“Há famílias de Coruche a comer arroz temperado com banha de porco”
Autarca socialista não poupa críticas à câmara e ao Governo do seu partido
O autarca eleito pelo PS criticou a insensibilidade dos eleitos socialistas para os graves problemas sociais que afectam Coruche. O presidente da câmara diz que não dá esmolas e remete para a segurança social.
Foi com um discurso crítico envolto em emoção que o presidente da Junta de Freguesia de Coruche alertou os eleitos da Assembleia Municipal de Coruche para a grave situação social que se vive na freguesia. Com a voz embargada, Jacinto Barbosa (PS) referiu que há fome envergonhada na vila. “Conheço famílias que andam há três meses a comer arroz e massa temperados em banha de porco”, referiu. “Nós cumprimentamos todos os dias essas pessoas, passam à nossa porta e não nos apercebemos das dificuldades por que estão a passar”, adiantou.Jacinto Barbosa, eleito pelo mesmo partido (o PS) que gere a câmara com maioria absoluta, criticou a “cegueira de chegar ao poder e a insensibilidade” de alguns políticos. “Temos de reflectir e ajudar a resolver estes graves problemas sociais da nossa freguesia. O povo apenas serve para o voto, depois é ignorado”, referiu para surpresa da assembleia.O eleito revelou que não recebe um cêntimo da junta e que a verba que seria destinada para lhe pagar foi canalizada para ajudar quem precisa na compra de medicamentos “ou de uma simples garrafa de azeite”.O autarca coruchense apontou o dedo ao governo socialista que “ajuda os banqueiros” e “deixa o povo na miséria”. Jacinto Barbosa criticou ainda a retirada das verbas para pagamento das remunerações dos presidentes de junta do Orçamento de Estado “É uma afronta, senti-me pisado pelo governo no qual votei. Não é no final do campeonato que se mudam as regras”, disse.A “tentativa do governo de calar a voz dos presidentes de junta nas assembleias municipais” com a nova lei também justificou uma crítica dura do autarca. Jacinto Barbosa acrescentou que quando os deputados forem pedir o voto a Coruche vai enfrentá-los e dizer-lhes que não foram sérios. O autarca prometeu apelar ao povo para que “não vote neles”.Jacinto Barbosa não aceita que cortem as verbas à junta de freguesia e lembra que é a autarquia que ajuda na limpeza do posto da GNR local ou na aquisição do combustível para as viaturas da Guarda quando não há dotação para o efeito.Numa reacção à intervenção, o presidente da câmara referiu que as autarquias não têm competências nem meios para substituir a segurança social. Dionísio Mendes (PS) disse que quem precisa de apoio social deve dirigir-se aos serviços da segurança social de Coruche onde existem técnicos preparados para dar ajuda. “Não me peçam para dar donativos. As pessoas não se podem governar com esmolas. Quem precisa hoje, vai continuar a precisar”, disse.Dionísio Mendes referiu que não vai seguir o exemplo de outras câmaras que aprovaram pacotes sociais para ajudar pessoas e empresas em dificuldade porque considera que essa não é a vocação dos municípios.
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