita matéria-prima para apreciar. Ali vai haver medalhas para todos os gostos. E com um bocado de sorte ainda ganha mais uma para a colecção. Porque, como canta o Rui Veloso na Valsinha das Medalhas, “eu nunca vi Pátria assim, pequena e com tantos peitos”.Outro sério candidato a ganhar uma condecoração é o padre da Charneca da Peralva, aldeia do concelho de Tomar, onde se registou mais um daqueles milagres imperfeitos em que o nosso país é fértil. Como até os mais ímpios sabem, Jesus Cristo transformou água em vinho num dos seus milagres mais aplaudidos (penso que é escusado explicar porquê). O presbítero ribatejano, pelos vistos, quis repetir a façanha, mas ficou a meio do caminho na alquimia etílica. Da água só conseguiu obter lixívia. Mas tão convencido estava dos seus dotes que nem sequer cheirou a “pomada” antes de a ingerir. E ainda por cima numa missa de corpo presente. Conclusão: acabou no hospital com a barriga a arder.É verdade que a versão oficial aponta para uma negligência das zeladoras do templo, que na limpeza das galhetas terão deixado restos de lixívia nos recipientes. Mas eu conheço bem como é a modéstia dos grandes homens. E o mais provável é que o padre esteja a resguardar-se da fama, homem de Deus que é, e neste momento já esteja a preparar-se para apurar os dotes milagreiros. Peço-lhe encarecidamente que continue a tentar e até prometo converter-me se me arranjar um garrafão de cinco litros de uma boa colheita.Rotundo Manel estou farto de ouvir falar da crise, de gente a carpir mágoas, de malta a lamuriar-se neste país que tem um catálogo de pedintes invejável que vai dos banqueiros e dos industriais aos romenos que vendem pensos rápidos. É necessário que os portugueses vejam a coisa pela positiva. Tiveram de hipotecar o carro? Óptimo! Assim já não serão alvo de carjacking. A massa já não chega para a bucha? Bravo! Poupa-se no ginásio e evita-se aquelas voltinhas à noite para abater as banhas. A casa foi levada pelo banco? Façam só as contas ao que vão poupar em condomínio. E além disso, como todos sabem, o ar livre é bem mais saudável. Vamos pois ver as coisas pela positiva e deixar-nos de pieguices.Um sorriso aberto do Manuel Serra d’Aire
Diáfano Manuel Serra d’Aire

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